Maílson da Nóbrega:”A política de controle da inflação não é coerente”
Maílson da Nóbrega vai ser uma das atrações da 15ª Conescap, maior evento do setor de serviços brasileiro que depois de 20 anos retorna ao Rio Grande do Sul. Economista, foi ministro da Fazenda no período 1988/1990, depois de longa carreira no Banco do Brasil e no setor público. Hoje é membro de conselhos de administração de grandes empresas no Brasil e no Exterior, além de consultor e colunista das principais publicações de economia do país. Confira a entrevista abaixo:
15ª CONESCAP – O senhor vai palestrar para uma platéia formada em sua esmagadora maioria por empresários do setor de serviços. Como o senhor analisa o atual cenário desse segmento da economia brasileira e o que podemos projetar para os próximos anos?
MAÍLSON DA NÓBREGA – O setor de serviços já é o mais importante da economia brasileira, respondendo por cerca de dois terços do PIB. É o maior gerador de empregos e tem importância decisiva tanto no campo de serviços pessoais quanto no de serviços a empresas. Neste último campo, seu papel é o de contribuir para que as empresas possam funcionar melhor e serem mais produtivas. A tendência dos próximos anos é de crescimento em ritmo superior ao da expansão da economia, o que significa que aumentará sua participação no PIB. Esta é uma tendência mundial. Nos Estados Unidos, por exemplo, os serviços representam cerca de 80% do PIB.
15ª CONESCAP – A crise externa, de nações originalmente desenvolvidas, está afetando / pode afetar o setor de serviços e economia brasileira de maneira ainda mais ampla? Quais precauções o empresário brasileiro deveria tomar?
MAÍLSON DA NÓBREGA – Dado que o Brasil é hoje mais integrado aos fluxos mundiais de comércio e finanças, sua economia é afetada, positiva ou negativamente, pela situação da economia mundial. Muito dependemos do que acontecer nos principais centros dinâmicos, particularmente os Estados Unidos, a Europa (especialmente a zona do euro) e a China. O efeito da crise afeta todos os setores da economia brasileira, inclusive o de serviços.
15ª CONESCAP – Na sua gestão como ministro, o sr. teve de adotar medidas fortes para conter o ímpeto inflacionário. Após um período de controle, agora fala-se em retorno da inflação com força. Esse risco é eminente? O governo vem adotando estratégias corretas para conter a inflação?
MAÍLSON DA NÓBREGA – Em um governo que dá sinais de tolerância com a inflação, embora o negue, as pressões do sistema de preços têm estado mais fortes nos últimos meses. É o resultado da expansão dos gastos públicos acima do desejável, de uma política monetária pouco comprometida com o alcance da meta de inflação e da desvalorização cambial de 2012. O governo vem recorrendo a medidas que imaginávamos fazer parte de um passado que não voltaria, como o controle de preços (gasolina, tarifas de transportes urbanos, desonerações tributárias tópicas). Não é coerente, portanto, a política de controle da inflação. Felizmente, porém, não há risco de descontrole. A intolerância da sociedade à inflação alta, que é percebida pelo governo, o fará agir se houve risco de perda de controle. Isso porque agora a inflação mina a popularidade do governo e assim suas chances eleitorais. Em algum momento, as medidas corretas, como um aumento maior da taxa de juros e contenção dos gastos serão adotadas.
15ª CONESCAP – Qual será o norte de sua palestra em Gramado? O que podemos adiantar para os cerca de dois mil empresários que virão ao RS?
MAÍLSON DA NÓBREGA – Vou falar sobre as perspectivas da economia brasileira. Para tanto, analisarei três tópicos: a crise mundial, a conjuntura (quando farei críticas à condução da política econômica) e as tendências de longo prazo da economia brasileira. Mostrarei que construímos instituições sólidas que nos livram do populismo permanente. Não há risco de virarmos uma Argentina. O país entrou infelizmente em um período de baixo crescimento, fruto da ausência de reformas nos governos do PT, dos equívocos da política econômica e da crise mundial. Tudo indica que o país vai perder oportunidades nos próximos anos, mas não haverá retrocessos. A democracia está consolidada e a estabilidade econômica, uma conquista da sociedade, não está sob ameaça. Em algum momento, teremos mudanças políticas que nos trarão novos líderes, novas ideias e a renovação das chances de maior crescimento da economia. Dá para continuar otimista com o nosso futuro.