Indústria do aço pede que governo não corte IPI
Instituto pediu que governo reavalie proposta de reduzir imposto para vergalhões de aço; medida deve ser discutida na 4ª
A indústria do aço pediu que o governo desista da ideia de cortar o imposto de importação do aço. A medida é discutida como uma forma de conter a alta de preços da construção civil. Mas, segundo a indústria, não alcançaria esse objetivo.
“Seria uma redução de caráter temporário para uma linha específica: os vergalhões de aço. Mas a expectativa é de que não seja aplicada, uma vez que o que está impactando a inflação não é o aço, são outros itens”, afirmou Marcos Faraco, presidente do conselho diretor do Aço Brasil e também vice-presidente da Gerdau Aços Brasil, Argentina e Uruguai.
Faraco e o presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, se reuniram com o ministro Paulo Guedes (Economia) nesta 3ª feira (10.mai.2022) para discutir a possibilidade de reduzir a tarifa de importação do aço.
Como mostrou o Poder360, o Ministério da Economia deve levar ao Gecex (Comitê de Gestão da Câmara de Comércio Exterior) a proposta de reduzir a tarifa de importação de 11 produtos para tentar conter a alta da inflação. Na lista, o aço e os alimentos da cesta básica. O assunto deve ser debatido pelo Gecex na 4ª feira (11.mai).
Segundo o Aço Brasil, a redução pensada para o aço atingiria só os vergalhões, usados na construção civil. Ou seja, não alcançaria outros produtos, como os laminados de aço.
O instituto disse ainda que o governo avalia reduzir o imposto de importação dos vergalhões de aço de 10,8% para 4% até dezembro de 2022. Isto é, o imposto não seria zerado, como foi feito com o etanol e os alimentos da cesta básica.
Ainda assim, o Aço Brasil pediu que o ministro Paulo Guedes reavalie a questão. Para o instituto, o produto não é o responsável pela alta de preços da construção civil. “O Brasil tem hoje o vergalhão, em dólar, mais barato do mundo”, afirmou Faraco.
PREÇOS
Segundo Faraco, o vergalhão de aço subiu mais de 100% na Europa nos últimos 12 meses. Já no Brasil, subiu 45% e “é competitivo”. Afirmou que “hoje, o único mercado com um incremento inferior ao Brasil é a Rússia, pelas razões especiais que conhecemos” e que a discussão trazida pela redução da alíquota de importação “não faz nenhum sentido”.
O presidente do conselho diretor do Aço Brasil disse ainda que “o ministro se mostrou surpreso” com esses dados do Aço Brasil e “pediu que a equipe reavaliasse as discussões”. Ele falou, então, esperar que o governo “entenda e reverta a orientação” de cortar o imposto de importação dos vergalhões de aço.
A decisão, no entanto, não depende só do Ministério da Economia. O Ministério das Relações Exteriores e a Presidência da República também têm votos no Gecex. O Aço Brasil chegou a ir à Casa Civil nesta 3ª (10.mai), mas Marco Polo disse que a conversa não tratou do imposto.
CONSTRUÇÃO
Para o Aço Brasil, a redução da tarifa de importação do aço atenderia só ao interesse de setores específicos, como os importadores de aço e as empresas de construção civil que atuam no programa Casa Verde e Amarela.
“Levaram ao ministro informações que não procedem, indicando que o setor teria aumentado o preço acima de 100% e a construção civil estaria atravessando grandes dificuldades, que estariam levando inclusive ao desemprego”, afirmou o presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.
A construção, por sua vez, rebateu as críticas do Aço Brasil. A CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) publicou uma nota nesta 3ª feira (10.mai) dizendo que o aço é o produto que mais impactou o custo das obras nos últimos meses.
Segundo estudo da CBIC, o aço representou 59% do aumento do custo de construção de uma ponte no período de julho de 2020 a janeiro de 2022. Já na construção de um bloco de quatro pavimentos sem elevador, a participação foi de 22%. Eis a íntegra do estudo da CBIC.
“O aumento do custo de construção impede hoje o acesso de milhares de famílias à casa própria, a locais de atendimento de saúde, à infraestrutura urbana. Nosso estudo mostrou que em uma habitação, por exemplo, um terço do acréscimo teve um único componente, o aço. Ou damos um choque de oferta ou os brasileiros continuarão com acesso precário a moradias e a tantas outras coisas”, disse o presidente da CBIC, José Carlos Martins, em nota.
A Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) também saiu em defesa do corte do imposto de importação do aço. O presidente da associação, Luiz França, disse que a medida “amplia as possibilidades de compras de materiais para o setor da construção, podendo contribuir para atenuar a subida dos custos”.
O setor da construção civil quer retomar a importação de aço da Turquia. Segundo a CBIC, a importação levou a uma redução dos preços praticados pelas siderúrgicas brasileiras no 2º semestre de 2021. A CBIC diz ainda que, depois disso, o preço do aço voltou a subir.
PODER360