Salário de algumas empresas do país começa a migrar para o plástico
Às voltas com um mercado de trabalho em que milhões de profissionais brasileiros não possuem conta corrente ou poupança, empresas — especialmente em setores de maior rotatividade de mão-de-obra — encontram nos meios de pagamento móveis uma forma de substituir os desembolsos em dinheiro, menos seguros e práticos para as grandes companhias. Contas correntes virtuais, nas quais os empregados fazem pagamentos e saques a partir do celular ou de um cartão de débito pré-pago, também atraem pequenas e médias empresas, que normalmente têm menor poder de fogo quando se trata de abrir contas-salário para os funcionários.
“Muitas vezes o empregado não tem o perfil de crédito exigido pelo banco. E a empresa de menor porte não tem o que oferecer ao banco em contrapartida”, diz Josival Moreira, presidente da CBBS Cards, companhia brasileira que atua na gestão de folha de pagamento e benefícios. A CBBS contratou o serviço Zuum — da MFS, joint venture da Vivo com a MasterCard — para resolver casos “emergenciais” dos clientes e, ainda, simplificar o processo de pagamento para não bancarizados. As emergências, nesse caso, são os benefícios pagos a empregados recém-contratados, como vale-transporte e vale-refeição. A concessão do vale-transporte, por exemplo, pode levar de duas a três semanas para estar disponível ao usuário.
Dentro do segmento corporativo, a demanda por ferramentas de pagamento móvel têm sido puxada por construtoras, empresas de call center e companhias que dependem em grande parte de contratações temporárias, conta Eduardo Abreu, diretor de Marketing do Zuum. “O nicho de folha de pagamento foi uma boa surpresa”, reconhece o executivo. “Lá atrás, quando desenhamos o produto, pensamos numa forma segura e prática de substituir o dinheiro”. A substituição — no caso de empresas com um contingente elevado de terceirizados — pode significar economia de recursos. “Já tivemos um cliente, em Feira de Santana (BA), que trabalhava com um número grande de terceirizados para prestar serviços de construção civil e vigilância. Como a maioria dos trabalhadores não tinha conta em banco, a empresa precisava alugar um carro forte para fazer os pagamentos semanais”, exemplifica Moreira, da CBBS Cards.
Na Flex Contact Center, cerca de 1,2 mil colaboradores, de um total de sete mil, já recebem salário através de meio de pagamento móvel. Desde agosto, a empresa de call center oferece aos funcionários a possibilidade de abrir conta-salário ou receber por meio de celular e cartão de débito pré-pago. “Uma vez por semana tínhamos de trazer um gerente de banco até aqui para abrir as contas dos novos colaboradores. Era um processo que tomava pelo menos duas horas do treinamento”, diz Angela Casali, diretora de Recursos Humanos da Flex.
Segundo a executiva, a nova modalidade deu mais segurança aos funcionários que recebem em dinheiro vivo, já que não precisam andar com o salário inteiro na carteira, em dia de pagamento. “Caminhamos para adotar um sistema único”, adianta Angela. A demanda crescente entre a clientela pessoa jurídica levou a MFS, empresa por trás do Zuum, a lançar esta semana um site para automatizar os pagamentos previstos em folha. Usado ainda em caráter experimental, o sistema facilita o processo, que antes envolvia o envio de planilhas por e-mail, com nome, número de celular, data de depósito e valores a serem creditados.
Levantamento divulgado em 2013 pelo Instituto Data Popular estimou em 55 milhões o total de brasileiros com mais de 18 anos que não tinham conta bancária. Mesmo assim, os meios de pagamento ainda engatinham no país. Em 2012, havia 500 mil usuários cadastrados nesse tipo de serviço, de acordo com a consultoria Frost & Sullivan. No ano passado, esse número subiu para 800 mil. “Para 2019, a nossa projeção é de 87,6 milhões de usuários registrados”, informa Carina Gonçalves, analista da Frost & Sullivan. Os serviços são particularmente atraentes para a população que não dispõe de emprego formal. A parcela sem emprego formal e renda fixa mensal encontra dificuldades para abrir uma conta bancária, justifica Carina.
Brasil Econômico