Por que empresas falem? Economista descreve a crise varejista no Brasil
Grandes empresas varejistas brasileiras declararam situações de dificuldade financeiras neste ano. Gigantes como a Americanas entraram em falência ou fizeram demissões massivas. Segundo economistas, são três fatores que trazem dificuldades para o setor varejista no Brasil: a alta taxa de juros do Banco Central, a condição financeira dos consumidores e a mudança no comportamento dos compradores.
Após entrar em recuperação judicial em janeiro deste ano, com dívidas que chegaram a R$ 43 bilhões, a franquia Americanas iniciou, em 21/03, ações de aporte, via emissão de ações, de debêntures ou empréstimo DIP (do inglês debtor-in-possesion financing, ou “financiamento do devedor em posse”), usado apenas em recuperações judiciais. A venda de um avião e um hortifruti também estão inclusas.
Em 2020, a Ricardo Eletro iniciou seu processo de recuperação judicial, ainda em andamento. À época, as dívidas da varejistas somavam cerca de R$ 4 bilhões e a mesma contava com pouco menos de 20 mil credores. Para muitas vendedoras, a expectativa do período de recuperação pode ser igualmente longa.
Em conversa com o Estado de Minas, Wallace Pereira – conselheiro do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG) – explica que “os trabalhadores, quando não têm perspectiva muito clara de manutenção do emprego, reduzem o consumo, o que também prejudica as empresas varejistas”. Além disso, as compras estão ocorrendo mais em ambientes online, favorecendo as companhias internacionais.
Wallace nos conta que a alta taxa de juros impacta na arrecadação das empresas, uma vez que elas necessitam de empréstimos para o investimento em produtos. “As empresas pegam muitos empréstimos, pois o percentual de lucro é menor [do que em outros setores], então precisam comprar em larga escala. Assim você ganha mais descontos.” No Brasil, o valor de juros do crédito está associado com a taxa Selic. O Banco Central, através do portal de estatísticas, disponibiliza as taxas de juros para pessoas físicas e jurídicas.
Para o conselheiro, as medidas imediatas a serem tomadas devem ser o renegociamento de dívidas e políticas de estímulos para desafogar consumidores, como investimento em estruturas para geração de empregos. Com trabalhos formais, as perspectivas para os próximo ano dos consumidores se tornam positivas e há maior possibilidade de compras.
A longo prazo, Wallace considera que medidas são tomadas, mas são necessárias mais ações. O Banco Central começou a diminuir as taxas de créditos, mas os juros aguardam o sinal da diminuição da taxa Selic para seguirem e também caírem. Além disso, Pereira considera que “a estratégia de desenvolvimento será difícil de se planejar. O arcabouço fiscal já está presente, mas precisam de mais projetos para uma perspectiva de investimento.”
Estado de Minas