Mantega aceita convite de Dilma e ficará na Fazenda
Acerto foi feito ontem pela manhã durante reunião na Granja do Torto. Anúncio oficial do time econômico será feito de uma só vez e depende de presidente eleita achar nome para comandar BC.
O ministro Guido Mantega (foto) aceitou continuar à frente do Ministério da Fazenda depois de ser convidado pela presidente eleita, Dilma Rousseff, como a Folha revelou ontem, com exclusividade. O convite foi feito ontem, após reunião que durou duas horas e meia.
A decisão de deixar Mantega no comando da economia do país tem influência direta do presidente Lula, que pediu pela permanência do auxiliar antes mesmo do primeiro turno e reforçou a recomendação na terça-feira.
Nos próximos dias, a petista concentrará energia na busca de um presidente para o Banco Central (a manutenção de Mantega no gabinete reforça as chances de Luciano Coutinho seguir no BNDES).
Quer resolver o time econômico e evitar especulações do mercado financeiro, que é sensível a esse tipo de indefinição. Até encontrar um nome, não fará anúncio oficial.
Um dos desafios imediatos de Mantega é encontrar formas para amenizar o impacto da forte entrada de dólares no país e uma consequente valorização do real -lógica nociva à competitividade das exportações brasileiras.
Com a Fazenda resolvida, o BC é o único nó da equipe econômica do novo governo. Segundo a Folha apurou, Dilma ainda não encontrou um nome ideal para o comando posto. Uma possibilidade é optar por uma solução caseira: manter Henrique Meirelles no cargo ou promover Alexandre Tombini (diretor de Normas do BC), encaixando Meirelles em outro ministério, como ele deseja.
Dilma também analisa nomes do setor privado. Dois já circularam na equipe de transição: Octavio de Barros, diretor do Bradesco, e Fábio Barbosa, presidente da Febraban e do Santander.
Lula sugeriu em ao menos duas oportunidades a permanência de Meirelles, mas Dilma é resistente à ideia. Ela tem dito a interlocutores que quer trocar a chefia da autoridade monetária.
O certo é que formalizará o time econômico de uma só vez, incluindo o titular do Ministério do Planejamento. Há hoje dois fortes cotados: Nelson Barbosa (secretário de Política Econômica da Fazenda) e Miriam Belchior (da Casa Civil). A pasta deve receber a gestão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Mantega iniciará em janeiro seu novo ciclo na Fazenda tendo de mexer em algumas áreas. Na hipótese provável de perder Barbosa, tido como um dos principais formuladores da pasta, terá de achar substituto à altura.
Precisará ainda ocupar a Secretaria do Tesouro, hoje sem um sucessor natural, e a Receita Federal, cujo titular, Otacílio Cartaxo, está desgastado com os vazamentos de dados sigilosos de pessoas ligadas ao PSDB na eleição.
Se a dobradinha Mantega-Meirelles continuar, Dilma terá cedido a Lula e manterá a rivalidade que dominou o segundo mandato. A diferença é que, já no início do governo, a área econômica se confrontará com desafios importantes, como conciliar o crescimento com um ajuste nas contas públicas.
Em homenagem no Rio, a economista Maria da Conceição Tavares elogiou ontem a permanência de Mantega no cargo. Destacou, porém, que no governo de Dilma haverá mais ingerência sobre a política econômica.
“Não importa quem será o ministro da Fazenda. Ela [Dilma] pode operar por cima e propor as medidas cabíveis”, afirmou.
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ANÁLISE
Nomeação ainda não define como será a política econômica
Guido Mantega no comando do Ministério da Fazenda do governo Dilma Rousseff pode dar a impressão de que tudo ficará como dantes no quartel da economia, mas ainda não é possível dizê-lo.
É agora possível dizer apenas que a presidente eleita aprova mais uma política Mantega do que uma política Antonio Palocci. Mas não seria preciso ver Mantega reconduzido ao posto para afirmar tal coisa. Dilma entrou em conflito com o paloccismo quando ainda ministra.
Mas a recondução do ministro diz muito pouco sobre o futuro da política econômica de Dilma. A indefinição permanecerá até a presidente eleita tomar a decisão, crucial, do que fará a respeito do gasto federal. As demais políticas serão decorrência dessa decisão, da qual depende o futuro da taxa de juros, do câmbio e do investimento.
Em segundo plano, mas ainda importante, serão as decisões sobre o comando do Banco Central: nomes e modus operandi. Não se trata apenas de saber se Henrique Meirelles ficará na presidência do BC ou se será substituído pelo seu segundo, Alexandre Tombini, atual diretor de Normas. O nome apenas do novo presidente BC também não diz muito.
Meirelles aos poucos mudou o modo de gerir o BC e de escolher seus quadros. Em seu “primeiro reinado”, teve diretores mais próximos do mercado ou daquilo que se entende como “economistas padrão”. No terço final do governo Lula, Meirelles nomeou diretores mais pragmáticos. Por determinação de Lula, houve menos conflito político entre BC e Fazenda.
Seja nomeado Meirelles, Tombini ou um terceiro, importa muito saber que tipo de pressão haverá do governo sobre o BC e que tipo de coordenação haverá entre Fazenda e autoridade monetária.
E coerência na política econômica foi coisa que quase inexistiu nos anos Lula, o que custou caro ao país.
* Folha de S.Paulo