Falta de educação financeira afeta a economia, dizem especialistas
Produtores de conteúdo e influenciadores que falam sobre finanças e investimentos se tornaram algo comum nos últimos anos. No Brasil, isso pode ser interpretado como um sinal da falta de acesso à educação financeira.
Para além de uma percepção subjetiva, os números também dizem isso. Entre 144 nações, o país ocupava o 74º lugar no ranking que mede níveis de educação financeira.
Os dados são de pesquisa de 2021 realizada pela S&P Ratings Services Global Financial Literacy Survey.
Outro levantamento que preocupa vem da CEBR (Centro de Pesquisas Econômicas e Empresariais), feito no ano passado. Segundo o estudo que analisou a mesma questão, a posição do Brasil era a 35ª, de 44 países.
De acordo com especialistas ouvidos pelo R7, o atual cenário de acesso à educação financeira no Brasil precisa melhorar e prejudica a economia.
Isso porque a maioria da população acaba não sabendo princípios fundamentais para qualquer planejamento financeiro. Por exemplo, a aplicação e como funcionam os juros compostos.
“O alto nível de endividamento é causado pela situação econômica em si, mas também por não conhecermos as regras do mercado, por exemplo financiar um imóvel com a Selic em alta, faz com que o bem saia muito mais caro do que se financiarmos na época em que a Selic está mais baixa”, analise Simone Sgarbi, planejadora financeira.
Nesse sentido, vale lembrar que 78,5% das famílias brasileiras possuem débitos. A informação é da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
Para Daniel José, ex-deputado estadual de São Paulo, o problema ocorre inicialmente porque o “conhecimento de matemática básica” nacional é “muito limitado”.
“É muito mais limitado do que a gente imagina, sobretudo para quem está nos grandes centros, porque no Brasil quase metade dos alunos abandonam a escola antes de terminar. E quem se forma, só 7% sabe o nível adequado de matemática básica”.
A presidente do CRCGO (Conselho Regional de Contabilidade do Estado de Goiás), Sucena Hummel, afirma que outro motivo é a “cultura consumista do brasileiro”:
“Está muito mais ligado ao consumismo, não à realidade financeira de cada família. A gente vive em um país consumista, de muita motivação. Tudo é festa”, opina ela.
Por outro lado, Daniel José defende o alto nível de endividamento ocorre também “porque o Brasil é um país pobre”. Ele lembra que 90% dos brasileiros têm renda menor que R$ 3.500, segundo a pesquisa Pnad Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Para Sucena Hummel, o movimento para melhorar esse cenário precisa passar primeiro pela própria sociedade civil. Em outras palavras, a imprensa, organizações e a própria população precisa transmitir conhecimentos de finanças. Isso, sem depender de governos.
“A educação financeira também começa dentro de casa, seria um trabalho a partir de uma conscientização [por parte] dos pais”.
Ainda, Simone Sgarbi recomenda que “todos busquem” o conhecimento de finanças “para melhorar sua qualidade de vida”.
“Existem cursos gratuitos em instituições como a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e na B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), além de canais de youtube, perfis nas redes sociais, como o meu, voltados para educação financeira”, indica ela.
Na visão de Daniel José, planejamento financeiro deveria ser incluída na grade curricular obrigatória dos estudantes. Isso “de forma transversal”, ao mesmo tempo que o assunto seja tratado, também, no ensino da matemática.
A proposta do novo ensino médio foi revogada pelo governo Lula. Porém, em uma possível volta do programa, a educação financeira pode passar a ser uma matéria indispensável nas escolas.
O Desenrola Brasil é um programa de renegociação de dívidas lançado pelo governo federal. Nele, juntamente da quitação dos débitos, os beneficiários terão acesso a um curso de educação financeira a partir de setembro.
À reportagem, o Ministério da Fazenda ressaltou que é “muito importante a realização do curso, para que o beneficiado pelo programa saiba como evitar novas situações de endividamento e de restrição de crédito”.
Fonte: R7