Jovem quer curso para empreender, diz pesquisa
A galeria de empresários de sucesso que nunca frequentaram ou abandonaram a universidade no meio do curso é extensa: Steve Jobs, Bill Gates, Mark Zuckerberg, para ficar nos mais famosos. Mas será que estudantes com espírito empreendedor não gostam de estudar ou são os cursos que não atendem a demanda?
Um estudo internacional chamado “Projeto de educação empresarial”, comandado por professores das universidades dos Estados de Illinois e Wisconsin, nos EUA, mostra que o empreendedorismo já é considerado uma carreira importante a ser seguida, mas que as universidades não estão atentas à essa demanda.
“Os cursos de administração formam executivos. Não lidam com problemas enfrentados por empresas iniciantes”, diz o professor Marcos Hashimoto, do centro de empreendedorismo do Insper. O estudo ouviu professores de 80 universidades em 40 países. No Brasil, foram entrevistados professores de 16 universidades, além de 604 estudantes, entre abril a agosto do ano passado.
De acordo com Amisha Miller, gerente de pesquisa da Endeavor, entidade responsável pelo estudo no Brasil, o país se destaca por ter uma boa oferta de cursos de empreendedorismo, mas as disciplinas pecam por serem muito teóricas.
“Os cursos dão muita ênfase à criatividade e à inovação, mas não ensinam como transformar isso em produtos”, diz Amisha. Faltam às universidades brasileiras, diz ela, um contato com o mundo real, com visitas a empresas ou palestras e bate-papos com empreendedores.
Um quesito no qual o Brasil se destaca é o de competições de planos de negócios. 75% das instituições pesquisadas no Brasil oferecem algum tipo de competição, contra 58% lá fora. A importância dos cursos de empreendedorismo foi apontada por aqueles que disseram ter interesse em empreender. E aqueles que cursam ou cursaram disciplinas de empreendedorismo se dizem mais confiantes para montar o próprio negócio.
“Há muita coisa a aprender para evitar erros básicos”, diz Diego Ucha, 24 anos, formado em ciência da computação e que cursou empreendedorismo no Senac antes de lançar sua empresa digital. “Existe uma linguagem particular que é preciso dominar para montar um plano de negócios e vender o peixe para um investidor”, diz.
Negócio próprio faz parte do 'sonho brasileiro'
A pesquisa “Projeto de educação empresarial” revelou um grande interesse por parte dos estudantes brasileiros pelo empreendedorismo. A maioria (52,8%) dos entrevistados vê o empreendedorismo com bons olhos, enquanto 48,2% considera efetivamente a atividade como uma carreira a ser seguida.
Os números corroboram uma pesquisa realizada no início do ano pelo DataFolha, em parceria com a consultoria Box1824. Chamada Projeto Sonho Brasileiro, a pesquisa revelou que a carreira mais popular apontada pelos jovens é “montar o próprio negócio” -com 4% da preferência. Todas as demais profissões eleitas não tiveram mais de 2% das citações. Médico, engenheiro e advogado, por exemplo, foram citados por 2% cada. E funcionário público, músico, psicólogo e jogador de futebol foram apontados por 1%.
A pesquisa ouviu 1.784 jovens de 18 a 24 anos, em 173 cidades de 23 Estados do Brasil, das classes A a E. “Todo estudante deveria ter acesso a um curso básico de como gerir negócios”, diz Anisha Miller, da Endeavor. “O arquiteto que vai montar um escritório precisa saber o que é fluxo de caixa.”
* Folha de S.Paulo