Cresce pessimismo de pequeno empresário para o curto prazo
Mais de um quarto dos pequenos e médios empresários brasileiros não prevê qualquer oportunidade para ampliar seus negócios atualmente, segundo uma pesquisada da seguradora Zurich e da agência GfK feita neste ano com 200 executivos do País.
Outra pesquisa nos mesmos moldes, realizada em 2013, apontava menor mau-humor: apenas 5,6% dos entrevistados disseram não vislumbrar oportunidades para suas empresas, contra os 27,5% de 2014. De acordo com o estudo, a perspectiva de crescimento para PME no Brasil foi a pior entre os 19 países apurados e o índice de pessimismo ficou à frente, inclusive, da média do levantamento, de 18%.
Para especialistas ouvidos pelo DCI, a baixa expectativa dos pequenos está relacionada, principalmente, à estagnação da atividade econômica.
“É uma depressão econômica. Se o País não cresce, o empresário não vislumbra mercado. De todos os problemas, esse é o mais terrível”, afirmou o professor de economia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Celso Grisi.
O levantamento deste ano, realizado com 3.800 executivos de pequenas e médias empresas, aponta que o pessimismo do empresariado brasileiro também está à frente dos vizinhos sul-americanos ouvidos. Na Argentina, 14% dos entrevistados disseram não vislumbrar oportunidades para os negócios e no México, somente 8%.
“A regra, para qualquer setor brasileiro, é a estagnação, quando não a retração econômica. Esse pessimismo do brasileiro está baseado nas perspectivas que ele tem para seu próprio mercado”, observou Mauro Rochlin, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Falta de demanda
A pesquisa também questionou os entrevistados sobre os principais riscos vislumbrados para os negócios e a opção assinalada por 27,5% deles foi a falta de demanda por parte dos clientes ou excesso de estoques.
Segundo os especialistas, a preocupação também é reflexo do momento econômico e segue na esteira do pessimismo. “Essa preocupação vai continuar e deve piorar. Sem crescimento, sem mercado, o empresário fica avesso a investir, a tomar riscos”, explicou Grisi.
Para o sócio diretor da RC Consultores, Paulo Rabello de Castro, o governo é o principal responsável pela deterioração do caixa das empresas, principalmente pela alta carga tributária e a baixa confiança passada. “O governo se coloca sendo um agente solucionador, quando ele é na verdade o agente destruidor”, afirmou.
A segundo opção assinalada pelos executivos foi a competição elevada e o dumping de preços afetando as margens comerciais – quando uma empresa força os preços para baixo para prejudicar e eliminar a concorrência, para, em seguida, elevá-los novamente. Dos entrevistados, 25,5% disseram temer o problema.
Salários infrutíferos
Entre as medidas adotadas pelas PMEs nos últimos 12 meses que antecederam a pesquisa, realizada ao longo do primeiro semestre deste ano, 40% dos empresários disseram ter aumentado o salário de seus funcionários no período.
De acordo com Grisi, entretanto, ao aumento de salário não resultou em um aumento de produtividade das firmas, representando pouco ganho tanto para o funcionário quanto para o empresário.
“No caso do funcionário, o reajuste é corroído pela inflação”, observou o professor. “Para o dono da firma, o aumento salário não se traduz em aumento de produtividade, pois não há investimento. O empregado ganha mais para fazer a mesma coisa, na mesma quantidade”, completou.
Segundo a pesquisa, no México, apenas 21,5% das PMEs ouvidas subiram os salários e, na Argentina, somente 20,5% tiveram reajustes. Na Europa, os empresários gastaram ainda menos com a folha: na média, somente 11,4% das empresas subiram o vencimento dos empregados – na Espanha, o índice foi de 5,5% e na Itália, 4,5%.
Apesar de grande parte dos entrevistados dizer ter aumentado o salário, cresceu o número de empresários que afirmaram ter reduzido os vencimentos de seus funcionários. Em 2013, apenas 4,4% disseram ter implementado a medida, enquanto neste ano, 10% dos executivos o fizeram.
Para Castro, o corte de gastos deve seguir sendo uma tendência no futuro. “O empresário deve cortar mais custos para tentar recuperar a margem. Para ele, é interessante manter o funcionário, porque teve despesas para treiná-lo e teria mais gastos para treinar outros. Mas precisa reduzir os salários”, disse.
Cenário global
Embora o Brasil tenha mostrado pessimismo com os negócios na pesquisa, segundo o presidente Mike Kerner, CEO de Seguros Gerais do Grupo Zurich, os pequenos foram afetados em todo o mundo. “As PMEs foram as mais atingidas pela crise financeira mundial, que afetou sua capacidade de crescer”.
Para David Colmenares, CEO de Seguros Gerais da Zurich no Brasil, a pesquisa é uma forma de ajudar o mercado. “Este é o segundo ano consecutivo que o Brasil participa desta pesquisa, representado por 200 empresas”, afirmou o executivo.
Além de apontar o Brasil como o país onde os pequenos têm a pior perspectiva de crescimento, a pesquisa também mostra que o Brasil como o país que onde o interesse das PMEs por exportação é o menor do mundo. Apenas, 5,5% indicaram a prática como uma oportunidade considerável, redução de 2,1 percentuais em relação a 2013, quando registrou 7,6%.
DCI