Inflação, vilã das companhias?
Os 23 executivos premiados na 13ª edição do evento “Executivo de Valor” elegeram a inflação como a maior preocupação entre seis itens – os demais são o câmbio, a mão de obra, a inadimplência, o custo do crédito e a demanda. Esta constatação é curiosa, pois nos últimos três anos a maioria das empresas brasileiras têm conseguido apresentar crescimento da receita acima da inflação.
Warren Buffet, o cultuado investidor americano, disse uma vez que a inflação é danosa para todos os investimentos, sendo a aplicação em ações a que menos sofre, pois as companhias podem repassar a elevação de seus custos para o preço de seus produtos. Como a inflação medida pelo IPCA tem se mantido acima da meta oficial de 4,5% nos últimos três anos, vale a pergunta: as companhias brasileiras têm conseguido apresentar crescimento da receita acima da inflação, reajustando o preço de seus produtos e/ou aumentando o volume vendido?
A maioria das companhias que compõe o IBrX tem atingido este objetivo. Das 101 empresas do índice exclui 33 – as do setor bancário e serviços financeiros, as incorporadoras, as holdings como Itaúsa e Bradespar e as empresas em estágio pré-operacional como as de Eike Batista. Das 68 restantes, apenas seis não apresentaram crescimento da receita superior à inflação nos últimos três anos: Eletropaulo (ELPL4), Fibria (FIBR3), Copasa (CSMG3), Embraer (EMBR3), Usiminas (USIM3 e USIM5) e Souza Cruz (CRUZ3). Se considerarmos apenas o ano de 2012, o número de empresas, cujas receitas perderam da inflação não foi muito diferente, sete: Vale (VALE5), Fibria, Eletropaulo, Dasa (DASA3), Random (RAPT4), Transmissão Paulista (TRPL4) e CSN (CSNA3).
É verdade que muitas empresas apresentaram incremento agressivo do faturamento no período devido a aquisições ou reestruturações societárias relevantes o que distorce os resultados como, por exemplo, JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3), Cosan (CSAN3), Pão de Açúcar (PCAR4), Telefônica (VIVT4) e outras.
No último triênio, as empresas que apresentaram maior crescimento real do faturamento (descontado o IPCA do período) de forma orgânica ou com aquisições menores foram Mills (MILS3), Hering (HGTX3), Marcopolo (POMO4), Vale (VALE5), BRF (BRFS3) e Localiza (RENT3). Crescimento médio anual significativo de dois dígitos. Cabe uma ressalva: Vale aparece na lista porque seu faturamento teve forte queda entre 2008 e 2009 em decorrência da crise internacional o que reduziu a base inicial de comparação.
Uma curiosidade é que as ações de Petrobras têm ido mal nos últimos anos devido ao aumento dos custos e não por causa da evolução do faturamento que cresceu honestos 8,8% anuais em termos reais.
Cabe ressaltar que a inflação de custos das empresas não necessariamente é fiel àquela medida pelo IPCA (na realidade raramente é). Assim apesar do crescimento do faturamento superior à inflação oficial, as margens podem encolher.
Em regra, as empresas têm conseguido repassar a inflação aos seus preços e/ou aumentado a quantidade vendida nos últimos anos apesar do crescimento modesto da economia no período. Há incertezas sobre o nível da atividade econômica em 2013. Uns falam em 3%, outros em 3,5%, mas de qualquer forma números superiores aos dos últimos dois exercícios. Será que em um ano mais generoso, a maior parte das companhias não conseguirá mais uma vez apresentar crescimento da receita superior à inflação? A conferir.
André Rocha é analista credenciado pela Apimec e atua há 20 anos como especialista na avaliação de companhias listadas na bolsa, para Valor Econômico