Caixa das empresas ‘resiste’ a alta do dólar
As empresas brasileiras estão mais preparadas para enfrentar a turbulência cambial.
Estimuladas pelo real valorizado e pelos juros baixos no exterior, as companhias aumentaram a fatia da dívida em moeda estrangeira desde 2011. A boa notícia é que o caixa delas é mais do que suficiente para honrar o cronograma de vencimentos.
Levantamento da consultoria Economatica, feito a pedido da Folha, mostra que as empresas de capital aberto tinham R$ 105,9 bilhões em dívida em moeda estrangeira ao fim do segundo trimestre.
O valor é menor do que os recursos disponíveis em caixa, que somavam R$ 106,3 bilhões no mesmo período.
“As empresas conseguem pagar suas dívidas com o que têm em caixa. Estão em uma situação confortável”, diz Einar Rivera, da Economatica.
A moeda americana, que já chegou a subir 18,6% ante o real neste ano, ainda acumula alta de 11,5%, em um movimento global de ganho do dólar devido à expectativa de que o BC dos EUA vai retirar, nos próximos meses, parte do programa de estímulo.
O levantamento considera 108 empresas com dívidas em moeda estrangeira divulgadas segundo os padrões da CVM, excluindo a Petrobras.
No caso da estatal, a situação é menos confortável. Sozinha, a Petrobras tem R$ 73 bilhões em caixa, mas a dívida em moeda estrangeira soma R$ 174,5 bilhões.
No entanto, no curto prazo, o caixa é quase quatro vezes maior do que os R$ 15,1 bilhões em dívida em moeda estrangeira.
Antes da crise de 2008, as empresas tinham em média 42,4% de sua dívida em moeda estrangeira. Esse percentual foi caindo aos poucos e atingiu o mínimo de 27,9% em 2011. No segundo trimestre deste ano, estava em 33,1% (veja ao lado).
“A crise de 2008 trouxe ensinamentos para o mercado. Hoje, a maioria das empresas tem liquidez para enfrentar a volatilidade do câmbio, mas há exceções”, disse Fernando Caio Galdi, da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).
“As empresas que acessam o mercado internacional aproveitaram para fazer empréstimos com taxas baixas por prazos maiores. Mesmo com o risco cambial, o custo do empréstimo no exterior é mais baixo. No longo prazo, fica mais fácil administrar esse risco”, disse Otto Nogami, professor do Insper.
LONGO X CURTO PRAZO
As empresas também foram mais cautelosas na gestão de sua dívida. Na média, a parcela com vencimento em até um ano representa 17,6% do total da dívida externa.
Uma das exceções é o Grupo Rede, distribuidora de energia em recuperação judicial, que tinha R$ 3,4 bilhões em caixa –menos que a quarta parte da dívida de R$ 15,4 bilhões de curto prazo.
O caixa da MMX, empresa de mineração de Eike Batista, de R$ 451,3 milhões, cobria menos que a metade da dívida de R$ 963,7 milhões.
A Heringer, empresa de fertilizantes, tinha R$ 424 milhões em caixa, mas a dívida de curto prazo em moeda estrangeira somava R$ 954 milhões em junho.
Folha de S. Paulo