Economia mais fraca faz analistas mudarem apostas para Copom
Queda no crescimento da economia brasileira foi maior do que o esperado no quarto trimestre de 2008.
BRASÍLIA – A forte retração da economia no último trimestre de 2008 fez com que muitos analistas mudassem a perspectiva para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que inicia nesta terça-feira,10, a reavaliação da Selic, a taxa básica de juros da economia.
Alexandre Póvoa, da Modal Asset Management, esperava uma redução de 1 ponto porcentual até a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre. Contudo, após a divulgação do resultado, que mostrou uma queda maior do que o esperado, Póvoa alterou sua previsão para um corte de 1,25 ponto porcentual. Hoje, a Selic está em 12,75% ao ano e a nova taxa será divulgada amanhã, dia 11.
“Com a análise dos números divulgados hoje onde, além do segmento industrial, constatamos que o setor de serviços parece também começar a fraquejar (apesar de uma certa inércia inflacionária), estamos mudando nossa previsão”, explica.
A queda no crescimento da economia brasileira foi maior do que o esperado no quarto trimestre de 2008, período em que a crise se acentuou no País. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta terça-feira, 10, o PIB do período caiu 3,6%, ante o terceiro trimestre de 2008. A estimativa era de uma retração entre 1,60% e 3,50%. Trata-se da maior queda trimestral apurada pelo IBGE, desde o início da série histórica em 1996.
O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto afirmou à Agência Estado que a retração do PIB no período indica que os efeitos da crise financeira internacional são piores do que se imaginava. “O mais impressionante de tudo foi a redução de 9,8% no quarto trimestre na margem dos investimentos, pois isso traz impactos não só à demanda agregada, como também sobre a oferta”, afirmou.
“Como a atividade está fraca, eu acredito que o Banco Central deveria cortar os juros em 2 pontos porcentuais). Mas isso não deve ocorrer porque o BC diria que tal medida é politicamente incorreta. Mas, se o Copom diminuir a Selic em 1,5 ponto porcentual, mando rezar uma missa ecumênica”, comentou.
Em nota, Póvoa avalia que os principais argumentos para os que defendiam um ritmo menos agressivo de corte de juros eram a possibilidade de um repasse cambial mais forte para a inflação. Além disto, havia uma desconfiança de que a produção industrial havia sofrido de forma abrupta, muito por conta de uma grande destruição de estoques, sendo que parte deste movimento seria revertido a partir de 2009. Para completar o raciocínio , o bom desempenho do setor de serviços (por conta de um emprego ainda forte) hipoteticamente equilibraria a fraqueza temporária da indústria.
“Depois do anúncio da decepcionante da produção industrial de janeiro (não mostrando recuperação consistente) e do PIB do quarto trimestre – indicando uma performance claudicante do setor de serviços – fica claro que os riscos de uma queda mais forte de atividade no Brasil estão se consolidando”, avalia.
Efeitos
De acordo com o ex-ministro, o recuo da economia de outubro a dezembro de 2008 foi tão forte que deve “carregar” uma queda de 1,5% para o PIB em 2009. “É uma herança muito ruim, que nos levará a ter a necessidade de crescer o máximo possível nos próximos trimestres para atingir uma taxa razoável neste ano em meio à forte recessão mundial”, comentou. Delfim preferiu não fazer estimativas sobre quanto o País vai crescer este ano, pois destacou que a expansão do Brasil será determinada pelo esforço do governo, empresas e trabalhadores para que a economia avance.
Fonte: Diário do Comércio