Investidor sugere aposta em serviços no Brasil
Relações externas: Americano sugere investimentos para consolidar área de distribuição e armazenagem.
O Brasil está ficando caro demais para investidores não ligados ao crescente setor de commodities e precisa canalizar os ganhos com os altos preços de produtos básicos para melhorar a competitividade do país, avaliaram participantes do painel dedicado aos desequilíbrios macroeconômicos e comerciais do Fórum Econômico Mundial – América Latina, que termina hoje, no Rio de Janeiro. “Uma oportunidade de negócios importante é a consolidação do setor de serviços, em distribuição e armazenagem, que pode gerar empregos de qualidade”, sugeriu Donald Gogel, presidente de uma das mais ativas firmas de investimento em private equity dos EUA, a Clayton Dubilier & Rice.
O otimismo com o momento positivo para a América Latina, que levou os organizadores do fórum econômico a prever uma “década da América Latina”, foi temperado, ontem, por preocupações com a precariedade da infraestrutura, discussões sobre alternativas à hegemonia crescente dos produtos básicos em economias da região e comentários sobre os riscos inflacionários enfrentados por países do continente.
“Se o real não é a moeda mais valorizada do mundo, está entre as duas ou três mais valorizadas”, apontou o presidente da Embraer, Frederico Curado. “O Brasil não tem a força da economia dos Estados Unidos para sustentar isso por muito tempo.” O país precisa eliminar as incertezas na economia para atrair o capital necessário à melhoria da infraestrutura do país, repleta de gargalos, disse.
Donald Gogel, que administra carteiras de ações principalmente para investidores dos EUA e Europa, concorda que as incertezas trazidas pela valorização do real devem afastar o interesse por investimentos tradicionais, por pelo menos cinco anos, prazo em que imagina ser possível maior estabilidade nas condições macroeconômicas do país. Além do real valorizado, as expectativas de crescimento econômico estão levando os brasileiros a elevar os preços de seus ativos além do que seria conveniente aos estrangeiros aceitar, comenta.
A aposta em investimentos na consolidação de serviços, especialmente distribuição, é uma saída natural, quando se nota a ineficiência em atividades como armazenamento, que, nos EUA, tem 25% do custo verificado no Brasil, compara o executivo. Sem investimentos diretos no Brasil, mas com clientes que têm interesses no país, ele informou que aproveitou a vinda para o Fórum, no Rio, para sondar as perspectivas de aplicação em firmas de serviços capazes de liderar processos de consolidação.
Ao saber da queixa do investidor, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, argumentou que o baixo risco e alto retorno do Brasil não justificam a ressalva para investidores estrangeiros em ações. “Tenho ouvido exportadores se queixando do câmbio, mas private equity é a primeira vez”, gracejou.
A necessidade de maior previsibilidade para os investidores foi um dos temas que frequentaram vários painéis. Garantir essa previsibilidade é um dos esforços do governo, garantiu o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, responsável pela Autoridade Pública Olímpica. As incertezas ainda existentes em relação aos rumos da inflação e as dificuldades enfrentadas pelas empresas, com obstáculos ao investimento como a alta taxação foram lembrados como tarefas urgentes do governo.
Apesar das ressalvas, o clima geral no Hotel Intercontinental, onde se realiza o Fórum, é de otimismo em relação às perspectivas da região, e, especialmente, do Brasil. “Confio no Tombini”, repetia, elogiando as ações do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o ex-presidente do Citibank William Rhodes, hoje consultor especial do Fórum Econômico Mundial. Ele disse estar convencido do compromisso do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com o controle das contas fiscais.
Apesar da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) conter cenários de inflação acima da meta neste ano e bem próxima do limite superior no ano que vem, Rhodes mantém a confiança nas ações do BC, segundo insistiu. Ele minimizou o impulso inflacionário no Brasil. “É um fenômeno mundial”, comentou.
* Valor Econômico