Decreto do governo aumenta o preço da vaidade
No terceiro país que mais consome cosméticos e perfumaria no mundo, a notícia de mais impostos sobre o setor mexe não apenas com a cadeia produtiva, mas com a vaidade. A taxação dos atacadistas certamente vai impactar nos preços e, mesmo só entrando em vigor no mês de maio, os valores já aumentaram, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). A entidade ainda tenta reverter ou amenizar a medida junto ao Ministério da Fazenda.
Em dados oficiais, a Receita Federal espera arrecadar mais R$ 654 milhões ao ano com a medida, R$ 381 milhões só em 2015. No entanto, a Abihpec acredita em um índice mais elevado, de R$ 1,5 bilhão ao ano. A mudança se deu por decreto do dia 28 de janeiro, em que atacadistas foram equiparados a industriais, para efeitos de cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Em um exemplo superficial, se a indústria vende um cosmético por R$ 10 a um atacadista, ela irá cobrar R$ 2,20 de IPI (supondo alíquota de 22%), totalizando R$ 12,20. Antes da alteração, se o atacadista revendesse a mercadoria por R$ 15 não haveria mais a incidência do tributo. Com a equiparação, no entanto, haverá necessidade de pagamento do IPI no valor de R$ 3,30 (22% de R$ 15). A conta não é simples, uma vez que se trata de um tributo não cumulativo, por isso, o estabelecimento atacadista equiparado ao industrial poderá abater o valor pago na aquisição da mercadoria (R$ 2,20) resultando em IPI a pagar de R$ 1,10. Assim, o valor do produto subiria para R$ 16,10.
A alíquota do IPI varia entre 22% e 42%. Com mais um elo da cadeia tributado, o aumento de preços é inevitável. O presidente da Abihpec, João Carlos Basilio, explica que tanto indústrias que lidam com varejistas terceiros quanto com venda direta têm necessidade de planejar repasses com antecedência, inclusive para elaborar catálogos, daí o aumento de preços antecipado.
Cálculo da entidade mostra que o aumento real (acima da inflação) dos preços ao consumidor deve ser de 12%, em média, e projeta queda nas vendas entre 17% e 18%. A reportagem apurou aumentos recentes de até R$ 20 em alguns produtos comercializados em Londrina, caso de um hidratante facial que subiu de R$ 139 para R$ 159.
A empresária Gláucia Bottino de Souza, proprietária da La Perfumaria, assumiu a loja em fevereiro deste ano e se apressou em repor o estoque, aproveitando que alguns distribuidores conseguiram manter a tabela do ano passado. No entanto, ela já sente reflexo nos negócios.
“Tudo que estamos comprando está vindo (com elevação de preços), ainda estou conseguindo segurar um pouco, sem repassar a margem para os clientes”, conta. A loja comercializa desde perfumes e cosméticos até presentes, grande aposta da empresária para manter o ritmo de vendas este ano. Gláucia ainda consegue preservar preços atrativos em produtos adquiridos direto das fábricas, como no caso dos aromatizadores de ambientes.
A gerente da Paris Cosméticos, Iara Silva, tem percebido uma “boa vontade” dos fornecedores em negociar condições de pagamento e prazos, além de não alterar os preços no momento. “Algumas empresas estão oferecendo benefícios para comprar até julho com preço antigo; a gente não antecipou (o reajuste) por respeito aos consumidores, já que estamos tendo esse benefício”, explica.
Iara diz que as vendas melhoraram após o Carnaval e que a loja adaptou as condições de pagamento para não afastar os consumidores em um ano de cautela. “A gente tem dado prazo, porque os clientes também ficaram assustados, com medo de não poder comprar os produtos”, afirma.
Além do IPI, incidem sobre cosméticos e perfumaria a contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), cujas alíquotas variam e não foram alteradas. No âmbito estadual, incide o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), cuja alíquota é de 25%.
Folha Web