Serviços têm melhor desempenho no primeiro semestre
O empreendedorismo brasileiro anda na contramão da crise. A desaceleração da economia brasileira não parece ter arrefecido os negócios de micro e pequenas empresas, que crescem mais que a média do país.
A geração de novos empregos pelo segmento no primeiro semestre sofreu uma queda de 18% na comparação com os primeiros seis meses do ano passado, mas o número de inscrições no Simples cresceu 1%: mais de 800 mil novos empreendedores ingressaram no mercado. Ao mesmo tempo, aumentou a procura por crédito nas instituições financeiras. Outro sinal: em São Paulo, que concentra cerca de 40% das MPEs do Brasil – algo em torno de 1,7 milhão dentre os 4,6 milhões de estabelecimentos ativos no Cadastro Central de Empresas 2010 do IBGE -, registraram aumento no faturamento real do segmento, já descontada a inflação, de 8,9%, entre janeiro e maio deste ano.
“Não dá para relaxar porque ainda há incertezas no horizonte. É hora de trabalhar cada vez mais e inovar na gestão para aumentar a competitividade”, diz Bruno Caetano, diretor-superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP).
Os resultados apontados pela pesquisa “Indicadores Sebrae-SP” mostram que o crescimento foi maior para os setores de serviços (12,1%) e comércio (8,5%). A indústria, que vinha sofrendo os efeitos da concorrência de importados por conta do câmbio valorizado e fechou o primeiro trimestre com resultado negativo de 0,6%, reagiu e chegou a 2,5%. As vendas sustentadas pelo mercado interno foram favorecidas por três fatores: o aumento real de cerca de 7% do salário mínimo, que entrou na economia a partir de fevereiro, a desaceleração da inflação e a manutenção dos níveis de emprego.
A pesquisa mensal “Sondagem Industrial”, da CNI, aponta na edição de junho um cenário menos otimista para o segmento a partir da visão dos industriais. Foram consultadas 1.957 empresas – 711 pequenas, 751 médias e 495 grandes. As de pequeno porte revelaram insatisfação com as margens de lucro, a inadimplência e a escassez de capital de giro no primeiro semestre. Também fizeram uma avaliação mais pessimista que a grandes sobre os índices de evolução da produção.
“As micros e pequenas indústrias são as que mais sentem os efeitos da desaceleração da economia e, embora existam alguns sinais de uma pequena retomada, só vamos sentir os efeitos mais a frente”, alerta Pedro Alem, gerente-executivo de Política Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A desconfiança não é geral. O Sebrae Nacional, que ainda não tem os dados consolidados do desempenho das micros e pequenas empresas de todo o país no primeiro semestre, registrou que, apesar do ritmo menos acelerado da economia, os empreendedores seguem confiantes, abrindo as portas e contratando. De janeiro a julho, nada menos de 32.828 micros e pequenas empresas ingressaram no Simples. No mesmo período, 828.717 empreendedores se registraram no sistema – um crescimento de 44%.
O segmento também foi o responsável pela admissão de mais de 6 milhões de pessoas de janeiro a junho de 2012, enquanto as grandes empresas contrataram 8 milhões de trabalhadores no período, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego. Micro e pequenas empresas também geraram no primeiro semestre quase 800 mil novas vagas no mercado de trabalho. O número é três vezes maior do que os empregos criados pelas grandes. Na comparação com os primeiros seis meses do ano passado ficou 18% abaixo do desempenho do próprio segmento.
No Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) houve um aumento de 32% na procura por crédito para micro e pequenas empresas nos primeiros cinco meses do ano em relação ao mesmo período de 2011. Foram processadas 384 mil operações de janeiro a maio, contra 290 mil de janeiro a maio do ano passado. O volume de recursos liberados caiu 10% – de R$ 19 bilhões para R$ 17 bilhões. O Cartão BNDES teve R$ 3,7 bilhões desembolsados até maio.
Na Caixa Econômica Federal o valor de crédito contratado no primeiro semestre para MPEs cresceu 50% em relação ao mesmo período do ano passado e somou R$ 26,4 bilhões. Depois da redução das taxas de juros, o crédito contratado para o segmento no segundo trimestre chegou a R$ 14,8 bilhões – 27,5% maior do que no primeiro trimestre. A previsão é de crescimento de 40% no saldo da carteira para pessoa jurídica em 2012.
Pequenos criam três vezes mais postos de trabalho
Poucos indicadores refletem tanto a importância das micro e pequenas empresas na economia quanto o emprego. De cada dez vagas de trabalho com carteira assinada criadas no Brasil, nada menos de sete estão no segmento. Na comparação com as grandes, elas criaram três vezes mais novos empregos no primeiro semestre do ano. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego revelam também que micro e pequenas empresas geraram 793.987 novas vagas contra 253.927 criadas pelas grandes de janeiro a junho de 2012. No mesmo período do ano passado elas haviam criado 969.589 postos de trabalho – 18% a mais que no primeiro semestre deste ano. A desaceleração na geração de empregos foi maior nas grandes empresas. Elas haviam contratado 445.071 novos trabalhadores no primeiro semestre de 2011 – 43% a mais do que no mesmo período de 2012.
“O ritmo diminuiu, mas ainda assim a geração de empregos é consistente com um cenário de crise mundial”, diz Rodolfo Torelly, diretor do Departamento de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho e Emprego.
“As micro e pequenas empresas precisam ser mais bem cuidadas”, afirma Pedro Alem, gerente-executivo de Política Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Especialistas defendem melhoria nas linhas de financiamento e juros menores para o setor. Mesmo com a queda da Selic, a taxa na prática pode chegar a 30% ao ano. “2,2% ao mês de juros é muito caro”, afirma Pedro Alem, da CNI.
As micro e pequenas empresas admitiram nos dezoito meses de governo Dilma Rousseff mais de 19 milhões de trabalhadores, enquanto as grandes absorveram 14 milhões de empregados. O saldo entre admissões e demissões de janeiro de 2011 a junho deste ano, de acordo com o Caged, aponta que as MPEs criaram quase 2,5 milhões de novas vagas. As grandes empresas geraram 604.295 empregos novos, quatro vezes menos.
O setor que mais criou novas vagas no período foi o de serviços (1.035.113), seguido do comércio (507.545), da construção civil (429.584), da indústria (319.354) e da agropecuária, extração vegetal, caça e pesca (168.366). Nos últimos seis meses serviços abriu 304.091 novos postos de trabalhos. Atrás vieram construção civil, com 149.315, e indústria, com 113.428. Pecuária, extração vegetal, caça e pesca ocupou o quarto lugar, com 110.653. O comércio gerou 77.500 novas vagas. No primeiro semestre do ano passado o setor criou 123.045 empregos.
“O primeiro semestre sempre é cruel com o comércio na criação de empregos por causa da sazonalidade. O setor sentiu menos a crise, mas precisaria de um ritmo de recuperação maior no segundo semestre para manter os níveis de geração de empregos do ano passado”, afirma Paulo Padilha, economista da Federação do Comércio do Rio de Janeiro.
O Cadastro Central de Empresas 2010, do IBGE, revela que 98,4% das quase 4,6 milhões de empresas ativas no país são micro ou pequenas. Elas absorvem 48,8% das 37 milhões de pessoas ocupadas e remuneram 38,7% dos quase 31 milhões de assalariados. Respondem por 25,2% dos R$ 556 trilhões pagos de salários, enquanto as grandes bancam 58% do bolo salarial. (PV)
* Valor Econômico