Jovens têm mais comportamentos antiéticos
No atual momento que a ética, a transparência e o combate à corrupção são intensamente discutidos no Brasil, principalmente em função do escândalo da Petrobras, o setor privado também tem se preocupado em criar mecanismos de controle para tentar minimizar atitudes antiéticas dentro das empresas. Especialistas consultados pela FOLHA, concordam que a criação de um código de ética dentro das corporações e punições efetivas aplicadas aos funcionários que apresentarem comportamentos de risco, podem trazer resultados positivos nesta área.
Uma pesquisa intitulada “Perfil Ético dos Profissionais das Corporações Brasileiras” apontou que os maiores problemas relacionados à ética têm ocorrido entre os jovens. Os profissionais mais novos, principalmente até 24 anos, são os que têm liderado o grupo de alto risco em dilemas éticos nas empresas. O levantamento realizado pela empresa de gestão de riscos e ética ICTS Protiviti mostrou que 68% dos jovens até 24 anos hesitam mais para denunciar e 82% tendem mais a aceitar atos antiéticos. Ainda, 59% têm a tendência a decidir sobre o furto a partir das circunstâncias e 56% tendem mais a decidir sobre o suborno a partir das situações que se apresentam. Além disso, 70% têm mais tendência a aceitar presentes no trabalho, ou seja, suborno em forma de presentes. E também 62% de 25 a 34 anos tendem mais a ocultar erros de colegas.
A pesquisa durou dois anos e teve a participação de 8.712 profissionais de 121 empresas privadas. O sócio-diretor da ICTS Protiviti, Maurício Reggio, afirma que o jovem é mais moldável pela falta de experiência e porque não cristalizou alguns padrões de conduta, o que o torna “mais influenciável”. “Os jovens são empreendedores e têm o objetivo de ter o próprio negócio. Isso reduz o compromisso deles com a empresa”, diz.
Além disso, segundo Reggio, essa faixa etária de trabalhadores é muito imediatista e ambiciosa. De acordo com ele, todas essas características levam os jovens a adotarem esse comportamento de risco. “Eles tomam mais decisões baseadas em circunstâncias do que em princípios”, avalia.
A corrupção que acontece no país também tem influenciado os jovens. Segundo Reggio, eles procuram não perder oportunidades mesmo adotando comportamentos de risco.
Para Bernt Entschev, que faz parte do conselho consultivo do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), a ética sempre foi algo bastante flexível no Brasil, e um pouco disso ocorre por razões culturais. Ele defende que a ética deveria ser trabalhada a partir do momento que o funcionário entra na empresa e, para isso, as companhias precisam desenvolver um código de conduta. Entschev defende que, quando acontecer algum problema relacionado à ética, a punição por parte das empresas tem que exemplar e divulgada para todos os funcionários.
Para ele, também há a necessidade de reforçar a questão da ética nas universidades. Entschev considera que a raiz dos problemas com ética também pode estar relacionada com o fato de os pais “terceirizarem” cada vez mais a educação dos filhos às escolas, pela falta de tempo. Além disso, os jovens têm hoje muito mais acesso à informação que gerações passadas e, com isso, observam muito que as pessoas roubam no país e não são presas.
No entanto, Entschev ressalta que aquilo que não foi feito em casa em termos de educação ética, pode ser realizado no primeiro emprego do profissional. A criação de um canal de denúncias também é positivo, na opinião dele.
Folha Web