Licença-menstrual, vale-Uber e mais: veja o que as empresas oferecem para atrair e reter talentos
Atrair e reter talentos é um grande desafio dos empregadores no Brasil atualmente. Levantamento da empresa de soluções em talento Robert Half, de acordo com resultados da PNAD, mostra que o nível de desocupação da população no fim de 2023 estava em 7,4%, enquanto entre profissionais qualificados — com mais de 25 anos e ensino superior — ficou em 3,6%. Outra pesquisa da empresa revela que de 10 profissionais qualificados desligados no ano passado, quatro saíram de forma voluntária.
— A contratação hoje é difícil. O desemprego é o menor em oito anos e a mão de obra qualificada disponível é pouca — resume Bruno Barreto, gerente da Robert Half, que explica por que manter os funcionários por mais tempo nas empresas também é um desejo: — Além dos custos de admissão e demissão no ‘turn over’ (rotatividade de funcionários), a empresa perde conhecimento do seu funcionamento. E o tempo de entrega sobe.
— O trabalho híbrido é o caminho alternativo que empresas estão oferecendo e os candidatos, buscando — diz ela: — E é claro que o pacote de benefícios é muito importante. Qualquer benefício para uma qualidade de vida melhor e o bem-estar é extremamente importante nas empresas.
Empresas antenadas já sabem disso. A Pluxee, parceira para concessão de benefícios corporativos, sente o resultado da alta da preocupação com o bem-estar do profissional e sua família, na busca por itens além dos vales para refeição e alimentação.
No último ano, ele conta, foram destaques três tipos de benefícios: a solução de premiação e reconhecimento do tempo de casa cresceu 63% em empresas contratantes; a contratação de benefício de mobilidade, que pode ser usado para compra de combustível ou uso de carros por aplicativo, aumentou 6%; e o Pluxee Cuida, uma central de atendimento nos pilares psicológico, jurídico, financeiro, social e nutricional teve alta de 39%.
Para satisfazer os profissionais, há ainda benefícios relacionados à flexibilidade, gênero, vida familiar, conhecimento, saúde e acesso facilitado a produtos e serviços das empregadoras. O EXTRA mostra o que está sendo oferecido, a seguir.
Flexibilidade
A pandemia forçou o home office no Brasil e mostrou que é possível manter a produtividade neste formato. Assim, voltar a frequentar os escritórios todos os dias não é mais uma opção para parte dos trabalhadores. Flexibilidade é a palavra da vez.
Na Mastercard, além de dois dias de home office por semana, é permitido trabalhar, de qualquer país, até 20 dias por ano.
Segundo ela, a flexibilidade é uma ferramenta para a harmonia na vida e no trabalho. Na farmacêutica Bristol Myers Squibb (BMS), também. Por isso, os funcionários podem escolher começar suas jornadas diárias entre 7h e 9h30, sendo que não há marcações de reuniões antes das 9h30 ou depois das 17h.
— Funcionários relatam que conseguem equilibrar melhor suas demandas, como levar e buscar filhos na escola e praticar atividade física antes do trabalho… E, para todos que chegam até 9h15, a BMS oferece inclusive um café da manhã — aponta a diretora de RH da empresa, Jennifer Wendling.
Família
A família não precisa mais ser um assunto escondido do empregador.
Na empresa de cuidados de saúde Haleon, a licença CareGivers permite ao funcionário se afastar do trabalho por até quatro semanas, sem corte de remuneração, para cuidar de familiares com uma condição de saúde grave.
— Os gestores da Haleon são os responsáveis por planejar as ausências e evitar os eventuais impactos na companhia — conta Marta Martins, diretora de RH, garantindo: — E todos os nossos colaboradores que se afastam por conta de algum benefício encontram suas mesmas posições quando voltam.
A empresa de tecnologia DocuSign, além de custear procedimentos de planejamento familiar, como a fertilização in vitro, concede até seis meses de licença-paternidade para homens que sejam os cuidadores principais de seus bebês. É o caso do gerente de Marketing Rafael Aragão, de 38 anos, que vai ser pai de Romeo junto com o marido, Diego Bechara, em breve.
— Eu lembro de falar, na minha entrevista de emprego que queria trabalhar num lugar onde as pessoas estão felizes. E percebi que a cultura da DocuSign permitia um balanço entre a vida pessoal e a profissional — conta ele, que decidiu aceitar o emprego por isso. E posteriormente descobriu a licença ampliada: — É um diferencial se sentir estável e seguro para trabalhar o relacionamento familiar nos próximos seis meses.
Conhecimento
Um negócio depende de pessoas. E o sucesso dele depende de pessoas satisfeitas e qualificadas. É por isso que, a cada dia, mais empresas contam com benefícios de incentivo à qualificação. A operadora de telefonia Claro é uma delas.
A farmacêutica Daiichi Sankyo Brasil, por sua vez, custeia o acesso de estagiários à plataforma de aprendizagem de idiomas GoFluent e incentiva a navegação durante o horário de trabalho. Eles têm metas mensais de desempenho, como quatro horas de acesso à plataforma e realização de encontros em outro idioma, sobre temas de interesse pessoal, como música e séries, e do mundo corporativo.
— Acreditamos que investir no ensino de uma nova língua seja enriquecedor para os nossos estagiários, tanto por promover uma cultura mais inclusiva quanto para gerar mais oportunidades junto aos colegas de outros países, já que estão em uma multinacional — relata o diretor de RH Irineu Silva.
Além disso, o resultado é ter futuros empregados bem qualificados, uma vez que a empresa tem uma alta taxa de efetivação de estagiários: atualmente, está em 67%.
Reconhecimento na carreira
Se retenção de talentos é um objetivo, é justo que o profissional seja incluído nas comemorações de mais um ciclo dele na casa. Para isso, as empresas têm apostado em “vales”, encomendados pontualmente a empresas como a Pluxee, para presenteá-los e em pontos para troca por serviços e produtos. Na farmacêutica Bristol Myers Squibb (BMS) Brasil, o programa de pontos é chamado “Bravo”.
— Ao completar cinco anos, por exemplo, os pontos podem ser equivalentes a fones de ouvido bluetooth, um jogo para Xbox, uma batedeira, um jantar para dois… Já com 15 anos, um smartwatch, um micro-ondas, um jantar com a família… Além disso, gestor e colegas recebem um e-mail da plataforma convidando-os a postarem mensagens celebratórias — diz ela, avaliando: — Esse reconhecimento de tempo de casa é mais uma forma de engajamento, de fortalecimento do vínculo entre funcionário e empresa.
Além do tempo de casa, o programa premia desempenho em projetos que ultrapassam as atividades diárias dos empregados e, como os pontos não expiram, podem ser acumulados e trocados por prêmios maiores.
Gênero
O período menstrual pode acarretar sintomas difíceis. Na MOL Imacto, empresa de produtos e serviços de impacto social, as funcionárias contam com essa compreensão. Há um ano, foi lançada a licença-menstrual, de até dois dias por mês, que funcionárias podem tirar sem descontos no salário.
Dezessete das 49 funcionárias já usufruíram. Foram 19 licenças de meio-período, sete dias inteiros e três licenças de dois dias.
— Desenvolvemos uma relação de confiança para que os funcionários possam sempre indicar quando não estão se sentido bem, mas acreditamos ser importante oficializar e nomear a licença-menstrual para que todas as pessoas que menstruam estejam seguras de que a licença é um direito delas — diz a CEO Roberta Faria, reforçando que o clima organizacional é favorável a elas: — Um dos motivos de não pedirmos que elas apresentem atestado é para não sentirem medo ao usarem o direito.
Após a pandemia, a atenção com a saúde cresceu globalmente. O Gympass — que pode ser oferecido pelas empresas a seus funcionários para terem acesso a uma rede de academias e estúdios em todo o mundo —teve um crescimento de 80% no número de clientes corporativos só em 2023.
A operadora de telefonia Vivo é uma das empresas que oferecem o Gympass como opção do seu programa de benefícios flexíveis.
— A Vivo tem uma preocupação genuína com a saúde e o bem-estar. Entendemos a importância de cuidar do público interno — diz Fernando Luciano, diretor de Gestão de Pessoas.
Esse cuidado é feito em três pilares: corpo, mente e ambiente, com ações reunidas no Vivo Bem-Estar. E os empregados estão em sintonia com a preocupação. A adesão ao programa é a prova disso. Somente no ano passado, a taxa subiu 72%.
Hospedagem
Após o analista de Marketing Leonardo Jordão, de 29 anos, começar a trabalhar na Aviva, plataforma de entretenimento detentora de parques aquáticos e resorts no Brasil, o álbum de viagens da família ganhou registros especiais. Ele levou a mãe para o Rio Quente Resorts, em Goiás, utilizando o benefício de até quatro diárias oferecido aos funcionários de São Paulo.
— É muito legal proporcionar isso para quem a gente ama — diz.
Funcionários da Aviva também têm acesso mensal ao Hot Park, em Goiás, gratuitamente. Para Laini de Melo, gerente-geral de Talentos Humanos, os benefícios fazem os colaboradores mais apaixonados, e esse é um retorno comum dos clientes atendidos.
— Quase todo o nosso quadro usa pelo menos um destes benefícios a cada ano — conta ela: — A Aviva tem como propósito fazer famílias felizes, e isso inclui a nossa.
Mobilidade
O vale-transporte é um benefício garantido por lei para custear o deslocamento do funcionário até o trabalho no transporte coletivo público. Mas a mobilidade tem outras alternativas incentivadas pelas empresas. Na farmacêutica Teva, funcionários do escritório e do laboratório de qualidade têm direito a vaga na garagem grátis, e quem não tem carro ganha R$ 500 por mês. O auxílio é válido mesmo em jornada híbrida.
— Pode ser usado para abastecer um veículo particular em postos de gasolina, pagar pedágios e bancar corridas de táxi ou de aplicativos — conta Ricardo Palacio, diretor de RH: — A área de Recursos Humanos busca ir além das práticas de mercado, pondo como prioridade as necessidades individuais dos colaboradores.