Falta de acordos bilaterais também se deve às empresas
A dificuldade do Brasil de promover acordos bilaterais de comércio exterior passa tanto pelo governo quanto pelo setor privado. O País tem como força alguns setores que estão confortáveis com a situação de barreiras comerciais à entrada e saída de produtos, pois recebem incentivos governamentais e querem manter o status quo. Além disso, o setor interno brasileiro, apesar dos baixos níveis de crescimento, continua sendo vantajoso para grupos como indústria química, automobilística e de eletroeletrônicos, por exemplo.
Essa é a opinião do coordenador de estudos em relações econômicas internacionais do Dinte, órgão que faz parte do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ivan Tiago Machado Oliveira, que conversou com o DCI durante o V Encontro Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (CECIEx).
Segundo ele, há uma parte do setor privado que está “relativamente confortável” com a situação da falta de acordos bilaterais brasileiros, “particularmente aquele que depende menos de insumos importados ou de matérias-primas e de bens de capital, e que consegue, nessa proteção que eles têm no mercado brasileiro, continuar tendo margens de lucro razoáveis e enfim, o status quo é muito confortável para a empresa e para os negócios”, colocou Oliveira.
Ele citou uma tentativa do ex-ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, que em 2011 citou em um evento público do Itamaraty que o Brasil precisava negociar com os países preferenciais. “O que era uma mudança razoável na estratégia do governo, no sentido de começar a ser ativo neste setor, até onde eu sei, ele [Patriota] levou essa demanda para a Camex [Câmara de Comércio Exterior], que foi devidamente derrubada, provavelmente pelos ministérios que têm por base e força no próprio setor privado o MDIC [Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior] e o Ministério da Fazenda.” O coordenador do IPEA citou que essa proteção vem de muitos anos, “os setores que têm maior apoio governamental com proteção tarifária ou não tarifária desde os anos 1970 até agora, são os mesmos”, disse. Ele lembrou que quando o setor automobilístico, por exemplo, se sentiu ameaçado pela entrada de automóveis chineses e coreanos no mercado brasileiro conseguiram o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis vindos de fora.
As modestas taxas de crescimento do Brasil nos últimos períodos podem levar o governo e o setor privado a mudarem as estratégias e quem sabe abrirem mais o mercado para os acordos bilaterais. “Eu acho que a crise cria um ambiente mais favorável à mudança, a gente já não está em um ambiente que está funcionando muito bem. A gente deveria aproveitar esse momento para repensar uma série de políticas.”
O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Mauro Laviola, colocou em números a pouca participação do Brasil no cenário de trocas internacionais. “Alguns de nossos parceiros latino-americanos estão formando acordos internacionais, esse tema é muito importante na medida em que nossa participação no comércio internacional não excede 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Uma economia que está entre a sétima e a oitava economia no mundo não pode ter esse dado”, disse também ao participar do evento.
Sobre os possíveis parceiros comerciais que o Brasil poderia investir em uma relação mais próxima, na opinião de Laviola, estão os de fora do Mercosul, os chamados “parceiros mais desenvolvidos”. Ele colocou que o bloco não evoluiu em nenhuma área e que hoje se confunde livre-comércio com liberalização tarifária. “O Mercosul tem liberalização tarifária mas não livre-comércio”, completou.
O presidente do CECIEx, Roberto Ticoulat, deu instruções para países que pretende se internacionalizar “para ampliar a participação no mercado internacional tem de circular, andar; participar de feiras e exposições, das missões que a gente faz, trazer os compradores internacionais”.
DCI-SP