Proteção contra a inflação
Preservar o poder de compra das aplicações passou a ser um problema para os investidores. No mercado financeiro de hoje, não existem mais as tradicionais opções do passado, que garantiam correção automática dos investimentos de acordo com a variação dos índices de preço.
Atualmente as aplicações indexadas à inflação envolvem a necessidade de administração de uma série de riscos. Se forem mal avaliados, podem eliminar os ganhos do investimento. Saber identificar os perigos das alternativas e antecipar os efeitos colaterais em diversos cenários é fundamental para evitar perdas.
Mesmo as Notas do Tesouro Nacional da série B (NTNs-B), corrigidas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e reconhecidas como o porto seguro para enfrentar momentos de incertezas, podem esconder riscos elevados. Conforme o prazo de vencimento do título, a oscilação do valor de mercado do papel pode ser intolerável para alguns tipos de investidores.
A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) calcula e divulga os Índices do Mercado da Anbima (IMA). O IMA-B, especificamente, mede o desempenho das NTNs-B, sendo que o IMA-B5+ acompanha os títulos com prazo de resgate acima de cinco anos e o IMA-B5 retrata o comportamento dos títulos com vencimento em até cinco anos.
O gráfico abaixo mostra o comportamento de uma aplicação hipotética de R$ 100 feita no dia 30 de dezembro de 2012. A linha azul retrata o investimento corrigido pelo IMA-B5+; a linha laranja reflete a evolução da aplicação corrigida pelo IMA-B5; e a linha verde mostra a evolução da aplicação atualizada pelo IPCA.
Ao longo de todo o período, o montante do investimento corrigido pelo IMA-B5+ ficou sempre acima dos demais indexadores. No entanto, a oscilação do valor de mercado da aplicação foi muito alta.
No dia 23 de outubro de 2012, por exemplo, o investimento corrigido pelo IMA-B5+ valia R$ 131,25. O valor da aplicação atualizada pelo IMA-B5 era de R$ 114,11. E o montante corrigido pelo IPCA era de R$ 104,22.
Aproximadamente sete meses depois, no dia 12 de junho, o valor do investimento corrigido pelo IMA-B5+ caiu para R$ 116,31. Foi uma queda de mais de 10% no período. A aplicação no IMA-B5 ficou praticamente estável e o investimento corrigido pela inflação subiu 5%.
Considerando a desvalorização da aplicação e o custo de oportunidade de não ter conseguido a correção pelo IPCA, o investidor que aplicou em NTNs-B de longo prazo com a expectativa de preservar o valor do investimento contra os efeitos da inflação amargou uma perda de 15% no período.
Eventualmente, se as condições de mercado mudarem, o valor de negociação dos títulos de longo prazo pode voltar a subir. No entanto, é fundamental que o investidor tenha a capacidade financeira para esperar o tempo necessário para recuperar os prejuízos.
Conciliar as estratégias financeiras com a tolerância a perdas é importante para conseguir atingir os objetivos do investimento.
Marcelo d’Agosto – Economista, com mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro, é especializado em administração de investimentos, para o Valor Econômico