No Brasil, mulheres ganham menos e são maioria entre os desempregados
A distância entre homens e mulheres no mercado de trabalho brasileiro ainda é grande: elas ganham menos, pagam mais impostos, são maioria entre os desempregados, minoria entre os que têm emprego e ocupam menos cargos de chefia.
De acordo com o último levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os salários dos brasileiros superam em 24% os ganhos mensais das brasileiras. E a disparidade do rendimento é apenas parte do problema.
“O que temos hoje, no mercado de trabalho, é um grande teto de vidro: as mulheres avançam até determinado ponto e, depois, não sobem mais”, disse Marilane Teixeira, economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A especialista explica que ainda existe discriminação por grande parte dos empregadores no País. Os empresários deixariam de contratar mulheres porque elas podem ter carreira “mais intermitente”, precisando de mais tempo para lidar com atribuições familiares, filhos e demais tarefas domésticas.
As próprias brasileiras, inclusive, acabam buscando empregos mais flexíveis, “mais próximos de casa, ou que possam ser realizados em âmbito doméstico”, para dar conta de funções não relacionadas ao emprego, complementou Teixeira.
Esses fenômenos serviriam também para explicar a baixa inserção feminina em cargos de chefia. Segundo pesquisa da Grant Thornton, apenas 15% dos cargos no topo das empresas são ocupados por mulheres no Brasil. O País ficou na antepenúltima posição entre as nações estudadas, atrás, entre outros, de Argentina (16%), Nigéria (21%), África do Sul (27%) e Rússia (40%).
No relatório que acompanha as estatísticas, os pesquisadores da Thronton ressaltaram que o baixo número de mulheres empregadas tem impacto econômico negativo para o desenvolvimento dos países. “Quando uma nação está empregando apenas a metade das pessoas mais talentosas, ela imediatamente corta seu potencial de crescimento”.
Para Maria Aparecida Bento, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), existe um “estereótipo de comando” nas empresas brasileiras. “Há uma ideia de que os postos mais elevados devem ser preenchidos por homens, em geral brancos. E isso acontece ainda que as mulheres tenham escolarização maior no Brasil”.
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o número de mulheres que ingressam no ensino superior supera o de homens. Os últimos dados mostraram que o percentual médio de ingresso de alunas é de 55%. O índice é ainda maior entre os concluintes, alcançando 60%.
Impostos
No Brasil, o desenho do sistema tributário, que exige esforço maior de quem ganha menos, complica ainda mais a situação para as mulheres.
Teixeira lembrou que a distorção se deve ao peso dos impostos indiretos, “que recaem de maneira igual para quem tem salários altos e para quem tem salários menores”. A pesquisadora concluiu: “cerca de 30% das mulheres recebem até um salário mínimo, dez pontos percentuais acima dos homens. Como elas ganham menos, acabam pagando, proporcionalmente, mais”.
Os números de emprego também não favorecem as brasileiras. Segundo a PNAD, há 52,433 milhões de homens empregados no Brasil, ante 39,656 milhões de mulheres. Já entre os desempregados, elas são maioria: 4,601 milhões mulheres não encontram trabalho, situação vivida por 4,378 milhões de homens.
Soluções
A importância de políticas públicas para diminuir a distância entre os gêneros no mercado de trabalho também foi destacada pelas entrevistadas.
De acordo com as especialistas, é necessária uma agenda política que aborde a divisão de tarefas domésticas nas famílias, problema cultural que originaria a desigualdade entre homens e mulheres.
Outro possível atenuante seria a ampliação da quantidade de creches pelo País, insuficiente na maior parte das cidades brasileiras.
Também foi abordada a discussão sobre o possível aumento do tempo de trabalho necessário para que as mulheres possam se aposentar, equiparando a quantidade à estabelecida para os homens.
“Contando com as tarefas domésticas, as mulheres trabalham, em média, 6 horas a mais que os homens por semana, faz sentido que o tempo necessário [para se aposentar] seja menor”, disse Teixeira.
DCI