Crowdfunding sob medida
A cerveja artesanal entrou na moda de uns anos para cá. A produção e a venda desse tipo de bebida não contam com números oficiais ou pesquisas, mas sites na internet, nas redes sociais, associações e confrarias atestam o crescimento do interesse dos consumidores. Entusiasmado com as oportunidades abertas por essa onda há dois anos, o químico e empresário Felipe “John” Gumiero se aliou ao publicitário e quadrinista Marcelo “Calote” Bellintani para produzir a cerveja “Juan Caloto” em um apartamento da zona sul de São Paulo. Os amigos da dupla provaram e aprovaram.
“Queríamos crescer, mas a lei restringe as vendas de cervejas caseiras”, afirma Gumiero. O jeito era contratar uma fábrica para produzir de acordo com a receita. Para arrecadar o capital a fim de bancar a empreitada, eles procuraram a Social Beers, plataforma de crowdfunding (expressão em inglês para financiamento coletivo), especializada no apoio a projetos de produção da bebida. A Social Beers começou a ser fermentada em fevereiro de 2013, quando o sommelier Carlos Lima participou de uma conversa sobre crowdfunding. “Nunca tinha apoiado nenhum projeto”, diz Lima.
No dia seguinte, ele ligou para os amigos Matheus Franco e Luiz Poppi, hoje seus sócios, e dessa conversa nasceu a Social Beers. A plataforma estreou com o lançamento da cerveja Sexta-Feira, parceria entre a Invicta, de Ribeirão Preto (SP), e a Sixpoint, de Nova York. Em maio deste ano, as primeiras garrafas chegaram às mãos das 434 pessoas que ajudaram a financiar a produção. Os dois projetos seguintes também envolveram fabricantes conceituados no mundo cervejeiro. No entanto, o recorde é da Juan Caloto, que atingiu sua meta em dez dias. A Social Beers, agora, estuda abrir um ponto de venda físico com as cervejas que ajudou a criar.
A Social Beers é mais um exemplo bem-sucedido da especialização do crowdfunding. Atualmente, existem plataformas sob medida voltadas para turismo, clubes de futebol, sustentabilidade, entre outras opções.Elas ganham espaço em relação aos sites genéricos por oferecer interfaces e formulários específicos ao segmento. “Quem entra na Social Beers sabe o que quer e não tem chance de encontrar outra coisa diferente de cerveja”, diz Lima. Outro exemplo de plataformas especializadas é a Bookstart, fundada por dois profissionais do mercado financeiro, Bernardo Obadia e Vitor Arteiro, que resolveram trabalhar com livros.
“Não é só dar o dinheiro”, diz Obadia. “Vamos até o final do processo.” Não pense que qualquer um pode sair por aí pedindo recursos para publicar um livro. A Bookstart analisa o potencial dos projetos e dá sugestões de melhorias antes de colocá-los no ar. Se livros são relativamente populares nesse meio, há quem queira abrir um segmento novo com investimentos em empresas. A EuSócio, fundada no Rio de Janeiro, em 2012, pretende fazer o chamado crowd equity, que dá aos contribuintes participações nas startups. A empresa, no entanto, ainda não pôs nenhum projeto de pé.
“A qualquer momento, o primeiro projeto será publicado”, afirma João Falcão, fundador da EuSócio. “O proponente precisa fazer ajuste de governança para cumprir os requisitos.” Segundo ele, a demora também se deve à regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o xerife do mercado de capitais brasileiro, cujo parecer é obrigatório para o início da operação. Enquanto os sites especializados buscam um lugar ao sol, o Catarse, principal operação de crowdfunding no Brasil, mostra-se cético em relação à tendência. “Uma plataforma de financiamento precisa de volume”, diz Felipe Caruso, coordenador do Catarse. “Quando se trabalha com nicho, cortam-se vários tipos de projetos.”
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