Mercado espera “choque positivo” com possível impedimento de Dilma
Um dia após a Câmara dos Deputados ter aprovado o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o Banco Central teve de fazer uma grande compra de dólares no mercado futuro (swap cambial reverso) para segurar o queda da moeda norte-americana. No início do pregão da BM&F Bovespa, ela chegou a recuar 1,48%. Com medo de a apreciação do real prejudicar as exportações, o BC interveio e, ao final do pregão, o dólar fechou em alta de 2,08%, a R$ 3,597.
Conforme aumentam as possibilidades de Dilma ser afastada, melhoram os ânimos dos empresários e dos investidores. A FOLHA procurou alguns economistas para saber qual deve ser a reação da economia diante de um provável governo de Michel Temer (PMDB). Todos acreditam que, de imediato, haverá uma melhora das expectativas do setor privado. Mas há divergências sobre a possibilidade de o peemedebista realizar mudanças estruturais.
“Imaginando que ele assuma o governo, haverá um choque positivo de expectativas nos mercados”, diz o economista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Marcelo Curado. Ele considera que Temer terá uma “janela de oportunidade” para fazer determinadas reformas. “De início, deverá ter uma base boa no Congresso. E tem de aproveitar o momento para aprovar seus projetos”, afirma. Entre as medidas mais urgentes, o professor relaciona o aumento de impostos visando o equilíbrio fiscal e a Reforma da Previdência.
O deficit da Previdência, segundo ele, é um problema muito sério que deve ser enfrentado o mais urgente possível. “Em 2001, os gastos do governo com Previdência equivaliam a 5,7% do PIB e foram para 7,4% em 2015. Vai se tornando um rombo insustentável”, ressalta. De imediato, para o economista, será preciso um aumento de impostos. Mas ele considera que o novo governo também não pode se esquivar de fazer cortes de gastos: “é preciso diminuir o tamanho do Estado”.
Curado ainda espera de Temer que melhore o ambiente de negócios no País, desburocratizando e estimulando as importações e exportações e que faça concessões para investimentos em infraestrutura. “São medidas que podem melhorar a eficiência da economia”, declara. O professor considera “zero” a chance de o vice-presidente tomar medidas econômicas heterodoxas. “Ele vai retomar o tripé”, afirma Curado, referindo-se ao câmbio flutuante, o controle da inflação e o superavit primário.
CONFIANÇA
Márcio Massaro, da Faculdade Paranaense (Faccar), de Rolândia, também aposta numa melhora da confiança do empresário num governo Temer. “É de se esperar que o dólar baixe e a Bolsa suba num primeiro momento. Todo mundo tem expectativa de que qualquer outro governo seja melhor que esse”, afirma. Mas, não espera grandes mudanças de imediato. “Não podemos esperar que agregados macroeconômicos como inflação, emprego e renda melhorem de uma hora para outra. Para isso, é necessária uma série de medidas que só tem reflexo mais para frente”, explica. Mesmo que Temer assuma logo, para Massaro, 2016 será um ano de retração. “Isso já está definido.
O PIB será muito ruim, o desemprego vai aumentar ou no máximo ficar estável. A inflação vai cair independentemente da troca de governo”, analisa. Reformas estruturais, na opinião do economista, só serão possíveis se Temer conseguir uma boa coalização no Congresso e fizer um “pacto” com a sociedade.
Folha Web