Levy promete negociar proposta que altera cobrança do PIS/Cofins
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, informou ontem que pretende costurar uma proposta de simplificação do PIS/Cofins com os parlamentares, antes de encaminhar o texto ao Congresso. Já o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou que não há clima no Congresso para aumentar tributos, deixando claro que, se resultar numa elevação da carga tributária, a proposta de reforma das contribuições terá dificuldades para ser aprovada. Há um temor dos setores de serviços e construção civil de que a unifica- ção das alíquotas proposta pelo governo aumente a carga desses segmentos.
— Só quero saber se não tem aumento de carga tributária. Será fácil de passar se for realmente para melhorar a legisla- ção. Agora, se for para aumentar a carga tributária, vai ter dificuldade de passar. Se chegar por MP ( medida provisória) vai ser tratada normalmente. Só não tem clima para aumentar tributo — disse Cunha.
Ao participar de audiência pública na Câmara dos Deputados, ontem, Levy explicou que, na proposta de reforma do PIS/ Cofins, o governo quer que os empresários recebam crédito financeiro sobre os insumos pagos para que a cobrança do tributo seja feita apenas sobre o valor agregado pela empresa. Segundo ele, isso ajudará o Brasil a retomar o crescimento econômico. Antes da audiência, ele apresentou a proposta a parlamentares em um café na manhã, e disse que sua expectativa é colocar o projeto em votação no segundo semestre: — Nossa intenção é fazer um sistema mais simples.
DOIS REGIMES DE COBRANÇA
Hoje, as empresas podem optar entre dois regimes de tributação. No regime não cumulativo, as empresas usam créditos tributários para compensar a cobrança do imposto ao longo da cadeia tributária e, por isso, têm uma alíquota maior, de 9,25%. É o modelo mais adotado pela indústria.
Já no regime cumulativo, não há créditos tributários e, por isso, a alíquota é menor, de 3,65%. Este modelo é mais usado pelo setor de serviços, pois são empresas que praticamente não têm insumos capazes de gerar créditos. O temor desse setor é que, ao unificar os regimes, o governo acabe optando por uma única alíquota, maior, elevando a carga tributária das empresas de serviços.
No início das discussões no governo, foi considerada a possibilidade de adotar duas alí- quotas, uma para a indústria e outra para o setor de serviços, como ocorre no exterior. Mas ainda não está claro qual proposta a Fazenda vai encaminhar.
Levy disse que a negociação prévia com os parlamentares é para dar mais celeridade ao processo de tramitação da proposta. Segundo o ministro, o setor produtivo foi ouvido e seu desejo é mandar uma proposta que já incorpore as ideias dos parlamentares. Levy afirmou que é importante simplificar tributos para o país voltar a crescer e aumentar o número de empregos.
— Essa é a agenda de crescimento e retomada da economia.
O ministro da Fazenda disse também que não pode haver complacência no ajuste fiscal. Ele destacou que o cenário mundial de hoje exige esforço e pune quem age de maneira complacente. Segundo Levy, o ajuste precisa ser feito de maneira rápida e firme para que a economia retome o crescimento:
— A situação exige esforço, exige inteligência nas medidas e pune a complacência. A gente tem que entender isso, porque se a gente evitar a complacência e agir na direção que tem que agir com rapidez e firmeza, eu acho que a gente consegue dar a virada para o crescimento.
REESTRUTURAÇÃO DO CARF
Convidado pela Comissão de Defesa do Consumidor da Câ- mara para discutir a operação Zelotes, que revelou um esquema de corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), Levy disse que o governo está fazendo uma reestruturação no Carf para que o órgão funcione de maneira mais eficiente. Ele informou que o conselho tem hoje 116 mil processos, com um crédito estimado em R$ 510 bilhões.
O governo também conta com a retomada dos julgamentos do Carf para reforçar a arrecadação. Segundo Levy, a ideia é que mais valores sejam encaminhados para cobrança e inscrição na Dívida Ativa. A expectativa é que o estoque de crédito caia de R$ 510 bilhões para R$ 266 bilhões num prazo de um ano.
O Globo