Crises financeiras exigem respostas rápidas e firmes, diz economista
O Project Syndicate publicou um artigo do americano Robert J. Shiller, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2013 e professor de Economica na Universidade de Yale. Shiller faz uma análise sobre até que ponto o intervencionismo é necessário em períodos de crise.
“Todo mundo ouviu falar da teoria da “mão invisível” desenvolvida por Adam Smith segundo a qual a busca de cada um pelo seu próprio interesse beneficia ao conjunto da sociedade no quadro de uma economia de mercado. É exato: esse tipo de economia gerou uma prosperidade sem precedente tanto para os indivíduos quanto para as sociedades. Mas como nós podemos ser manipulados ou enganados, ou simplesmente tentados por um objeto, a economia de mercado nos persuade a comprar produtos inúteis.
Essa observação constitui um complemento importante à teoria de Adam Smith. Com George Akerlof, nós a analisamos detalhadamente em nosso novo livro, Phishing for Phools: The Economics of Manipulation and Deception.
A maioria entre nós foi alvo de ‘phishing’: mensagens eletrônicas indesejáveis ou telefonemas que têm como objetivo absorver informações pessoais com o objetivo de nos enganar. A vítima, o ‘phool’, é aquele que não compreende a onipresença do ‘phishing’. Ele vê aí casos isolados, mas não entende até que ponto ele interfere em nossas vidas, nem todo o profissionalismo que se esconde atrás. Infelizmente é o caso de muitos entre nós – inclusive Akerlof e eu. É por isso, aliás, que nós escrevemos esse livro.
O ‘phishing’ afeta praticamente todos os mercados, mas nós nos interessamos principalmente pelos mercados financeiros. Nós o fizemos há tempos, antes do boom da Bolsa e do setor imobiliário desde 2009 e os turbilhões sobre os mercados mundiais dos ativos financeiros desde o mês passado.
Tanto na economia quanto na medicina, uma epidemia pede uma reação imediata e vigorosa. Após a Grande crise de 1929, a reação das autoridades foi muito limitada e muito lenta, é por isso que a economia mundial mergulhou numa Idade Média que durou até a Grande depressão dos anos 1930 e ao desencadeamento da Segunda Guerra Mundial. A crise financeira de 2007-2009 deixava prever uma conclusão similar, mas dessa vez os diferentes Estados e os bancos centrais interferiram rapidamente, energicamente e de maneira coordenada. A retomada é fraca, mas estamos longe de uma volta à Idade Média.
Nos podemos reconhecer isso. Porém, segundo alguns observadores, as autoridades orçamentárias e monetárias não deveriam ter reagido tão rapidamente ou tão fortemente. Eles estimam que a causa fundamental da crise reside no “risco subjetivo”: o aumento das tomadas de riscos devido à convicção de que as autoridades intervirão se a situação se complicar.
Por outro lado, a partir de um grande número de dados, nós pensamos que uma alta rápida dos preços resulta em geral de uma exuberância irracional estimulado por manobras fraudulentas. Os que faziam essa exuberância não pensavam nos lucros que poderiam obter se as autoridades interferissem para sustentar a economia e o crédito (ou nos casos extremos para salvar bancos ou empresas). Foi apenas um elemento menor da euforia que antecedeu a crise de 2007-2009: aqueles que vendiam a preços proibitivos obtinham lucros e os compradores “sabiam” que eles estavam fazendo a escolha certa, mesmo quando não era o caso.
A relutância em admitir a necessidade de uma intervenção imediata no caso de crise financeira revela uma escola de pensamento econômico que não leva em conta a exuberância irracional que eu analiso em outro ponto. Ela ignora o marketing agressivo e outras realidades dos mercados de nossa era numérica que nós examinamos em ‘Phishing for Phools’. Seria o mesmo que dizer que podemos viver sem bombeiros porque que sem eles as pessoas seriam mais prudentes e assim não haveria incêndio.
Nós determinamos já há muitos anos o que se passa quando se deixa uma epidemia financeira se espalhar sem intervir. Nossa análise mostra, com pesar para todos, que além das forças naturais endêmicas que tornam o sistema financeiro altamente volátil, quando uma crise financeira ameaça, as autoridades orçamentárias e monetárias devem reagir rapidamente e energicamente. Não se deve voltar para a Idade Média!
Jornal do Brasil