Dólar, crise e estoques secam vagas na indústria
Emprego caiu em 14 de 18 setores e fechou 2012 com um recuo de 1,4%
Baixa em São Paulo foi de 2,6% e, no país, vestuário, calçados e couro perderam mais postos de trabalho
O emprego na indústria acompanhou a baixa na produção e fechou 2012 com seu pior resultado desde a crise de 2009, com queda de 1,4%.
A falta de competitividade com os concorrentes internacionais, aliada aos efeitos da crise, à queda do consumo e aos estoques em alta, contribuiu para o resultado.
A queda foi generalizada -em 12 dos 14 locais pesquisados e em 14 dos 18 setores analisados-, de acordo com pesquisa mensal divulgada ontem pelo IBGE.
São Paulo, maior parque industrial do país (peso de 40% na pesquisa), registrou queda de 2,6%. Foi a segunda em dois anos consecutivos -em 2011, caiu 1%.
Isoladamente, dezembro fechou o indicador com queda de 0,2% ante novembro e de 1,3% na comparação com dezembro de 2011, sendo o 15º resultado negativo consecutivo nesse tipo de confronto.
SETORES
As maiores quedas foram registradas nos setores de fabricação de vestuário (-8,9%), calçados e couro (-6,2%) e têxtil (-5,9%). A indústria têxtil estimou fechamento de 130 mil vagas em 2012.
A queda só não foi maior porque o setor de alimentos e bebidas subiu 3,9% no ano. O setor tem o maior peso na pesquisa, de 19%.
Na crise de 2009, todos os setores analisados apresentaram queda, inclusive, alimentos e bebidas, com redução de -1,9%. Na época, a produção industrial caiu 7,4% e o emprego encolheu 5%.
Segundo o professor de economia do Ibmec Gilberto Braga, em 2013 a produção industrial e o emprego devem se recuperar diante da melhora do cenário internacional, de forma mais lenta.
No número de horas pagas aos trabalhadores, a queda foi de 1,9% em 2012, em 14 dos 18 setores. A pior queda foi em São Paulo (-3%).
ANÁLISE EMPREGO INDUSTRIAL
É possível que empresas estejam reduzindo as horas trabalhadas
CELSO GRISI – ESPECIAL PARA A FOLHA
O desempenho do emprego industrial reflete, em boa medida, a queda de 2,7% da produção do setor em 2012.
Cresceram os estoques de produtos de quase todos os segmentos dos bens de capital, exceção feita aos destinados para a agricultura.
Enquanto o número de pessoas empregadas recua, a folha de pagamento do setor industrial cresce e as horas trabalhadas pagas aos trabalhadores caem. Esses dados, que inicialmente não fariam sentido, têm sido explicados por meio de hipóteses.
As empresas poderiam estar usando em menor intensidade o fator trabalho e retendo funcionários, imaginando a recuperação do nível de atividade econômica.
O custo elevado de demissões e recontratações justificaria a manutenção dos funcionários, reduzindo horas trabalhadas com o objetivo de compensar o baixo desempenho dessa mão de obra.
Essa hipótese explicaria o reduzido desemprego na economia e a manutenção do ritmo da demanda interna.
Outra forma de ver a questão foi exposta em estudo do pesquisador Naercio Menezes Filho (Insper e USP). Ele aponta que a oferta de trabalhadores crescerá 19% de 2005 a 2015 e indica persistência na demanda por trabalho nos Estados, independentemente do PIB nacional.
Assumida a taxa de crescimento médio real de 4% ao ano na geração de empregos, teríamos demanda por trabalhadores crescendo de 81 milhões para 118 milhões. Dessa forma, essa demanda estaria crescendo a 42%, enquanto a oferta de mão de obra cresceria a 16%.
O modelo econométrico de Naercio mostra que, mesmo com crescimento do PIB na casa de 1% ao ano entre 2012 e 2015, a demanda por trabalhadores no Brasil cresceria significativamente, para 114 milhões, em 2015.
Quer dizer: salários devem continuar subindo. Com isso, é prudente que agentes econômicos se preparem para conviver com longo período de desemprego baixo e aumento na oferta de empregos.
Eventualmente, com redução temporária de vagas ou de horas trabalhadas.
CELSO GRISI é economista, diretor-presidente do Instituto Fractal de Análises de Mercado e professor da FIA (Fundação Instituto de Administração)