Demitir é menos eficiente, diz estudo
As companhias podem ganhar mais com redução de custos operacionais que não incluam a eliminação de postos de trabalho.
Um estudo divulgado ontem pela Proxima, consultoria especializada em terceirização, mostra que as companhias listadas no índice de ações FTSE 350, que acompanha as maiores empresas em valor de mercado na Bolsa de Londres, mostra que uma redução de até 1% nos custos não trabalhistas poderia ampliar o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) em 3,6%, ou € 10,5 bilhões, no total.
Já a mesma redução em gastos trabalhistas, com o corte de empregos – que geralmente é a primeira opção de companhias em mau momento – produziria um incremento de apenas 0,8% no mesmo indicador. Foram analisados balanços de 315 grupos entre 2008 e 2011.
A divulgação do estudo coincide como o momento em que cada vez mais empresas apertam os cintos por conta da renda mais comprometida dos consumidores, das medidas de austeridade do governo inglês e da pressão cada vez maior dos acionistas para que se entregue rentabilidade.
A seguradora Aviva, por exemplo, alertou no mês passado que poderia chegar a demitir até 800 funcionários de sua divisão britânica, enquanto a Direct Line, subsidiária de seguros do Royal Bank of Scotland, se prepara para cortar 900 postos de trabalho.
Outras companhias também incluíram a redução de empregos em seu programa de corte de custos, entre elas algumas editoras de jornais e imprensa em geral, como o Trinity Mirror e o Johnston Press.
Mas a pesquisa da Proxima mostra que, na verdade, as empresas listadas no FTSE 350 gastam menos de 13% de suas receitas com custos trabalhistas, que incluem desde pensões e salários até pagamentos com base em distribuição de ações e benefícios pós-aposentadoria.
Stephen Rigby, sócio da Grant Thornton na divisão de consultoria para desempenho empresarial, afirma que focar em reduzir despesas com fornecedores é uma das melhores maneiras de se começar na hora de enxugar as operações. “Qualquer economia de custo nesse sentido acaba caindo direto na linha final do balanço”, analisa.
O especialista da firma de contabilidade e auditoria ainda faz uma ressalva quanto a demissões: “Com certeza há momentos em que os empregos têm que ser cortados, mas o problema é que isso diminui o ânimo da equipe e também envia os sinais errados ao mercado de trabalho”.
O problema, para ele, é que raramente uma empresa britânica com ações em bolsa consegue focar em apenas uma área. “As companhias que compõem o FTSE 350 geralmente têm departamentos de terceirização pouco desenvolvidos e não se dão ao luxo de focar em apenas uma área [para economizar em gastos]”, afirma Rigby, que anteriormente trabalhou na indústria automotiva.
Matthew Eatough, presidente-executivo da Proxima, que fez o estudo, acredita que agora as empresas podem olhar para os números e mudar sua relação com o corte de custos. Em 2011, as despesas operacionais com manutenção, energia, aluguéis e outras despesas administrativas responderam por 68,3% das receitas, em média.
Enquanto isso, os gastos com funcionários acabaram chegando a 12,9% do faturamento desses grupos britânicos, depois de uma forte onda de reduções no indicador nos últimos 25 anos. Os encargos trabalhistas caíram de um patamar entre 30% e 40% para o nível visto hoje em dia.
Eatough revela que muitos presidentes de grandes empresas, na verdade, se assustaram com os resultados do estudo. A maioria dos executivos esperava que a percentagem de gastos com trabalhadores chegasse a algo perto de 40%.
Ainda de acordo com a pesquisa, os setores que mais poderiam se beneficiar alterando suas estratégias de economizar seriam de construção civil, químico e petroquímico, varejista e de combustíveis. Bens de consumo, energia elétrica e telefonia móvel seriam os negócios menos afetados por uma mudança de foco.
“Se as construtoras cortassem 1% em custos não trabalhistas, seu Ebitda médio poderia subir mais de 17%, enquanto químicas e varejistas poderiam ter um incremento de 11%”, calcula Eatough. “Com baixa confiança do consumidor e mudanças estruturais em suas estratégias, as companhias do varejo poderiam se beneficiar significativamente de uma melhor gestão de custos”, disse.
O executivo afirma ainda que a oportunidade de mudança de estratégia para os grandes grupos britânicos é bem grande. Os líderes empresariais, segundo ele, têm de tomar uma decisão frente a um assunto que vem afetando um bom número das companhias com ações mais negociadas em Londres.
* Valor Econômico, por Mark Wembridge, Financial Times, de Londres