Em busca da produtividade
Um estudo recente da Oxford Economics alerta que o Brasil corre o risco de envelhecer antes de se tornar rico. Segundo a pesquisa, mesmo considerando o bom andamento das reformas, no momento em que a redução do endividamento do setor público tiver terminado o País começará a sentir o peso do envelhecimento da população. A única possibilidade de reverter este cenário fatalista seria um “surto sem precedentes” de produtividade. A Fronteira de Possibilidades de Produção (PPF, na sigla em inglês), que mede a eficiência com que capital e trabalho se convertem em produção, precisaria crescer 2% ao ano a partir de 2030, média mais alta que a de economias desenvolvidas.
A fim de enfrentar este desafio, o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), adicionou aos seus indicadores um Observatório da Produtividade, que reunirá estatísticas, estudos e um Indicador Trimestral de Produtividade. A ferramenta foi lançada durante o 1.º Seminário Produtividade e Reformas, realizado em parceria com o Estado.
Os dados recentes são desanimadores. No terceiro trimestre de 2019, apesar de uma leve recuperação do nível de atividade econômica, a produtividade por hora trabalhada caiu 0,7% em comparação com o terceiro trimestre de 2018. Segundo o Ibre, “o processo de deterioração observado no desempenho da produtividade ao longo dos últimos anos se espalhou por vários setores da economia”. Dentre eles, os maiores responsáveis pela queda foram a indústria de transformação e, sobretudo, o setor de serviços, que concentra 71% das horas trabalhadas no País.
Após um pequeno aumento de 0,2% no segundo trimestre, a produtividade da indústria apresentou uma forte retração de 2,3% no terceiro trimestre. O resultado só não foi pior por causa da recuperação da construção, que cresceu 3,7%. O setor de serviços, por sua vez, acumula o vigésimo segundo trimestre consecutivo de queda da produtividade. No último, caiu mais 1,3%.
Ante este cenário, um dos temas debatidos no seminário foi a abertura comercial. Como ressaltou o pesquisador do Ibre Fernando Veloso, ela é importante para aumentar a produtividade. Não à toa as únicas empresas que costumam ser contra são as menos capazes de ampliar sua atividade.
Entre as reformas estruturantes, deu-se especial atenção à modernização tributária. De acordo com o Banco Mundial, o Brasil é o país com o maior custo burocrático para pagar impostos no mundo. Além disso, como destacou o diretor do Centro de Cidadania Fiscal, Bernard Appy, há distorções que prejudicam os investimentos, como a incidência cumulativa de tributos indiretos, ou seja, impostos pagos no meio da cadeia que não são recuperados, onerando o bem de capital. Ou então as disparidades excessivas de alíquota, pelas quais o crescimento de uma empresa acaba muitas vezes levando a aumentos desproporcionais na tributação, o que cria um desestímulo à expansão.
Segundo Appy, há ainda as distorções provocadas pelas más alocações de recursos, possivelmente o fator que mais afeta a produtividade. Como ele detalhou em entrevista recente à revista Conjuntura Econômica, do Ibre, as distorções alocativas ocorrem quando se aumenta o custo econômico da produção, ou seja o custo do trabalho e do capital, em função de mudanças na tributação. “Quando uma empresa vai montar um centro de distribuição de um bem de consumo aqui no Brasil, ela quase sempre monta sua operação em função de benefícios tributários, e não do custo logístico”, exemplifica ele. “Do ponto de vista da produtividade do País é completamente irracional, pois se está usando mais caminhões, combustível e estradas para levar a mesma mercadoria para o mesmo consumidor final.”
Questões como essas devem estar na pauta de discussões públicas no próximo semestre. Sejam quais forem as soluções, o fato é que, como disse Appy, “não adianta ajustar as contas públicas sem mexer na produtividade”.
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo