De volta para casa. Para procurar emprego no Brasil
O número de executivos que estão fazendo o caminho de volta aumentou. Pesquisa da Michael Page mostra que no primeiro trimestre foram 90, quando em igual período em 2008 não passou de 15. O motivo é a crise financeira.
A crise internacional está estimulando muitos executivos que trabalham no exterior a retornarem ao Brasil. Uma pesquisa realizada pela Michael Page Executive Search mostra que, apenas no primeiro trimestre do ano, 90 profissionais brasileiros, com idade média de 43 anos, procuraram a consultoria para voltar. No mesmo período do ano passado, foram somente 15 executivos.
A maioria desses executivos (20%) vem dos Estados Unidos. Os demais voltam da França (12%) e da Inglaterra (10%). Outros países da Europa, como Portugal, Alemanha, Espanha e Holanda, receberam 30% do total dos profissionais. Os países da América Latina – Argentina, Colômbia, Chile, Peru e Venezuela contribuiram com 20%, enquanto os demais (8%) vieram do continente africano e do Oriente Médio.
Os profissionais que trabalharam no exterior acabam se sobressaindo no mercado de trabalho nacional, mas o tempo que eles esperam por uma vaga passou de três para seis meses, de acordo com uma projeção da Michael Page. O maior problema encontrado por eles é a falta de contato no Brasil. As empresas nacionais necessitam de executivos com uma boa carteira de clientes. A maior parte dos profissionais interessados em voltar ao País é de vice-presidentes (40%), de diretores financeiros (20%), diretores de marketing e vendas (20%) e diretores de RH e engenharia (20%).
Crise e oportunidade – A volta desses executivos ao Brasil não é nova. O que muda são os motivos, de acordo com o diretor geral da Alpen Executive Search, unidade independente da Allis S.A., Andre Bocater Szeneszi. Ele afirma que, entre 1990 e 2000, muitos executivos, principalmente das áreas de petróleo, engenharia e geologia, deixaram o País porque não tinham oportunidade de trabalho por aqui. “Além de encontrar vagas no exterior, esses profissionais eram conquistados pelos bons salários – ganhavam pelo menos o dobro do que era oferecido no mercado interno”, detalha Szeneszi.
Além do pagamento em dólar, vem no pacote das empresas estrangeiras vários benefícios para o funcionário de alto escalão, como imóvel para morar, colégio pago para os filhos, automóvel. “Valia a pena ficar longe da caipirinha, do churrasco, dos amigos e do feijão. Hoje isso já está diferente – os setores cresceram, e começaram a precisar de bons profissionais.”
Depois da crise financeira, os executivos quiseram voltar porque o mercado lá fora ficou difícil. “Uma empresa na Espanha, por exemplo, preferiu demitir um brasileiro do que um espanhol – o brasileiro era visto como se estivesse 'ocupando' um espaço”, afirma Szeneszi.
Ele detalha que um executivo com experiência internacional é prestigiado pelas empresas brasileiras. “Esses profissionais demonstram flexibilidade, adaptabilidade, além de conhecer bem outras línguas. O problema é que eles têm que ter em mente que não são mais expatriados, portanto, não terão direito aos benefícios especiais aos quais estavam acostumados, como o imóvel, o carro. O profissional que entender isso rapidamente terá, sem dúvida, vantagem competitiva.”
O próprio Szeneszi tem muita história para contar. Ele foi para a Argentina em 1999, para ficar dois anos trabalhando numa multinacional da área de petróleo – acabou ficando seis anos. “Minha adaptação foi rápida. A empresa queria que os executivos tivessem experiência em Buenos Aires, para depois trabalharem no Brasil.”
Mas em 2006 o executivo mudou de área. “Fui convidado para trabalhar na Alpen, exatamente em razão da minha experiência internacional.” E valeu a pena: Szeneszi diz que o salário é o mesmo – mas o bônus triplicou.
Fonte: Diário do Comércio