Presidentes discutem mudanças para aumentar a competitividade do país
Para os presidentes de 124 grandes empresas do país, com faturamento acima de R$ 1 bilhão, o chamado “custo Brasil”, que inclui questões tributárias, de infraestrutura e trabalhistas, ainda é o maior entrave em relação ao aumento da competitividade internacional.
Em um fórum organizado pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), por ocasião do 38º Congresso Nacional Sobre Gestão de Pessoas (Conarh), eles não só admitiram que é hora de ampliar sua participação na discussão desses temas macroeconômicos junto ao governo, como fizeram um “mea culpa” em relação à gestão das próprias companhias. Para os executivos, muitas oportunidades foram perdidas nos últimos anos e é hora de rever os modelos de gestão e de formação de lideranças para poder lidar melhor com os desafios futuros.
Alessandro Carlucci, presidente da Natura, diz que é necessário entender o tamanho das mudanças que o país vai enfrentar nos próximos anos. “Não adianta resolver questões pontuais e pequenas, como aconteceu na área trabalhista. Precisamos promover transformações de maior relevância e peso”, disse ao Valor. “O cenário atual impõe resoluções emergenciais. Precisamos estar alertas e não apenas contar com a sorte”, afirma.
Marcelo Araújo, presidente do grupo Libra, que atua na área de logística e infraestrutura para portos e aeroportos, ressalta que este é o momento de aumentar a flexibilidade na economia brasileira. “Andamos com uma bola de ferro amarrada aos pés”. Para ele, houve pouco avanço em temas importantes nos últimos tempos de bonança.
Em pesquisa apresentada durante o fórum e cedida ao Valor, 71% dos presidentes disseram que os custos tributários, seguidos da questão da infraestrutura (70%) e da qualidade do capital humano (49%) são os maiores empecilhos para o aumento da competitividade nacional. A professora e consultora Betania Tanure, uma das coordenadoras do levantamento ao lado de Luiz Carlos Cabrera e Vicky Bloch, diz que as políticas públicas e a questão da educação, surgiram como as duas grandes preocupações dos dirigentes. Para Cledorvino Bellini, presidente da Fiat, o problema começa muito antes da formação gerencial. “O país vive enorme 'gap' em relação ao ensino básico, com um número alarmante de analfabetos funcionais”, diz.
Quando questionados se suas companhias aproveitaram o período de crescimento da economia brasileira, 85% dos presidentes afirmaram terem feito isso apenas “parcialmente”. Para Betania, a razão de 45% dos dirigentes terem dito que seu quadro de executivos também estava “parcialmente” comprometido com os objetivos da companhia explica essa percepção. “O fato de os executivos não estarem tão engajados em um momento de crescimento significa que eles não aproveitaram todas as oportunidades”, diz. Ela ressalta que em um cenário de instabilidade essa atitude pode ter consequências muito mais dramáticas.
A previsão de 49% dos presidentes é que o resultado de suas empresas fique aquém do previsto este ano. “Essa desaceleração pode influenciar toda a cadeia produtiva. O descrédito desses dirigentes pode ter um efeito moral perigoso”, alerta Elaine Saad, vice-presidente da ABRH.
O papel do CEO como grande “influenciador” no clima da organização é fundamental para virar o jogo, afirma Betania. O presidente da Bunge, Pedro Parente, ressalta que, com as redes sociais, a palavra do número um da companhia reverbera rapidamente entre acionistas, funcionários e consumidores. “Antes, era possível ter uma verdade adaptada para cada público. Hoje, não existe tempo para isso. É preciso cuidar da mensagem”, alerta.
Embora no curto prazo a expectativa dos presidentes seja pessimista, quando questionados sobre a perspectiva para os próximos cinco anos, 53% acreditam que o desempenho de suas companhias será excepcional. “O momento agora é de volatilidade, mas acredito que o PIB volte a crescer em torno de 4%”, diz Marcelo Araújo, do grupo Libra. O presidente da Natura, Alessandro Carlucci, afirma que o país está perdendo espaço no cenário internacional e que precisa mudar rapidamente para se tornar mais competitivo. “Em comparação aos Brics e a outros países como Turquia, Coreia e México, somos hoje os últimos da classe.”
* Valor Econômico