01/04/2009
Previsão para o Brasil é negativa
4,35 por cento é a projeção de queda do conjunto dos 30 países que formam a OCDE. Para o Brasil, a previsão de retração é menor.
Augustin: “Resultado foi atípico”.A economia do Brasil vai ter desaceleração de 0,3% em 2009, de acordo com as previsões divulgadas ontem, em Paris, pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Dentre os emergentes do grupo BRIC (que inclui também Rússia, China e Índia), apenas a Rússia terá desempenho pior que o Brasil, enquanto China e Índia devem manter crescimento positivo, apesar da crise. Segundo o estudo, o Produto Interno Bruto (PIB) dos países-membros da organização cairá 4,35% em média em 2009.
Ontem também o Banco Mundial previu que este será o ano de pior resultado da economia internacional desde a Segunda Guerra, com declínio de 1,7%. A previsão para a América Latina e o Caribe é de retração de 0,6%.
As estimativas da OCDE constam da edição de março do relatório Perspectivas Econômicas. O documento, redigido pelo economista-chefe da instituição, Klaus Schmidt-Hebbel, e lançado dois dias antes da Cúpula de Londres do G20, chama a turbulência global de “hemorragia econômica”, diz que o momento é de “excepcional incerteza”, mas pondera que a crise atual não tem a amplitude da Grande Depressão dos anos 30. “O crescimento do PIB mundial em termos reais deverá se desacelerar em 2,75% neste ano, e ganhar 1,25% em 2010.”
Conforme a OCDE, a economia dos Estados Unidos cairá 4% neste ano, próximo do desempenho da zona euro, com queda de 4,1%. No Japão, o tombo será ainda maior: 6,6%.
Entre os emergentes, a Rússia sofrerá mais, com queda estimada em 5,6% do PIB. China e Índia, embora em menor ritmo, manterão o crescimento em 2009: 6,3% e 4,3%, respectivamente. “As grandes economias que não fazem parte da zona da OCDE não serão poupadas de uma brusca desaceleração do crescimento ou de uma recessão pura e simples”, diz Schmidt-Hebbel.
Apesar do otimismo do governo brasileiro, o País só voltará a crescer no próximo ano, em 3,8%, segundo o estudo. “A atividade no Brasil perdeu muito durante o último trimestre de 2008, puxada para baixo pela queda da produção industrial”, afirma a entidade. “Mas parece que, após ter tocado o fundo, ela dá atualmente sinais de recomeço.”
A instituição prevê que o País viverá uma retomada vigorosa em 2010, graças, em especial, ao comércio com países não membros da OCDE. “O crescimento deve se acelerar sensivelmente no Brasil, na China e na Índia, com as medidas de estímulo chinesas.”
A desaceleração terá impacto direto no mercado de trabalho. O desemprego deverá aumentar em todos os países da OCDE, com ápice em 2010 e no início de 2011, quando o índice passará de 10%.
Mais gastos… Déficit recorde.
A combinação de queda das receitas de impostos com o aumento das despesas, em velocidade ainda maior, fragilizou as contas públicas no primeiro bimestre do ano. A economia que o governo federal faz para pagar as despesas com juros da dívida pública – o chamado superávit primário – caiu 85,1% nos dois primeiros meses de 2009. Um tombo de R$ 17,53 bilhões em relação ao superávit do primeiro bimestre de 2008.
No mês passado, o governo central teve déficit de R$ 926,2 milhões, o primeiro resultado negativo em meses de fevereiro desde que o governo começou a calcular o indicador, há 12 anos. No bimestre, o superávit primário das contas do governo central (Tesouro Nacional, INSS e Banco Central) fechou em R$ 3,04 bilhões, ante R$ 20,58 bilhões em 2008. O desafio é grande, porque a meta do governo é gerar, no primeiro quadrimestre, superávit primário de R$ 17 bilhões.
A análise das contas indica que as despesas do governo central cresceram 19,59%, enquanto as receitas caíram 3,05% no bimestre, por causa do impacto da desaceleração da atividade econômica na arrecadação e das desonerações fiscais. Em 2008, ocorria o contrário: as receitas cresciam 19% e as despesas, em ritmo menor, 14,8%. Esse desempenho ruim acabou comprometendo toda a contabilidade do setor público (União, estados, municípios e estatais), nesse início de ano, segundo dados divulgados pelo Banco Central.
Embora o saldo final seja um superávit de R$ 9,29 bilhões no primeiro bimestre, o equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB), a economia feita pela União, governadores, prefeitos e dirigentes de estatais representou apenas um terço da que foi gerada no mesmo período do ano passado, quando o setor público fez um superávit de R$ 27,62 bilhões.
Apesar da fragilidade das contas públicas, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, afirmou que não há deterioração da política fiscal. Segundo ele, o resultado mostra a prática de uma política anticíclica, que será executada sem se descuidar da situação fiscal de médio e longo prazos. “É a nossa política. Nós construímos isso.” No entanto, Augustin reconheceu que o governo poderá recorrer ao corte dos gastos previstos no Projeto Piloto de Investimentos (PPI) e à poupança do Fundo Soberano do Brasil (FSB) para cumprir a meta de 3,8% do PIB para o superávit primário deste ano.
“Nos momentos em que a economia precisa mais de uma ação governamental, os investimentos podem ser mantidos”, apontou o secretário.
Em sua avaliação, no aspecto fiscal, é preciso comparar a situação do Brasil com a de outros países. “No momento de crise, o resultado de contas públicas do Brasil é um dos melhores do mundo.”
O secretário disse que já há uma reação na economia que será sentida nas contas de março e abril . “Esse resultado do bimestre ainda tem muita coisa do impacto da crise em dezembro.”
Fonte: Diário do Comércio
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