Empresas nacionais querem o mundo
Investimentos de companhias brasileiras em países desenvolvidos são favorecidos pela continuidade dos efeitos da crise financeira em economias mais ricas.
O momento atual é propício para as empresas brasileiras expandirem seus mercados para fora. Com a valorização do real e o desaquecimento das economias desenvolvidas, a aquisição de ativos, como instalações ou equipamentos, em outros países ficou mais fácil e menos onerosa. Além disso, as companhias nacionais estão capitalizadas e há liquidez de crédito, duas premissas importantes para respaldar esses investimentos.
No entanto, ainda que aportar nos Estados Unidos e Europa seja mais possível hoje, ter projetos nesses países desenvolvidos ainda não é comum. De acordo com a avaliação de Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), “o processo de internacionalização dos países emergentes ainda é muito intrarregional”. Ele lembrou que os principais destinos das empresas brasileiras costumam ser Argentina, Chile, Peru e México.
O presidente da Sobeet destacou que as empresas nacionais ainda enfrentam problemas em seu processo de internacionalização. “Os principais são a bitributação e a falta de tratados de investimentos com outros países. Além disso, a volatilidade do câmbio não é boa. O real valorizado agora não é garantia de que no futuro ele continuará assim”, avaliou Lima.
Nesse meio tempo, o movimento de internacionalização que ganhou força desde a crise financeira continua em alta. Nos últimos anos, o volume investido por empresas brasileiras no exterior praticamente dobrou a cada ano. Em 2010, essas remessas chegaram a US$ 16 bilhões, segundo o Banco Central (BC). E boa parte dessas aplicações é direcionada a países desenvolvidos – como no caso da aquisição da rede norte-americana de fast-food Burger King pelo grupo nacional 3G.
Para este ano, a expectativa é que o capital brasileiro investido no exterior volte a dobrar – para o que colaboram ainda os efeitos da crise, que fazem companhias norte-americanas e europeias se desfazerem de seus ativos em ofertas vantajosas para as empresas nacionais.
Algumas organizações brasileiras já sondam oportunidades. É o caso do banco Itaú Unibanco, que tem deflagrado uma forte campanha publicitária em países nos quais ainda não atua. A intenção é fixar o nome da instituição – ação que antecede a chegada nesses mercados. Exemplo disso é o patrocínio do banco ao Sony Ericson Open, torneio de tênis realizado nos EUA.
BNDES – Outro parâmetro que aponta o aumento da intenção das empresas brasileiras em investir fora do País é encontrado nos dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De 2008 a 2010, o banco liberou R$ 10,3 bilhões para financiar projetos de empresas nacionais no exterior. O valor é cinco vezes superior ao acumulado nos três anos anteriores, quando o total foi de R$ 1,9 bilhão.
Outro ponto importante é o número de empresas que buscaram esse apoio do BNDES. Em 2007, ano imediatamente anterior à crise, foram duas as companhias que pediram esses recursos. Em 2008, esse número passou para quatro, chegando
a oito em 2009.
“Com a crise de crédito no mercado, é natural que as empresas recorram mais ao BNDES para captar recursos. Esse número cai quando elas estão capitalizadas. Por isso, o banco pode não ser um termômetro confiável desse movimento”, relativizou Simone Saísse, gerente da área internacional do banco.
De qualquer maneira, o valor liberado pelo BNDES em 2010 para projetos de internacionalização foi de R$ 3,9 bilhões, inferior apenas ao montante de 2008, de R$ 4,2 bilhões. Atualmente, há 887 empresas nacionais fora do País, segundo dados do BC. O estoque de investimentos das companhias brasileiras no exterior é de aproximadamente R$ 120 bilhões.
Emergentes – Segundo o economista Célio Hiratuka, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), o momento é favorável para a entrada em outros mercados. Ele lembrou que a crise promoveu a desconcentração do fluxo de investimento, que passou a ser direcionado para os países emergentes, entre eles o Brasil.
Hoje, esses mercados já respondem por 25% do fluxo global de investimentos. “A chuva de moeda estrangeira no País fez o real se valorizar frente ao dólar. Com isso ficou mais em conta adquirir ativos, desde máquinas e equipamentos até instalações, em outros países.”
Para Hiratuka, esse movimento é positivo. “A internacionalização ajuda a diluir os riscos. Além disso, os lucros obtidos em outros mercados são remetidos ao Brasil, fortalecendo a empresa no mercado interno.”
* Diário do Comércio