Uso de moeda local no comércio exterior beneficia PMEs
Perda de acesso ao adiantamento sobre contrato de câmbio inibe interesse de grandes empresas.
Implantado em 2008 no comércio bilateral entre Brasil e Argentina, o sistema de pagamentos em moeda local (SML) deve ser adotado em breve também nos negócios com Uruguai. O projeto, que tramita na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), tem como objetivo alavancar as transações comerciais entre os dois países, reduzindo os custos dos contratos. Entretanto, especialistas avaliam que esse sistema deve atrair mais as pequenas e médias empresas do que as grandes — que são responsáveis pela pauta dos principais produtos exportados (veja quadro abaixo). O SML permite que o comércio de produtos seja feito em moedas vigentes dos países, sem a necessidade de sua troca pelo dólar.
“Depois de quatro anos em vigor, o comércio entre Brasil e Argentina por meio desse sistema representa apenas 3% das transações comerciais”, revela José Augusto de Castro, ponderando ser este um termômetro para as trocas com o Uruguai. O especialista explica que isso acontece porque ao aderir a essa modalidade as empresas deixam de ter acesso ao adiantamento sobre contrato de câmbio (ACC) — operação que antecipa o recebimento dos valores do contrato, que é utilizado principalmente como capital de giro. “Tirar o ACC é o mesmo que eliminar recursos financeiros.
A partir desse momento, as grandes empresas têm de se financiar com recursos próprios. Liquidez que muitas vezes não existe”, explica Castro. Alberto Alzueta, presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira, conta ainda que há falta de interesse das instituições financeiras em fazer esse tipo de operação, já que a não transação em dólar oferece menos rentabilidade ao banco. Contudo, o governo brasileiro vem argumentando que o sistema tem aumentado o nível de participação de pequenos e médios exportadores e importadores de ambos os países, o que para José Augusto de Castro, da AEB, faz sentido. “O SML pode ter uma apelo maior entre as pequenas e médias empresas. Como elas têm dificuldade de acesso ao mercado externo, essa medida passa a ser um facilitador para a exportação de seus produtos, principalmente alimentos, móveis e calçados”, explica.
O vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Uruguai, Williams Gonçalves, é da mesma opinião de Castro, mas observa que a participação pequena das PMEs no comércio com o Uruguai ainda é pequena. “As pequenas empresas não têm essa cultura. Isso é algo que precisa ser mudado e só será possível com mais informações sobre o SML e comércio exterior. Falta divulgação sobre o tema”, reclama. Em 2012, Brasil exportou para o Uruguai US$ 2,18 bilhões (veja mais na arte abaixo). Apesar da falta de conhecimento que as PMEs têm sobre o tema, Gonçalves se mostra muito entusiasmado com a possibilidade de o SML ser contemplado nas transações comerciais entre os dois países. De acordo com ele, o Brasil pode ser muito beneficiado com aquisição de produtos uruguaios, como alimentos e principalmente insumos para a indústria naval. “A produção dos estaleiros brasileiros está aquecida e sem condições de ser suprida pela oferta nacional. Diante desse cenário, o Uruguai é certamente um parceiro complementar a cadeia produtiva brasileira”, argumenta.
Já a especialista em comércio exterior da FGV Lia Valls, argumenta que a viabilidade deste sistema depende da confiança dos agentes do mercado nas moedas em que estão transacionando seus produtos. “É um meio que exige confiança mútua”, finaliza.
* Brasil Econômico