Setor de serviços foi o que mais atraiu capital externo
O setor de serviços foi o que mais cresceu em participação dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) no ano de 2012. Segundo dados divulgados pelo Banco Central, este segmento passou de 46% em 2011 para 51,9% do total de capital externo que entrou no País. A indústria, por outro lado, teve uma perda da presença deste tipo de aporte, passando de 38,6% para 36,7%. Agronegócios, pecuária e extrativa mineral também perderam participação no montante, saindo de 14,8% para 10,8%. Em 2012 as remessas líquidas de renda para o exterior acumularam US$ 35,4 bilhões, o que significou um recuo de 25,1% em comparação com o ano anterior.
Apesar de o montante de US$ 65,3 bilhões alcançados em 2012 manter o mesmo patamar do ano anterior – quando esse capital totalizou US$ 66,6 bilhões. Na opinião de Frederico Turolla, Sócio da Pezco Microanalyses e professor da ESPM, este ano o Brasil deve receber menor quantidade de capital estrangeiro.
“O investimento direto hoje é uma estrela, você olha para o brilho neste número e não têm fundamentos da economia que refletem a percepção que as empresas tinham do Brasil no ano passado, a tendência desse número é cair”, disse. Ele explica que “os investimentos são planejados com muitos anos de antecedência. Durante os anos 2000 as empresas queriam entrar no comércio brasileiro, pois o País mudou de cara nos anos 1990”.
Ele disse que durante todo esse período, dos anos 1990 e início de 2000, aumentou significativamente o IED e que os países ricos injetaram muita liquidez nas suas economias, e isso levou um aumento global de dinheiro para os países emergentes, pela primeira vez na história do mundo os países emergentes tiverem um fluxo que em um ano chegou a ser superior ao capital colocado nos desenvolvidos.
Segundo Turolla, “no final dos anos 2000 tinham muitas empresas apostando no Brasil, os executivos globais diziam que o lugar para investir era o Brasil, esse resultado é muito desse movimento de inércia. Tem muitas empresas que já perceberam o erro de investir no Brasil e que não revisam porque os executivos não vão dar o braço a torcer”, disse.
O especialista aponta o ano de 2011 como a data da virada para que os estrangeiros percebessem que o Brasil não era mais um bom destino para seus investimentos. “Em abril de 2011 houve um encontro do fórum econômico mundial de Davos e na cobertura da imprensa internacional tiveram noticias negativas, esse momento é o marco da reversão da expectativa”, disse.
A previsão do Banco Central para este ano é que os Investimentos Estrangeiros Diretos totalizem o mesmo patamar do último ano, mas na opinião do professor Turolla essa expectativa é muito otimista. “É um número difícil de projetar, mas eu tendo a acreditar que vai ser bem menor, nos últimos anos vem mantendo, mas tende a cair, tem alguns fluxos pontuais, mas de maneira geral as empresas têm tirado o pé do Brasil”, afirmou o especialista.
O economista da Fundação Instituto de Administração (FIA), Carlos Honorato, pensa diferente, para ele o País continua atrativo para os estrangeiros. “O Brasil, assim como os outros mercados emergentes, é atrativo para o IED, os Estados Unidos e a Europa são mercados já consolidados que você praticamente não tem o que fazer, e aí você pega o Brasil e tem tudo para ser feito, a perspectiva é de que a gente vai continuar nos próximos anos sendo atrativo”.
Mesmo com uma ideia otimista, Honorato pondera que o País deve tomar cuidado “a gente pode fazer algumas barbeiragens, temos bons projetos de infraestrutura, mas é um problema, por exemplo, quando o governo começa a fazer esses subterfúgios nas contas publicas, ele mudou o cálculo, ficou feio, você faz um ajuste e essas manobras acabam deixando a situação mais ou menos às claras, quem é dono de empresa quer colocar o dinheiro e ter um bom retorno”, colocou.
Além disso, ele afirmou que “a gente não tem grandes incentivos para que as empresas se instalem aqui, com um processo de desindustrialização de pequenas indústrias, a gente precisaria destravar a economia na corrupção, na burocracia, quem tem que destravar é o Estado, o Governo e o Legislativo, regular melhor esse ambiente de violência que também ajuda a atrapalhar, é um mercado interno muito grande, mas a gente perde muito em competitividade”, completou.
Segundo o professor Turolla, a queda da entrada de IED ainda não deve prejudicar o balanço de pagamentos do País neste ano, mas vê que podemos ter prejuízos em 2015 ou 2016.
Paula de Paula para o DCI-SP