Correção do IR pode gerar cortes no Legislativo
Governo estuda tirar recursos também do Judiciário para compensar perdas. Equipe de Dilma planeja ainda destinar receita de cerca de R$ 1 bi que terá com o aumento de impostos de bebidas.
O governo enfrenta dificuldades para encontrar fonte de recursos para corrigir em 4,5% a tabela do Imposto de Renda na fonte e analisa a possibilidade de fazer cortes no Legislativo e no Judiciário para fechar a conta de cerca de R$ 1,6 bilhão em 2011.
Além desses cortes, a equipe da presidente Dilma planeja destinar a receita extra de cerca de R$ 1 bilhão que terá em razão do aumento de impostos de bebidas- água mineral, cerveja e refrigerantes- decidido anteontem.
O atraso na definição, contudo, está rendendo uma economia ao governo. Se tivesse feito a correção desde janeiro, o gasto do Tesouro Nacional ficaria na casa dos R$ 2,2 bilhões.
O Planalto previa baixar medida provisória sobre o tema no mês passado, após a aprovação do salário mínimo de R$ 545, mas justificou a demora por conta da dificuldade em encontrar recursos para bancar o gasto. Os ministérios da Fazenda e do Planejamento anunciaram um bloqueio orçamentário de R$ 50 bilhões.
A orientação de Dilma é que a correção passe a vigorar a partir de abril, o que vai gerar uma economia em torno de R$ 540 milhões.
A medida deve definir ainda uma correção de 4,5% na tabela nos três anos seguintes, percentual equivalente à meta de inflação definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).
Os sindicalistas defendiam um reajuste maior em 2011, de 6,64%, variação do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) no ano passado. Dilma, porém, rejeitou a reivindicação.
A decisão de não atender o pedido foi tomada devido à necessidade de promover cortes no Orçamento para auxiliar o BC na tarefa de combater a inflação em alta.
ANÁLISE
“Fogo amigo” na economia obriga Dilma a intervir e apaziguar clima na equipe
O medo de perder o controle sobre a inflação gerou a primeira crise na equipe econômica do governo Dilma Rousseff. A dificuldade em orientar as expectativas do mercado financeiro expôs o Banco Central, deixou o Ministério da Fazenda sob ataques do fogo amigo e obrigou a presidente a romper o silêncio para reafirmar publicamente o controle de preços como prioritário na gestão.
As declarações de Dilma, dadas ao jornal “Valor Econômico”, tentam colocar a casa em ordem num momento em que cresciam no mercado questionamentos sobre a atuação do BC e, nos bastidores do governo, surgiam boatos sobre insatisfações da presidente com o ministro Guido Mantega (Fazenda).
Segundo a Folha apurou, o clima ficou ruim por causa da publicação de notícias destacando a força que Tombini estaria conquistando dentro da equipe econômica. Mantega não gostou. Tombini soube e tratou de ligar para o colega de ministério e para a presidente e acabar com qualquer constrangimento.
À frente do BC há três meses, Tombini faz questão de demonstrar que tem perfil bem diferente do antecessor.
Avesso a reuniões restritas a investidores considerados formadores de opinião, contrariou interesses ao bancar um aumento dos juros de 0,5 ponto percentual, em vez do esperado 0,75 ponto.
Também deixou claro que a taxa de juros não será o único instrumento para o controle da inflação e que lançará mão de outras medidas de contenção do crédito.
Assessores próximos ao ministro da Fazenda identificam o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) como o maior crítico de Mantega dentro e fora do governo.
Apesar das divergências econômicas, Palocci evita a imagem de que está em atrito. Mas ele e Dilma consideraram infelizes as afirmações de Mantega de que o ajuste fiscal não tem como objetivo maior combater a inflação.
Avaliaram que foi uma negação ao fato de que a alta da inflação também está relacionada ao aquecimento da demanda interna.
As divergências não são encaradas como um problema pela presidente, que não gosta de ver o debate interno ganhar o noticiário e ser alimentado por sua equipe.
* Folha de São Paulo