A única opção para o Brasil crescer
Ao longo dos últimos 50 anos, o mundo surfou a onda de uma explosão populacional. Sozinho, esse bônus demográfico contribuiu com mais da metade do crescimento econômico global médio, de 3,5% ao ano, no período que possivelmente é o de maior expansão da história da humanidade.
Essa onda, porém, está chegando a seu fim. A taxa de natalidade está em queda em todo o mundo, e a população está envelhecendo. A partir de agora, as taxas de crescimento dos últimos 50 anos serão a exceção e não a regra.
O efeito disso será dramático. Estudo do McKinsey Global Institute mostra que, caso não haja um significativo aumento na produtividade dos trabalhadores para compensar o fim do bônus demográfico, o ritmo de crescimento econômico global médio pode cair em 40% nos próximos 50 anos.
No Brasil a situação é ainda mais delicada. Em 1964, a produtividade do trabalhador brasileiro equivalia a apenas 20% da apresentada pelo trabalhador médio dos EUA. Nos 50 anos até 2014, a produtividade dos brasileiros dobrou mas a dos americanos também. Em termos relativos a diferença continuou a mesma.
Na China, a evolução foi bem diferente. Em 1964, a produtividade do trabalhador chinês equivalia a apenas 2% da apresentada por um americano. De lá para cá, a produtividade chinesa cresceu 20 vezes e, hoje, equivale à do trabalhador brasileiro.
Como resultado, o PIB per capita chinês, que em 1964 correspondia a apenas 10% do brasileiro, hoje é equivalente ao do Brasil. Ou seja, em poder de compra, o trabalhador brasileiro, que era 10 vezes mais rico que o chinês há 50 anos, hoje tem a mesma renda que seu colega asiático.
É evidente que não crescemos o que poderíamos e que deveríamos.
Olhando para a frente, o cenário para o Brasil não é nada confortável. A taxa de crescimento brasileira, já extremamente combalida, é uma das que corre mais risco entre todas as nações do mundo.
Caso o ritmo de aumento da produtividade do trabalhador no país se mantiver no mesmo patamar dos últimos 50 anos, a taxa de crescimento médio do nosso PIB no próximo meio século cairá 60%. Se o mesmo acontecer nos EUA, China e Índia, o ritmo de expansão de suas economias cairia apenas 30%. Na Nigéria, a taxa aumentaria.
O Brasil tem duas opções: elevar a produtividade de seus trabalhadores de forma significativa, ou crescer ainda mais lentamente nos próximos 50 anos, se tornando um país pobre e de velhos. A primeira é, claramente, a única opção. O caminho é atacar de frente os principais obstáculos à produtividade e superálos.
Hoje, por exemplo, mais de dois terços das vagas de emprego disponíveis no mercado não são preenchidas por que não há trabalhadores qualificados o suficiente para preenchelas. Esse é o segundo pior resultado nos países onde avaliamos a relação vagas/qualificação. Não há como elevar o ritmo da produtividade sem se debruçar sobre a questão da educação para o trabalho. Iniciativas pontuais são bemvindas, mas uma política clara para atingir esse objetivo é o que mais precisamos.
No Brasil, há o agravante de a informalidade ainda ser muito elevada, apesar dos avanços dos últimos anos. Seu efeito nocivo se dá em vários níveis. Reduz a arrecadação do governo, que é obrigado a manter alta a carga tributária para se financiar. Prejudica também e principalmente as próprias empresas formais, que não investem em capacitação para aumentar a produtividade, que elevaria seu custo e as impediria de competir com as informais. Reduzir a informalidade é vital para garantir um ambiente competitivo justo, que beneficie a inovação e a produtividade, e por si só, serve de combate à própria informalização do trabalho.
Catalisador para aumento na produtividade, a meritocracia infelizmente não se difunde de forma eficaz, culpa do nosso próprio ranço cultural. Normalmente, quem tem sucesso é visto com desconfiança, não como exemplo. No limite, isso impede que a cultura de recompensa ao mérito ganhe tração.
O próprio “jeitinho” brasileiro joga contra. As formas criativas que o brasileiro tem de driblar a pesada burocracia e o cipoal tributário em vigor o impedem de tratar o assunto de forma adequada e realmente pressionar e buscar alternativas mais racionais e menos restritivas.
Dentro das próprias empresas, particularmente médias e pequenas, há muito trabalho a ser feito. Elas representam uma fatia enorme da economia, mas não têm acesso às melhores práticas de gestão e acabam utilizando métodos inadequados para produção, controle de estoques e vendas. O mesmo é verdade em relação ao acesso a novas tecnologias e ferramentas digitais avançadas, como “big data”, “advanced analytics” e “machine learning”, que nem mesmo estão na pauta de discussão. Tudo isso se transforma em peso morto, em lastro, na corrida das empresas brasileiras por maior competitividade.
Os desafios também são estruturais. A infraestrutura brasileira continua sendo um dos principais obstáculos à produtividade brasileira. Nosso estoque de infraestrutura está abaixo de 50% do PIB, contra média acima de 70% do PIB no restante do mundo. Não adianta produzir soja eficientemente em Mato Grosso se toda a vantagem competitiva se perde no caminho, em péssimas e caras estradas e portos superlotados.
Incertezas regulatórias e elevada carga tributária também têm sério efeito negativo sobre a produtividade. Qualquer avanço na eficiência do trabalhador, em última instância, pode ser zerado por esses fatores. Daí a importância em desatar esses nós para permitir que o país busque seu real potencial.
O diagnóstico e os caminhos são claros. Não existem balas de prata ou atalhos. O jeitinho brasileiro é mais uma desvantagem do que uma vantagem.
A única forma de crescer, gerar riqueza e fazer deste um país ainda melhor para nossos filhos é aumentando a produtividade de nossos trabalhadores. Para isso, são necessárias reformas e mudanças de cultura e orientação muitas vezes profundas. Ignorálas é jogar fora o futuro do país. Realmente, só há uma única opção.
Nicola Calicchio é diretor presidente da McKinsey na América Latina.
Concordo em parte com o Sr Nicola Calicchio, pois nada adianta, como o Senhor mesmo disse : “se não houver progresso na evolução da educação, se temos uma carga tributária altíssima, e se os brasileiros sempre tem um “jeitinho” de driblar”. O que adianta se concertamos esses tópicos apontados, se não tivermos pessoas capacitadas para governar o país com seriedade e nada de roubalheiras. Pois se o dinheiro não for bem empregado meu caro, vamos morrer de trabalhar……… nada será resolvido.