“Desonerações não combatem a inflação, mascaram o índice”, defende economista
O economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, Samuel Pessôa, calcula que, excluindo as desonerações feitas pelo governo, índice já está entre 7% e 7,5% ao ano.
Mesmo com o aumento da taxa Selic, o mercado ampliou as expectativas para a inflação neste ano. Qual a sua avaliação?
Inflação é gerada por excesso de demanda e o que combate isso é a política monetária, quero dizer, os juros. Desonerações fiscais, como as que o governo tem feito, não combatem a inflação, mas mascaram o índice. Fiz um cálculo em que excluí dos 470 itens que formam o IPCA (índice oficial de inflação) os que tiveram desoneração ou estavam contaminados por essas medidas e cheguei hoje a uma inflação entre 7% e 7,5%. Isso é o que pesa no bolso do consumidor. As desonerações reduzem a inflação no curto prazo, mas não a taxa de difusão, que é a proporção dos preços que aumentaram.
Isso quer dizer que, passado o efeito a curto prazo das desonerações, teremos a inflação em 7,5%?
Se o governo não fizer nada, se não subir o juro ou não fizer novas desonerações, em dois anos teremos a inflação neste patamar.
O senhor diria que o governo “joga contra ele mesmo” ao desonerar impostos enquanto sobe juro com o objetivo explícito de controlar os preços?
Política de desoneração não pode ser feita como combate à inflação. O que combate a alta dos preços é a Selic. Desonerar não é a medida adequada para atacar o aumento da inflação. Mexer em impostos só vale a pena se for para melhorar a eficiência da economia, e não é o caso das medidas tomadas. Desoneração é algo que deve ser estudado com atenção, e não decidido de uma hora para outra. Há um custo fiscal muito grande nessas desonerações.
Para o senhor a atual política fiscal está muito frouxa?
Sem dúvida a nossa atual política fiscal precisa ser retraída. E na política econômica há um cálculo político influenciando as decisões. O governo empurra toda essa situação em banho-maria para arrumar a casa em 2015, depois das eleições presidenciais.
Globo