Inovações tecnológicas chegam às PMEs
O “imperativo tecnológico” – perspectiva que vê a tecnologia como força externa determinante ou fortemente indutiva das estruturas e comportamentos de organizações – acompanha os diversos tipos de negócio. O imperativo não é mais exclusividade das grandes organizações, as pequenas e médias empresas (PMEs) também estão inseridas nesse processo.
Em função da falta de política estratégica para pequenos e médios negócios, o segmento ficou, por um momento, parado no tempo em relação aos avanços tecnológicos. Mas, o governo identificou a importância desse segmento para a economia brasileira e implementou políticas de incentivos para possibilitar que os empresários dessas empresas acompanhem as inovações.
O boom de faturamento das PMEs entre 2009 e 2010 despertou quem ainda não tinha acordado para a importância vital do segmento no país. Para se ter uma ideia, no primeiro semestre de 2010, a receita do setor teve aumento de 10,7% comparado ao mesmo período de 2009. Essa é a maior taxa de crescimento de faturamento desde que o Sebrae iniciou a pesquisa, em 1998. Essa e outras provas de potencial das PMEs fizeram os governantes entenderem a importância desse segmento, não apenas como gerador de empregos, mas como fermento no crescimento da receita nacional. Foi diante disso, que o governo resolveu adotar políticas diferenciadas, criando programas de incentivos para atender a crescente demanda de investimentos por parte dessas empresas. Esse impulso por parte do governo não é particularidade brasileira.
O mundo capitalista sobrevive de pequenos e médios negócios, inclusive nos continentes desenvolvidos como Estados Unidos e Europa, onde o governo também mantém políticas de incentivos fiscais e avanço tecnológico. Um grande impulso do governo federal para as PMEs foi o programa Sebraetec, por meio do qual foram investidos, em 2013, cerca de um milhão de reais para, entre outros, preparar os empreendedores para a era digital.
Agora, as discussões se voltam para o eSocial, que vai unificar eletronicamente o envio de informações de tributos, previdência e trabalho, que as empresas enviam ao governo. Além de inibir a informalidade, o projeto assegura a legalidade na relação entre empregado e empregador e facilita o controle do governo em relação ao que está acontecendo de fato. Devido à sua complexidade, a obrigatoriedade do eSocial já foi adiada por cinco vezes.
As novas configurações de dados compreendem 44 arquivos com um total de 1.682 campos a serem preenchidos, em um curto espaço de tempo, exigindo significativa adaptação e eficiência dos sistemas operacionais para atender às novas regras considerando que outras obrigações referentes ao Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) estão em curso.
Apesar de inicialmente gerar muito trabalho para as empresas, o projeto trará boas mudanças. De acordo com pesquisa do Grupo Employer, o maior esforço para a implantação do eSocial será do departamento de recursos humanos, que terá a responsabilidade de 53% do trabalho. Em segundo lugar, aparece o financeiro, responsável por 19% dos investimentos. Seguidos desses departamentos, estão o cadastro, com 9%, a contabilidade com 8% – que já está adaptada à constante inovação tecnológica -, a medicina do trabalho com 6% e o jurídico com 5%.
Visto com desconfiança por parte de alguns empresários e contabilistas, acredito que o eSocial e outras tecnologias têm a função de proporcionar maior domínio dos processos e gerar controle dentro da corporação, impulsionando a gestão por processo.
Além do olhar atento do governo, as pequenas e médias têm ganhado também maior interesse e investimento de empresários, que apesar de, desde sempre entenderem a importância do segmento, têm enxergado melhor seu potencial. Com a abertura e crescimento do mercado, a busca pela melhoria na qualidade de prestação de serviços, com o domínio de novas tecnologias acessíveis e de relativo baixo custo, a ideia de crescimento nos negócios se torna muito mais real e tangível.
Hoje, bem assessorado e com bom controle interno, o pequeno empresário tem potencial até para exportar. As empresas têm aprendido a medir melhor os riscos das iniciativas tecnológicas e entendido que, para crescer com sustentabilidade, tem que arriscar sabendo medir o tamanho do risco, que quem não investe no aprimoramento tecnológico, aliado a qualidade do produto, está realmente ficando fora do mercado. As boas perspectivas para as pequenas e médias empresas estão diretamente ligadas à formalização legal e processual das empresas. Apesar desse avanço, o grau de risco se mantém nas pequenas e parte de médias empresas que por vezes não possuem estrutura interna de apoio, como setor de recursos humanos, financeiro e onde a contabilidade é terceirizada.
De uns anos para cá, estamos bem mais informados em relação às vantagens e potencialidades da formalização dos pequenos negócios, que pode viabilizar acesso a créditos e outros benefícios.
Importantes medidas foram anunciadas pelo governo em junho passado para estimular o mercado de capitais brasileiro e dentre as principais está uma série de incentivos para a abertura de capital de pequenas e médias empresas. Uma delas é a isenção do imposto de renda para o investidor pessoa física sobre lucros auferidos nas negociações de ações de PMEs. Ou seja, é mais um passo para colocar de vez este segmento no caminho da tecnologia e da competitividade.
José Athadeu – Coordenador do curso de contabilidade da Faceb/Unipac