Taxa Selic tem forte influência no bolso, mas é quase desconhecida para o cidadão comum
Banco Central decide hoje taxa, que é referência para todos os juros cobrados no país
Desde ontem reunido, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decide nesta quarta-feira (1º) o rumo da taxa Selic, hoje em 10,75% ao ano. A Selic influencia a vida de todo brasileiro, uma vez que é a taxa de juros básica do país; mesmo assim, é um ilustre desconhecida do grande público.
O camelô Adalmir Ribeiro, 40, que tem um quiosque ao lado do BC (região central de Brasília), diz que até já ouviu falar, mas admite que fica “perdido”.
– Estou perdido. Falta informação. Se houvesse informação, todo mundo iria ver e saberia o que significa. Para todo lado, você vê uma taxa diferente, vê juros aumentando.
A funcionária de serviços gerais Laurita Mendes, 46, também de Brasília, nunca ouviu falar da Selic “nem na televisão”, e o designer gráfico Anderson de Araújo, 41, não sabe nem o que ela significa.
A Selic é chamada de taxa básica porque é a mais baixa da economia. Ela é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que os bancos fazem em títulos públicos federais. A taxa funciona ainda como um piso para a formação dos demais juros cobrados no mercado para financiamentos e empréstimos – que são influenciados também por outros fatores, como o risco de que quem pegou o dinheiro emprestado não pague a dívida.
É a partir da Selic que as instituições financeiras definem também quanto vão pagar de juros nas aplicações dos seus clientes. Ou seja, a taxa básica é o que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo para empresas ou consumidores em forma de empréstimos ou financiamentos, a um custo muito mais alto. Por isso os juros que os bancos cobram dos clientes é superior à Selic.
Controle da inflação
O professor de economia da UnB (Universidade de Brasília) Newton Marques explica que a Selic é um instrumento para controlar a inflação. Em uma economia aquecida, os consumidores têm dinheiro para gastar; desse modo a procura por bens e serviços aumenta, e a oferta se torna insuficiente para atender todo mundo. Assim, os preços dos bens e serviços disponíveis tendem a aumentar, o que significa inflação.
O Copom, então, eleva os juros; dessa forma os empréstimos e financiamentos se tornam mais caros, e isso funciona como um desestímulo a tomar crédito. Com consumidores e empresas freando gastos e investimentos, a pressão sobre bens e serviços diminui porque a procura cai. Com isso, os preços tendem a recuar, e a inflação perde fôlego.
O comitê também pode reduzir a taxa: se perceber que o nível de gastos do consumidor e de investimentos de empresas está muito baixo, a Selic pode cair para baratear o crédito e, assim, aquecer o mercado consumidor e estimular a atividade econômica.
Para Marques, em situação de aumento de juros e de preços, os consumidores devem evitar consumo e empréstimos. Mesmo com a expectativa de manutenção da Selic, ele avalia que é hora de evitar gastos desnecessários, uma vez que é preciso aguardar qual será a política econômica adotada por quem ganhar as eleições para a Presidência da República, em outubro.
Meta de inflação
O BC tem que perseguir uma meta de inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Para este ano, a meta é de 4,5%, com espaço para variar de 2,5% a 6,5%. O banco, no entanto, tem o compromisso de manter a inflação anual o mais próximo possível do centro da meta.
Para 2010, a expectativa do mercado financeiro é que o IPCA fique em 5,07%, segundo o relatório Focus, elaborado pelo BC a partir de consultas a analistas e economistas, e divulgado na segunda-feira (30). Já para a Selic, a expectativa para este ano é de que fique em 10,75%.
* R7