Bovespa volta ao nível de 2009 com liquidação de emergentes após Fed
O nervosismo dominou os mercados nesta quarta-feira após o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, dizer o que os investidores insistiam em não ouvir há semanas: a economia americana está crescendo. A autoridade monetária deixou claro que pretende iniciar a redução do programa de recompra de títulos ainda neste ano e concluí-lo no ano que vem, se a economia continuar dando sinais de que está em forte recuperação.
O Ibovespa terminou em baixa de 3,18%, aos 47.893 pontos, depois de marcar mínima nos 47.838 (-3,29%). Trata-se do menor nível da bolsa brasileira em mais de quatro anos, desde 30 de abril de 2009 (47.289). Agora, o índice acumula perdas de 10,5% no mês e de 21,4% no ano. O volume financeiro foi forte, de R$ 8,693 bilhões.
O estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, avalia que o comunicado do Fed passou o recado de que “está tudo bem com a economia americana”. “A primeira impressão foi que o Fed está bem otimista. As projeções de crescimento da economia e emprego divulgadas mostraram isso”, afirmou o especialista.
Um ponto que chamou a atenção, segundo Gala, foi o aumento na divergência entre os membros do comitê, com o voto contrário de James Bullard. Desde setembro de 2011, o Fed não registrava dois votos contrários a uma decisão de política monetária. “Agora temos a Esther George e o Bullard mais ‘vocal’, ou seja, explicitando suas divergências. Vamos aguardar a fala de Bernanke para ver se ele traz alguma informação nova”, acrescentou Gala.
O especialista observou ainda que Bernanke “deu de ombros” para o mercado. “Ficou muito clara a falta de preocupação dele com o comportamento dos mercados. E o Fed também ignorou completamente os emergentes.” Na avaliação de Gala, o Fed focou exclusivamente no desempenho da economia americana, dando sinais de que o país está evoluindo bem e que a retirada do programa de compra de títulos deverá acontecer ao longo do ano que vem.
Para o estrategista da Futura Corretora, Luis Gustavo Pereira, Bernanke “sinalizou o que grande parte do mercado não queria ouvir”, daí a reação nervosa nas bolsas e nas moedas, especialmente em países emergentes.
“O cenário do Fed para a economia americana está mais positivo. Para os emergentes, o cenário não mudou. Mas a melhora dos Estados Unidos vai implicar em uma migração de capitais dos emergentes para o mercado americano”, acrescentou Pereira. “Está havendo uma liquidação nos emergentes. É um movimento sem discernimento”, completou Gala.
Para o diretor técnico da Apogeo Investimentos, Paulo Bittencourt, a queda da bolsa brasileira pode abrir oportunidades de compra. Gestores vinham comentando que essas possibilidades estavam surgindo já em meados de maio, quando começaram vendas mais fortes de ações brasileiras, e agora o quadro piora e se consolida.
Bittencourt considera que a queda do Ibovespa hoje é um estresse momentâneo, que pode ter disparado ordens técnicas de venda. Para ele, a tendência é de recuperação e o nível atual do índice, um pouco abaixo dos 48 mil pontos, pode se revelar um bom ponto de entrada para quem desejar montar uma carteira que dure até 2014.
Na visão dele, Bernanke azedou os humores nesta tarde ao fazer a primeira sinalização de que as medidas de afrouxamento monetário podem ser gradualmente retiradas mas, na verdade, boa parte do mercado já trabalhava com essa projeção. “Ele sinalizou que a economia dos Estados Unidos pode não estar mais precisando respirar por aparelhos”, afirmou.
Para o Brasil, há a agravante do cenário local desfavorável. Ele lembra que, no Brasil, os investid ores não fazem outra coisa além de desconstruir expectativas que foram montadas dos 56 mil pontos de novembro do ano passado aos 63 mil pontos de janeiro deste ano. Como foram constantemente desapontados, os aplicadores foram vendendo suas posições.
Entre as ações de maior peso no Ibovespa, Vale PNA recuou 2,06%, a R$ 28,50, enquanto Petrobras PN caiu 3,53%, a R$ 17,20. OGX ON despencou 15,21%, para R$ 0,78, e liderou as perdas do índice. Na sequência das maiores baixas apareceram outras empresas do grupo de Eike Batista: LLX ON (-11,2%) e MMX ON (-8,08%). Uma nova rodada de rumores, desta vez dando conta de que o grupo EBX estaria preparando uma renegociação de dívidas, pressionaram as ações “X” durante o dia todo, antes mesmo da decisão do Fed.
Klabin PN (-5,21%) também registrou queda expressiva. O Goldman Sachs rebaixou a recomendação das ações para venda. Segundo o banco, o motivo é o risco relacionado à oferta de R$ 1,7 bilhão em units proposta pela empresa para financiar, em parte, a construção de uma fábrica no Paraná.
As ações ON da BM&FBovespa terminaram em baixa de 6,94%. Reportagem do Valor informou que a Americas Trading System Brasil (ATS Brasil) protocolou ontem na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) um pedido para lançar uma nova bolsa de valores no país. A iniciativa representa uma mudança no plano inicial da empresa, que era de operar apenas uma plataforma de negociação.
Apenas quatro ações do índice resistiram à tempestade em alta: Fibria ON (0,67%), Vanguarda Agro ON (0,26%), Braskem PNA (0,25%) e Duratex ON (0,14%).
Valor Econômico