A previsão é do cientista político americano Tom Palmer ao passar por São Paulo. Para ele, o certo seria deixar as empresas quebrarem.
SÃO PAULO – As decisões tomadas pelos líderes do G20 no início do mês, em Londres, serão prejudiciais ao mundo. Os governos de vários países, principalmente dos Estados Unidos, estão fazendo tudo errado e a consequência é o prolongamento da crise financeira global. O grande perigo que o mundo corre é o acirramento do protecionismo, que deverá piorar ainda mais a situação. Esta é a opinião do cientista político norte-americano, Tom G. Palmer, presidente de programas internacionais da Atlas Economic Research Foundation, vice-presidente de programas institucionais do Cato Institute e autor do livro Realizing Freedom. Palmer participou, como palestrante, da 22ª edição do Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, e em passagem por São Paulo concedeu entrevista exclusiva ao Diário do Comércio.
Palmer é um defensor ferrenho da liberdade de mercado e da globalização. Para ele, a intervenção do Estado na economia e no mercado financeiro é danosa. “Nós tivemos uma série de políticas tolas, sobretudo realizadas pelo governo dos Estados Unidos, que fizeram intervenções muito pesadas no mercado financeiro e que tiveram resultados muito indesejáveis. As taxas de juros mantidas pelo Banco Central americano (FED) chegaram a ser negativas de junho de 2003 a junho de 2004. E duas instituições estatais, a Fannie Mae e Freddie Mac, criaram títulos lastreados em hipotecas. Esses títulos envenenaram o mercado, chamados hoje de ativos tóxicos. A verdadeira raiz da crise é a combinação de dinheiro muito barato oferecido pelo BC americano e uma intervenção muito pesada do governo”, explica Palmer. “Foi uma grande festa econômica patrocinada pelo crédito fácil e agora nos dizem que a solução é mais crédito barato e fácil. É como se estivéssemos, ontem à noite, em uma festa bebendo muita caipirinha e hoje não estamos nos sentindo bem, mas o médico diz que o remédio é beber mais caipirinha”, exemplifica.
Segundo ele, houve uma bolha imensa criada em diversas esferas por causa do crédito barato. A melhor solução seria deixar que os títulos encontrem os seus níveis no mercado. A tentativa de injetar dinheiro na economia para manter os preços dos títulos altos só irá prolongar o problema.
Decisões erradas
Para Palmer, a justificativa do governo para intervir tão fortemente no mercado, que foi a de salvar as empresas e manter os empregos, não é aceitável. Ele acredita que dar subsídios a investidores com dinheiro de quem paga impostos apenas incentiva as decisões erradas. E Palmer chega até a ser mais radical neste ponto. Para ele, o certo seria que eles arcassem com as suas irresponsabilidades e quebrassem. “Muitas dessas empresas vão falir de qualquer jeito, o que se está fazendo é jogar recursos num buraco com essa expansão imensa da oferta de dinheiro”.
De acordo com Palmer, a história pode dar algumas pistas de como proceder neste momento. “Houve uma crise financeira entre 1920 e 1921, mas quantas pessoas sabem disso?”, pergunta. “Praticamente ninguém, pois durou pouco e quando acabou, a economia retomou o seu crescimento. Por outro lado, todos conhecem a crise de 1929, pois ela acabou somente em 1946/47, depois da 2ª Guerra. Ela durou muito porque na década de 1930 o governo combinou duas políticas, a de manter os preços artificialmente elevados e outra de protecionismo. Essas duas políticas combinadas derrubaram a economia mundial”, diz o cientista político.
Ações para manter os preços artificialmente elevados já estão ocorrendo e o pior, na opinião de Palmer, é que vem crescendo a ameaça de protecionismo. O próprio Banco Mundial revelou que 17 países do G20 (grupo dos 20 países mais ricos e os emergentes, incluindo o Brasil) já deram início a políticas protecionistas.
“Para entender o significado disso, vamos retornar a 1930: em 17 de junho daquele ano, o presidente americano assinou a lei Smooth-Hawley sobre tarifas. A ideia era proteger os empregos dos trabalhadores americanos das importações estrangeiras. A consequência foi a destruição das empresas de exportação dos EUA. Em um ano, as exportações americanas caíram 50% e em dois anos, o comércio mundial caiu 70%. Isso foi a verdadeira depressão e uma catástrofe para o mundo, e temo que isso aconteça novamente”, afirma.
Mais pobres
Todos sabem que o protecionismo neste momento seria perverso para a economia mundial, mas até por pressões internas, os países acabam cedendo e adotando medidas de proteção para preservarem as empresas e os empregos. Como, então, combater o protecionismo? “O principal é explicar para a população que dessa forma não se está protegendo o mercado. Todos os consumidores e produtores estão sendo prejudicados. Por exemplo, imagine que os EUA comecem a restringir a importação de aço do Brasil e outros países. Eles vão dizer que estão protegendo os empregos dos trabalhadores das siderúrgicas americanas. Por outro lado, as montadoras precisam de aço barato para produzirem carros, o que acabará não acontecendo. Se por um lado se protege os empregos dos metalúrgicos, por outro, se prejudica o emprego em outros setores. A consequência é que todos vão ficar mais pobres”, comenta.
A sabedoria de Lula
Para Tom Palmer, a duração da crise dependerá das políticas escolhidas pelos governos. “Em primeiro lugar, é muito importante evitar o protecionismo; em segundo, é preciso parar de estimular a economia com a impressão de dinheiro. A crise poderia terminar até o fim do ano, basta lembrar a crise de 1920/21. Do contrário, poderá durar uma década ou mais”, garante. “Enfatizo que a pior coisa que poderia ocorrer agora seria o aumento do protecionismo.
A liderança política brasileira mostrou mais sabedoria nesta questão do que um anão econômico como (Nicolas) Sarkozy, uma pessoa mesquinha, cuja única preocupação é a proteção das indústrias francesas às custas do povo francês e do resto do mundo. Infelizmente, ele é uma pessoa com uma mente mesquinha, mas com uma voz muito alta. Devo admitir que o presidente brasileiro mostrou muito mais sabedoria do que o presidente francês na reunião do G20″, opina.
Fonte: Diário do comércio