Ressaca e expectativa
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, tem poder suficiente para imprimir nova orientação à curva de juros ou deixar tudo como está. Sua participação em audiência pública na Comissão Mista do Orçamento, na Câmara dos Deputados, acontece neste início de tarde. Por ora, está claro que por vontade própria o mercado de juros mal se move. Em parte, porque as taxas embutidas nos contratos de Depósitos Interfinanceiros DI negociadas na BM&FBovespa tiveram firme alta por três dias seguidos e agora padecem de uma ressaca danada; em parte o mercado acusa lentidão porque prevalece um misto de expectativa e torcida para que Tombini dê corda à expectativa de aceleração do ritmo de alta da taxa Selic na próxima reunião do Copom, na semana que vem. Não há certeza de que o presidente do BC seguirá nesta direção. A expectativa de ajuste mais forte da taxa básica brotou na semana passada, a partir da interpretação de declarações feitas pelo próprio presidente do BC, em tom mais duro contra a inflação durante o seminário de metas para inflação, no Rio.
Esses fatores locais ajudam a travar os negócios no mercado futuro de juros, onde bancos e grandes investidores estão sustentando apostas elevadas e arriscadas. Mas é inegável que a crescente expectativa do mercado doméstico e internacional com o pronunciamento do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, previsto para amanhã colabora para a retração dos negócios. Analistas entendem que pode estar em jogo uma decisão ou forte sinalização sobre a continuação ou mudança na dosagem das compras de ativos – instrumento usado pelo banco central americano para estimular a atividade. Alterações nesse programa afetarão de alguma maneira a liquidez dos mercados e terão impacto no comportamento da economia americana e na inflação. No tempo, os juros americanos tendem a ser afetados. De pronto, porém, Bernanke pode trazer intensa volatilidade aos mercados. E, nesse caso, melhor cruzar os braços.
Angela Bittencourt, editora especializada na cobertura de economia e finanças, em Valor Econômico