Dólar fecha na maior cotação desde janeiro
O dólar comercial fechou em alta pelo quarto dia consecutivo, acompanhando a valorização global da moeda americana e renovou sua máxima desde o fim de janeiro. Dados econômicos melhores que o esperado nos Estados Unidos alimentaram o ganho do dólar no mundo ao fortalecer a expectativa de que o Federal Reserve poderá antecipar o início da normalização monetária no país.
O dólar fechou em alta de 0,49%, a R$ 2,038, maior cotação desde 22 de janeiro, após chegar a subir a R$ 2,042 na máxima do dia. Com o resultado, a moeda praticamente apaga as perdas do ano e, agora, acumula queda de apenas 0,24% em relação ao fechamento de 2012. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o contrato de dólar futuro para junho subiu 0,39%, indicando R$ 2,0410.
A ausência de intervenções do Banco Central para tentar manter o dólar mais próximo de R$ 2, cotação com a qual o governo vinha se mostrando confortável, já dá espaço para que operadores especulem se a autarquia elevou o limite superior de sua banda cambial informal.
“Começa a ficar a dúvida se o nível de R$ 2,05 ainda é o limite que era, ou se o BC vai deixar o câmbio arder um pouco mais”, disse Italo Abucater, especialista de câmbio da Icap Brasil. “Enquanto o BC não entrar, o mercado vai continuar testando, não há dúvida.”
Segundo Abucater, a piora nas contas externas brasileiras, aliada às perspectivas ruins para a economia e a contínua pressão da inflação sugerem que o dólar deve continuar subindo, acelerando para patamares ainda mais elevados no segundo semestre. Pare ele, não há perspectiva de fluxos suficientes para amenizar a pressão de alta sobre a moeda.
“Não há mais previsão de fluxos grandes e o que havia já foi absorvido”, disse ele. “Agora a próxima etapa parece estar mais para R$ 2,10.”
A sexta-feira marcou o terceiro dia seguido em que o dólar foi negociado durante o pregão acima de R$ 2,028, patamar que deflagrou, em 27 de março, a última intervenção do BC no câmbio. Na ocasião, a autarquia colocou todos os contratos de swap cambial tradicional (que têm o efeito de uma venda de dólar futuro) que ofereceu em leilão, no valor de US$ 995,1 milhões, para conter a alta da moeda.
Por enquanto, porém, a maioria do mercado continua acreditando que o BC deve entrar se a moeda se afastar demais de R$ 2, ameaçando o patamar de R$ 2,05. Para esses profissionais, o motivo para a ausência de intervenções nos últimos dias é a postura mais cautelosa do BC, esperando que a pressão de alta no exterior se dissipe e o câmbio brasileiro volte a cair naturalmente.
“Acho que o BC vai acabar entrando novamente”, disse Carlos Eduardo Tavares, diretor de câmbio do Banco Rendimento. “É salutar o BC não entrar sempre no mesmo preço, pois isso limita a especulação. Além disso, o grande desafio do BC continua sendo a inflação, e deixar o dólar subir indefinidamente não ajuda.”
Nos EUA, o mercado recebeu bem a melhora nos indicadores antecedentes do país e na confiança dos consumidores americanos. Os dois dados fortaleceram o coro dos que defendem que o Fed antecipe o processo de retirada dos estímulos econômicos em vigor no país, que ontem foi reforçado por dois presidentes regionais do BC americano.
Um deles, John Williams, do Fed de São Francisco, disse que a autarquia pode começar a rever seus e stímulos ainda neste ano, reduzindo o volume das recompras mensais de títulos – possivelmente durante o verão setentrional, que começa em junho.
Sob o efeito desse debate, o Dollar Index, que acompanha o desempenho do dólar ante uma cesta de seis moedas, subiu 0,58%, a 84,23 pontos, maior pontuação desde julho de 2010, enquanto o euro, principal componente dessa cesta, caiu 0,43%, a US$ 1,282. Em relação à moeda japonesa, o dólar avançou 0,92%, a 103,23 ienes, maior cotação desde outubro de 2008.
Valor Econômico