Empreendedores apostam em negócios “de garagem”
Diz a lenda que uma das maiores empresas de tecnologia do mundo nasceu dentro da garagem do dono da ideia, Steve Jobs. No Brasil, o PEGN encontrou empresários que começaram assim e fazem questão de se manter em espaços pequenos.
Em São Paulo, o metro quadrado em algumas regiões custa R$ 11 mil. Como achar um cantinho barato para montar um negócio? Andando por algumas ruas da capital paulista, a cena é a mesma: carro para fora, garagens ocupadas por pequenos negócios. Alguns trocaram as portas das garagens por vidros e fizeram vitrines para atrair os curiosos, como uma fábrica de pães artesanais.
“Essa foi exatamente a ideia, de ser menorzinho mesmo. Porque a gente teria um custo menor para iniciar, a gente menos funcionários para contratar nesse início, a gente tem uma operação menos complexa”, explica a dona da padaria Priscila Imai.
Perto da fábrica, o sebo de livros do Ricardo Lombardi, um jornalista que virou empresário. Mais adiante tem a hamburgueria do Gilson de Almeida. Tudo dentro de garagens. Quando perguntamos se eles querem mudar para um espaço maior, a resposta parece ensaiada.
“Esse espaço tem 18 m². Se eu fosse abrir um de 50, tudo ia aumentar – investimento de reforma, investimento de equipamentos, o capital de giro teria que ser maior e não cabia no meu bolso. E eu também queria um lugar menor para ser mais fácil de administrar”, explica o dono da hamburgueria.
“Eu me considero um micro, microempresário. Eu não quero crescer. As pessoas às vezes perguntam: mas você não quer abrir uma livraria maior? Eu falo que não. Porque eu vou ter o dobro de problemas com uma livraria maior”, completa o dono do sebo.
Custo menor, administração mais simples e até facilidade de estar dentro ou perto de casa são fatores que atraem um investidor a montar um negócio na garagem. Para aproveitar bem o pequeno espaço, tudo tem que ser muito prático.
“Tudo que foi criado dentro da hamburgueria, dentro da loja, foi pensado em cima do formato dela, da metragem dela. Em 18 m² o que cabia?”, diz Gilson.
O primeiro desafio de montar um negócio onde devia haver um carro: aproveitamento de espaço. Armário embaixo do balcão, espaço aéreo todo ocupado. Também dá para esticar um pouquinho o espaço, usando parte da calçada e até da rua, com autorização da prefeitura. Mas claro que tem um limite e essa é uma das características dos negócios de garagem: não dá para crescer muito, para não perder a identidade e o charme.
Aí vem a criatividade. Para ampliar o negócio, Gilson abriu outro restaurante, na mesma rua. Ele não revela quanto fatura. “Não dá para a gente ampliar pelo espaço físico, mas dá para ampliar por outras unidades, virando uma rede, que é a nossa ideia”.
A Priscila ocupa duas garagens vizinhas. Numa fica a fábrica e na outra a lojinha onde vende os pães. “A ideia é realmente a pessoa pegar e levar tudo para viagem. Todos os pães são embalados e a pessoa leva pra casa, pra consumir em casa”.
O Ricardo ocupa a frente da garagem. Criou moveis de rodinha para facilitar o entra e sai, principalmente em dias de chuva. Dentro da garagem mesmo cabem 3.500 livros. “Isso aqui virou uma espécie de show room do meu acervo”. Como a garagem está lotada, ele alugou uma vaga no prédio do lado, pôs o carro e encheu de livro até o teto.
A cidade de São Paulo não tem uma legislação específica sobre comércio dentro de garagens. É preciso respeitar a lei do zoneamento. A região que o PEGN visitou, conhecida como os predinhos de Pinheiros, está numa zona mista, que permite comércio e residências. Os imóveis foram erguidos na década de 50 e este ano tombados pelo patrimônio histórico.
As garagens da padaria e da lanchonete são alugadas. A do sebo não, é do apartamento da mãe do Ricardo.
Fonte: PEGN