Qualidade de vida no trabalho é investimento para reduzir custos
O bem-estar dos seus funcionários entra na contabilidade da empresa? Deveria. Com as crescentes notificações de estresse, depressão e até de suicídio, melhorar as condições de trabalho retorna para empresa na forma de maior engajamento e menor índice de afastamentos por doenças, resultado que se traduz em economia. Foi o que identificou o médico Warner Hudson, diretor do Sistema de Saúde Ocupacional e dos Funcionários da Universidade da Califórnia (Ucla), e que participa, nesta terça-feira, dia 21, do 16º Congresso de Stress da Isma-BR.
JC Empresas & Negócios – Estresse e depressão já começam a ser entendidos como problemas de saúde pública por alguns especialistas. O senhor concorda com essa percepção?
Warner Hudson – Sim. A OMS identifica a depressão como a principal causa de incapacidade listada por Anos de vida Vividos com Incapacidade (AVI). É a quarta principal causa do ônus global de doença e ocupa o segundo lugar entre as causas de Anos de Vida Ajustados por Incapacidade (AVAI). O estresse percebido aumentou 30% em 30 anos em alguns grupos como os milênios, pessoas de baixa renda e mulheres nos EUA, e os problemas financeiros com frequência estão entre os principais motivos.
Empresas & Negócios – O que está por trás do evidente aumento dessas doenças?
Hudson – Não está totalmente claro se estas doenças (depressão) estão aumentando, mas estamos reconhecendo e dando muito mais atenção a elas e reconhecendo o impacto do estresse e do humor nos desfechos médicos. Muitos acreditam, no entanto, que o estresse está de fato aumentando comparado a alguns anos atrás.
Empresas & Negócios – De que forma a rotina de trabalho interfere ou causa esses problemas?
Empresas & Negócios – No final de maio, o suicídio do ex-CEO da Zurich Seguros, Martin Senn, foi notícia em todo mundo. O mais agravante é que Senn é o segundo dirigente a cometer suicídio na mesma empresa (três anos antes, o diretor financeiro da Zurich, Pierre Wauthier, também se suicidou). O que está acontecendo com profissionais que aparentemente chegaram a uma posição almejada por tantos na carreira, mas acabaram desse jeito?
Hudson – Os índices de suicídio subiram 25% nos EUA nos últimos 15 anos. Alguns dizem que se trata de uma epidemia, então realmente precisamos fazer algo a respeito, já que, em diversos países, trata-se de um problema crescente. O rastreamento da depressão pode ser importante para perceber quando as pessoas precisam de ajuda, já que a maioria das pessoas que cometem suicídio enviam sinais. Facilitar o acesso à ajuda precocemente é muito importante.
Empresas & Negócios – Qual foi a estratégia adotada pela Ucla que possibilitou a economia de US$ 1,5 milhão, que antes era despendido com afastamentos por doenças?
Hudson – Nós temos um programa de bem-estar personalizado para indivíduos com duas ou mais lesões ocupacionais: 18 sessões de coaching de atividade física personalizada, oito a 10 sessões com um nutricionista e encaminhamento ao Programa de Assistência ao Funcionário para um coaching para a vida. A ideia é transformar suas vidas em um período de 20 semanas. Até agora, tem funcionado muito bem e todos têm se beneficiado, os funcionários, seus departamentos e a universidade.
Empresas & Negócios – Como as empresas podem reduzir a ocorrência de depressão, ansiedade, estresse e outros problemas da rotina ocupacional?
Hudson – Respeitar, reconhecer e agradecer as pessoas de maneira pessoal e direta ajuda as pessoas no local de trabalho. Ter um Programa de Assistência ao Funcionário na empresa ajuda bastante, e acesso a profissionais de saúde mental qualificados para os que precisam de mais ajuda é crucial. Fazer com que os planos de benefícios dos funcionários tenham cobertura para psicoterapia e medicações também é importante. Na Ucla, temos um Programa de Combate à Depressão, onde estamos fazendo rastreamento rápido e obtendo feedback sobre a situação da saúde mental em toda a comunidade de nosso campus. Achamos que uma maior conscientização dos indivíduos em relação a seus próprios riscos, aliada a fatores que promovem a resiliência (psicoterapia), pode ajudar as pessoas a reconhecer a tempo problemas nelas mesmas e nos outros para que se possa evitar o desenvolvimento de problemas graves. Reconhecer, aceitar e conseguir falar sobre estes problemas é um primeiro passo importante.
Empresas & Negócios – Como as pessoas podem melhorar sua qualidade de vida no trabalho?
Hudson – Todo dia, faça algo em que você é bom. Como meu pai me dizia, a única pessoa que realmente vai poder cuidar de você a todo o momento é você mesmo, então torne o cuidado de si mesmo uma prioridade todo dia: alimentação, atividade física, sono, não beber, não fumar, equilíbrio na vida e reconhecer como você está, quando deve se ajustar ou quando, se necessário, buscar ajuda. Construa e tenha um forte sistema de apoio social da família e amigos.
Empresas & Negócios – Existem políticas públicas possíveis de reduzir essas ocorrências?
Hudson – O rastreamento universal (para a depressão) e programas universais de prevenção poderiam ter um impacto enorme. Se pudéssemos melhorar a dimensão geral do bem-estar ou do enfrentamento do estresse em apenas metade do desvio padrão (que é mais ou menos o menor efeito que se pode observar clinicamente), isto já eliminaria dois terços de toda a depressão e reduziria a incapacidade global em 6%.
JCRS