Juros sobem e cresce aposta em aumento de 0,5 ponto da Selic
Pela terceira sessão seguida na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) aumentou o número de investidores que passaram a apostar no aumento de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic) no encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), semana que vem, em detrimento do grupo, agora minoritário, que ainda projeta um ajuste menor, de 0,25 p.p.
Esse movimento foi iniciado na última quinta-feira, depois que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou em evento realizado no Rio de Janeiro, que “está vigilante e fará o que for necessário, com a devida tempestividade, para colocar a inflação em declínio no segundo semestre”.
Segundo analistas de mercado, ao optar pelas expressões “tempestividade” e “vigilante” e deixar de lado o termo “cautela”, Tombini quis enviar a mensagem de que a autoridade monetária está pronta para acelerar o passo do aumento de juros. No último encontro do Copom, o BC elevou a Selic em 0,25 p.p., de 7,25% para 7,50% ao ano.
Apenas em duas sessões, sexta-feira e hoje, o número de novas posições abertas nos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) mais líquidos e de prazos até janeiro de 2014 — que melhor representam as apostas do mercado no atual ciclo monetário — aumentou em 930 mil. Já as posições em DIs mais longos, com vencimentos em janeiro de 2016, 2017 e 2021, cederam em 53 mil.
Antes dos ajustes finais, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DIs) de vencimento em julho de 2013 (DI julho/2013) subia a 7,530%, de 7,508% na sexta-feira após ajustes. Na mesma comparação, o DI janeiro/2014 avançava a 8,12%, de 8,08%; o DI janeiro/2015 registrava 8,55%, de 8,50%, enquanto o DI janeiro/2017 atingia 9,20%, de 9,12%.
Simultaneamente ao aumento das posições dos investidores em contratos de curto prazo em detrimento das fichas colocadas no longo prazo e dos ajustes para cima na BM&F, a taxa real de juros da economia brasileira também apresentou variação positiva. A medida calculada pela diferença entre o contrato de swap de 360 dias e a inflação projetada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses atingiu 2,47% no fim da sexta-feira, ante 2,46% na véspera e a 2,35% na segunda-feira passada.
O reposicionamento dos agentes de mercado em termos de cenários para juros também envolve as áreas de economia dos bancos. Nesta segunda-feira, o Itaú Unibanco revisou para cima a projeção para a trajetória da Selic, passando agora a contemplar um ajuste de meio ponto no próximo Copom, ante 0,25 p.p. de aumento na estimativa anterior.
Com essa mudança, a expectativa do banco para o orçamento total passou de 1 ponto para 1,5 ponto percentual, o que significa uma Selic de 8,75% no fim do ciclo de aperto monetário. Segundo relatório assinado pelos economistas Ilan Goldfajn e Caio Megale, a nova projeção contempla duas doses de 0,5 ponto percentual da Selic nas próximas reuniões e uma de 0,25 ponto, em agosto.
Operadores apontam que ainda há uma parte do mercado que não se mexeu desde a quinta-feira, podendo aderir à onda de ajustes na BM&F passando a projetar um ciclo de aperto monetário mais intenso. Essa tese teve respaldo no Boletim Focus divulgado hoje pelo Banco Central, que mostrou estabilidade nas projeções dos agentes para o IPCA e para a Selic.
A mediana das projeções para o IPCA seguiu em 5,80% para 2013 e 2014. Na leitura em 12 meses, a mediana subiu de 5,57% para 5,64%. Já as apostas para a elevação da Selic se mantiveram — ao fim de 2013, a taxa básica de juros deve subir dos atuais 7,50% para 8,25% e ficar neste patamar até o fim de 2014.
Na agenda da semana, o foco segue voltado para ao presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Amanhã, ele fala na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO), a partir das 15h na Câmara dos Deputados, em Brasília. Segundo a pauta da comissão, Tombini prestará contas sobre os objetivos e as metas das políticas monetária, de crédito e cambial. Na quarta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o IPCA-15 de maio, prévia do indicador oficial.
Valor Econômico