Quatro mitos que podem prejudicar a implementação do trabalho híbrido
Especialistas defendem que o modelo, que mistura jornadas remotas e presenciais, pode elevar a produtividade dos funcionários
A pandemia de covid-19 potencializou a transformação do trabalho nas empresas. Inicialmente, a adoção do home office ganhou espaço, mas, conforme a vacinação avança, é o modelo híbrido que recebe destaque. Mas alguns mitos podem dificultar a sua implantação. A pandemia transformou completamente as jornadas de trabalho.
Nesse contexto, o site FastCompany aponta quatro mitos que os líderes precisam eliminar para que este novo sistema tenha sucesso daqui para a frente.
O primeiro diz respeito à produtividade dos trabalhadores. Alguns gerentes acreditam que não podem confiar nas tarefas de seus funcionários se não podem fiscalizar o que estão fazendo. Frank Weishaup, CEO da Owl Labs, empresa que cria Inteligência Artificial (IA) para realizar videoconferências, argumentou que esse tipo de pensamento é arcaico. “Estou contratando pessoas para fazer um trabalho. Não estou contratando ninguém para vê-los trabalhar. É necessária uma mudança de mentalidade”, explicou.
Pesquisadores da Gartner verificaram que a performance melhora quando é dado aos empregados a flexibilidade de exercer suas atividades onde e quando desejarem. “Entre os trabalhadores do conhecimento, os altos níveis de contribuição empresarial são mais comuns entre aqueles que estão totalmente remotos”, comentou a diretora de pesquisa de RH da consultoria, Alexia Cambon.
Weishaup complementou que, para medir a produtividade, basta estar conectado. “Tivemos muito tempo para aperfeiçoar isso nos últimos 16 meses. Se você tem uma cultura de responsabilidade, isso leva à produtividade, estejam os funcionários no escritório ou não.”
O gerente sênior da consultoria Vaya Group, Rob Kjar, apontou que é preciso confiar em seus funcionários: “Se você contratou pessoas e confiou nelas para não roubar da caixa registradora, agora é uma oportunidade de demonstrar sua confiança nelas. Eles procurarão isso em suas comunicações. Use a chance de mostrar sua confiança e seus melhores desempenhos irão recompensá-lo. Eles nunca precisaram de alguém sentado sobre seus ombros para fazer seu melhor trabalho”.
A segunda ideia falsa a respeito do trabalho híbrido é que a colaboração irá sofrer. Se a equipe se mantém com linhas abertas de comunicação, a colaboração não será perdida. Os times que estão se formando pela primeira vez se beneficiarão da interação face a face no início, e podem fazer a transição mais facilmente para trabalhar remotamente.”, defendeu Kjar.
A pesquisa da Gartner identificou que os empregados que realizam o trabalho híbrido têm níveis mais altos de agilidade, segurança psicológica, equidade intencionalidade do que os presenciais. “71% dos trabalhadores híbridos concordam que sua equipe oferece oportunidades para contribuir com ideias fora das reuniões, em comparação com apenas 56% dos trabalhadores presenciais”, explicou Cambon.
O terceiro mito é que o trabalho remoto não contribuiu para uma cultura de empresa forte. Para a consultora de liderança e fundadora da Arrive at Happy, Tia Graham, é possível criar uma cultura de empresa mesmo que os trabalhadores não estejam simultaneamente no escritório. “Os líderes precisam saber qual é a missão da empresa e identificar como a cultura interna apoiará isso.”
Graham também observou que é importante manter a interação dos funcionários remotos em momentos de descontração e socialização, como na hora do almoço e até no happy hour. “O maior erro é deixar os trabalhadores virtuais de fora de atividades como essa”, defendeu ela.
A pesquisa da Gartner identificou que 33% dos trabalhadores remotos ou híbridos acreditam que o emprego mudou para melhor. “Isso é crítico, pois a satisfação desempenha um papel nos resultados dos talentos-chave”, comentou Cambon.
O último erro apontado pelos especialistas é pensar que será preciso retornar ao padrão de antes da covid-19. De acordo com a gerente de serviços de consultoria estratégica de RH da G&A Partners, Susan Crowder, as melhores práticas prépandemia podem não se adequar mais ao novo normal. “O que pode ter funcionado no passado pode não ser mais tão eficaz. Os funcionários podem precisar de flexibilidade para mudar o local de trabalho, para trabalhar remotamente, de um dia para o outro, o que requer a tecnologia e as ferramentas certas para permitir a mobilidade”, avaliou.
Cambon, da Gartner, complementou que forçar os funcionários a voltar ao trabalho presencial pode significar a perda de parte deles. “É um risco para a diversidade, a equidade e a inclusão, porque grupos de talentos subrepresentados viram grandes melhorias desde que lhes foi permitido mais flexibilidade.”
As empresas também precisam remover as barreiras e obstáculos que podem prejudicar a performance ideal. “Isso exigirá que os líderes sejam adaptáveis em sua maneira de pensar. Empregados e empregadores podem se beneficiar muito com a possibilidade de que cada um trabalhe onde se sente mais confortável”, concluiu Crowder.
Fonte: EPOCA NEGOCIOS