Contracheque inicial mais gordinho
Pela primeira vez em um semestre, salário médio de admissão supera os R$ 1 mil – Maiores aumentos estão concentrados em funções que exigem menor escolaridade – Negociações salariais e criação de mais oportunidades de trabalho contribuem para alta.
O contracheque inicial dos trabalhadores joinvilenses está ficando maior. Quem foi contratado no primeiro semestre recebeu R$ 1.007,23, em média, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). É 10,56% a mais do que no mesmo período de 2011. Pela primeira vez em um semestre, o rendimento médio é superior a R$ 1 mil. No Brasil, o reajuste médio foi de 5,9%.
Reajustes salariais acima da inflação, seja nas negociações ou pelo aumento do piso estadual, e a continuidade na criação de novas oportunidades de trabalho, embora em ritmo menor do que no ano passado, explicam a alta. “Ao mesmo tempo, é motivo de otimismo e preocupação”, destaca o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Álvaro Lima Cardoso. Ele aponta que houve um ganho real notável. Nos 12 meses encerrados em junho, o INPC – referencial para o reajuste dos salários – variou 4,9%.
“É um sinal de que a demanda por mão de obra ainda é grande na região. Apesar da estagnação da economia, da situação frágil em que a indústria vive, podemos nos dizer otimistas com relação ao futuro do mercado de trabalho nesse quesito. A criação de empregos desacelerou, mas nem por isso ela está deixando de acontecer”.
O economista alerta para outro fator: os maiores aumentos salariais estão ocorrendo entre os trabalhadores com ensino fundamental completo e médio, sinal de que a qualificação da mão de obra não está sendo tão valorizada quanto antes.
Segundo os dados do Caged, o maior reajuste nos salários médios iniciais ocorreu entre os trabalhadores do setor de comércio e prestação de serviços, com 13,9% de aumento nos seis primeiros meses do ano. Entre os profissionais de cargos executivos, com exigência de ensino superior completo, o salário inicial cresceu, em média, 7,3% com relação ao mesmo período do ano passado – o menor índice entre as categorias analisadas.
“A maioria esmagadora dos empregos que estão sendo gerados em Joinville e em todo o País se concentra entre os trabalhadores que ganham até dois salários mínimos. E isso é bom por um lado, porque coloca no mercado de trabalho quem até então teve poucas condições financeiras. Mas também dá menos chances para que profissionais qualificados sejam reconhecidos”, afirma.
Mínimo regional
Para o consultor Patrício José Korbes, que analisa o comportamento do mercado de trabalho em Joinville, outro fator que influenciou no aumento dos salários iniciaisna cidade foi o reajuste do mínimo regional, com um acréscimo médio de 10,05%. “Com o mínimo catarinense subindo acima do que era esperado, os acordos coletivos de diversos setores acabaram sendo puxados para cima.”
Segundo semestre vai ser mais contido
O presidente da seccional joinvilense da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Pedro Luiz Pereira, projeta aumentos menores para o segundo semestre.
“Ainda que os salários iniciais tenham aumentado consideravelmente no primeiro semestre, os empresários devem continuar pisando no freio até o final do ano. O cenário está muito nebuloso ainda para pensar em um crescimento acelerado novamente. Os salários aumentaram porque há falta de mão de obra na região, e por isso as empresas estão tentando valorizar quem elas contratam”, afirma.
Outra tendência apontada por Pedro é que a aproximação dos salários entre trabalhadores do setor de serviços e o de assistentes e especialistas deve ser ainda maior nos próximos meses. Segundo ele, o que está acontecendo aqui acontece em países desenvolvidos há anos. “Em alguns casos, um operário ganha mais do que um assistente administrativo, por exemplo, porque a demanda é muito maior nesses setores. O mesmo já está ocorrendo com profissionais como costureiras, garçons e outros trabalhadores que atuam na prestação de serviços.”
O consultor Patrício Korbes aponta também que as eleições municipais em outubro tendem a tornar o ritmo de investimentos mais contido. Segundo ele, é comum em anos eleitorais haver uma retração nos investimentos e, consequentemente, a geração de menos empregos.
* A Notícia