Dólar em alta após Brasil perder grau de investimento
O dólar fechou em alta nesta quarta-feira (16) após a Fitch se tornar a segunda agência de classificação de risco a retirar o selo de bom pagador internacional do Brasil e chegou a passar de R$ 3,96. Durante a sessão, porém, o avanço perdeu força e a moeda passou a subir menos.
A moeda norte-americana subiu 1,24%, a R$ 3,9247, após atingir a máxima de R$ 3,9676 logo depois do rebaixamento do grau de investimento, segundo a agência Reuters.
Após operar em baixa, acentuada pelo corte da nota de crédito do Brasil de “BBB-” para “BB+” que retirou o grau de investimento do país, pela Fitch, a Bovespa virou e passou a subir nesta quarta-feira(16), à espera da aguardada decisão do BC dos EUA sobre a alta dos juros nos Estados Unidos.
“Era uma certeza, a Fitch só ganhou a corrida. Agora, a Moody’s está atrasada para a festa”, disse à Reuters o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
A Fitch cortou a nota de crédito do Brasil para “BB+”, contra “BBB-“, citando a recessão mais profunda do que o esperado, o quadro fiscal e a incerteza política. A Standard & Poor’s havia rebaixado o país para grau especulativo em setembro e, na semana passada, a Moody’s ameaçou fazer o mesmo em breve.
Muitos fundos são obrigados a vender seus ativos brasileiros quando pelo menos duas importantes agências retiram o grau de investimento do país. No entanto, operadores ressaltaram que a decisão já era esperada e parte relevante desse ajuste já foi feito no mercado.
Meta fiscal e Fed
O dólar já havia operado em alta firme desde o início da sessão, após o governo abrir a possibilidade de zerar sua meta fiscal para o ano que vem apesar dos pedidos do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e antes da sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o rito de tramitação do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
“A redução da meta fiscal enfraquece cada vez mais o Levy. A permanência dele no governo parece estar com as horas contadas”, disse à Reuters o operador da corretora SLW João Paulo de Gracia Correa. Ele acrescentou que o mercado deve operar volátil também antes da esperada alta dos juros norte-americanos após o fechamento dos negócios, a primeira em quase uma década.
Na noite passada, foi divulgado que a meta de superávit primário do setor público consolidado seria reduzida para cerca de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), com a possibilidade de que o objetivo seja zerado com abatimentos.
Levy já havia se manifestado abertamente muitas vezes contra a mudança da meta de superávit e até ameaçou, nos bastidores, deixar o cargo caso fosse alterada. O ministro vem encabeçando a campanha pela austeridade fiscal e investidores entendem sua eventual saída do governo como um sinal de mais atrasos no reequilíbrio das contas públicas.
O movimento nos mercados também era acentuado pela ansiedade antes da sessão do STF que decidirá sobre o rito do processo de impeachment contra Dilma. De maneira geral, a campanha pelo afastamento da presidente tem sido bem recebida nos mercados, mas muitos se preocupam com os impactos econômicos da incerteza política.
Completava o quadro de cautela a aguardada reunião do Federal Reserve, banco central norte-americano, que termina após o encerramento dos negócios. Operadores dão como certo que os juros serão elevados, com a reação dos mercados dependendo da sinalização do Fed sobre os próximos aumentos.
“Eu acredito que ele (Fed) deve reforçar que vai ser bastante cauteloso com as próximas altas e isso pode evitar altas mais fortes do dólar”, disse o operador da corretora B&T Marcos Trabbold.
Intervenção do BC
Pela manhã, o Banco Central deu sequência ao seu programa diário de interferência no câmbio, seguindo a rolagem dos swaps cambiais que vencem em janeiro, com oferta de até 11.260 contratos, que equivalem a venda futura de dólares. Até agora, o BC já rolou o equivalente a US$ 6,565 bilhões, ou cerca de 61% do lote total, que corresponde a US$ 10,694 bilhões.