Custo de oportunidade
O Tesouro Nacional demonstrou, nesta quinta-feira, estar disposto a segurar o tranco e não entregar aos compradores finais de títulos públicos federais prêmios além da conta. Sábia decisão. Se o Tesouro der moleza, entregará os dedos e os anéis, porque a pressão por mais taxa de juro tende a aumentar se o mercado suspeitar que especialmente o Banco Central (BC) pode ser refém da excessiva disponibilidade de moeda a ser incorporada rapidamente à economia. E se não for aprisionada é capaz de gerar desequilíbrio na estrutura das taxas de juros em suas várias aplicações. De ontem para hoje, bancos teriam utilizado um expediente corriqueiro e até previsível para ganhar algo mais que zero. Enquanto especialistas esperavam o vencimento de aproximadamente R$ 340 bilhões de aplicações temporárias de papéis públicos da carteira do BC (operações compromissadas), o montante de recursos que chegou ao mercado foi muito maior, quase R$ 400 bilhões.
O dinheiro não brotou do chão nem tomou fermento. O volume de recursos disponíveis cresceu devido a saques feitos por alguns bancos em depósitos compulsórios mantidos no BC. Os compulsórios podem ser movimentados periodicamente porque o cálculo do recolhimento devido é feito em média móvel – permite saques e depósitos dos recursos, desde que, em determinada data, o recolhimento exigido pelo BC (seja sobre depósito à vista ou depósito a prazo) seja cumprido. Alguns bancos teriam guardado recursos na forma de depósitos compulsórios ontem e sacados hoje de manhã para aplicação (a uma Selic 0,50 ponto maior) em papéis federais da carteira do próprio BC.
O BC enxugou o mercado monetário que recebe de volta amanhã cedo cerca de R$ 100 bilhões aplicados em operações compromissadas por um único dia. O Tesouro Nacional, por sua vez, no leilão de três vencimentos de LTN realizado hoje, não vendeu integralmente a oferta de 4,5 milhões de títulos, mas cerca de 70%, embolsando R$ 2,4 bilhões. E também pagou taxas menores – entre 8,04% e 10,17% comparadas ao intervalo de 9,57% a 10,89% há uma semana.
Na prática, o Tesouro promoveu o rebalanceamento das taxas de rentabilidade das LTNs semelhante ao observado no mercado futuro de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), negociado na BM&FBovespa. Os ajustes foram consequência do aumento da taxa Selic para 8,50% decidido na véspera pelo Copom. Com o leilão desta quinta-feira, o Tesouro colocou em circulação no mercado financeiro, neste mês, R$ 7 bilhões em LTN e NTN-F. Uma fração, portanto, do resgate de quase R$ 70 bilhões de LTN que ocorreu no dia 1º de julho.
Angela Bittencourt – Repórter e editora especializada na cobertura de economia e finanças para o Valor Econômico