Belluzzo: câmbio valorizado desde Plano Real minou indústria
Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, a valorização do real frente ao dólar desde o Plano Real foi um “erro crasso”, que, ao ser utilizada para evitar a inflação, acabou por prejudicar o desenvolvimento da indústria nacional e “expôs o Brasil a uma competição internacional que mudou de natureza nas últimas décadas e apresenta uma agressividade inédita”. Um dos efeitos do câmbio valorizado é o incentivo às importações (que ficam mais baratas) e o desestímulo às exportações (que ficam mais caras).
– Nunca vi um exemplo de economia em desenvolvimento que tenha crescido ao manter a taxa de câmbio valorizada por 20 anos – declarou.
As críticas foram feitas por Belluzzo durante a audiência pública que a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado realizou nesta terça-feira (25), a pedido dos senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e Eduardo Suplicy (PT-SP).
Ao lembrar que o câmbio foi utilizado sistematicamente para estabilizar a inflação desde 1994, o economista disse que, “se houve uma herança do governo de 1994 [de Fernando Henrique Cardoso] para o de Lula, foi essa”.
No início da audiência, Belluzzo fez uma análise histórica e afirmou que, a partir da década de 1980, houve um processo de reconfiguração da indústria manufatureira mundial que resultou, entre outras consequências, na concentração da produção industrial no Sudeste Asiático, principalmente na China.
– Hoje a China exporta para o resto do mundo mais que os 27 países da União Europeia – frisou.
Mas, segundo ele, “o Brasil andou na contramão, pois, nesse mesmo período, não teve políticas industriais ativas nem câmbio favorecido”. Por causa disso, argumenta, o país perdeu “importantes elos” de cadeias produtivas essenciais.
– Tivemos desindustrialização. Pois desindustrialização não significa apenas que perdemos setores, mas também que não avançamos em novos setores que hoje são a vanguarda da estrutura industrial no mundo – ponderou.
Ao explicar por que o setor industrial é fundamental, Belluzzo destacou que esse setor “não é apenas um conjunto de fábricas, mas um sistema de relações” que envolve da agroindústria a segmentos da área de serviços, como o setor financeiro e o setor de transportes. Ele observou que, no ano passado, a atividade industrial registrou queda em todos os trimestres e a economia cresceu apenas 0,9%, “puxada por um setor, o de serviços, que não tem força suficiente para generalizar o crescimento para outros setores”.
– O setor industrial é o elo dinâmico da economia. Ou os chineses, com todos os seus investimentos na indústria, são idiotas? – questionou, reiterando que “o peso da indústria no crescimento brasileiro sempre foi muito alto”.
Sucessão de erros
Além disso, Belluzzo argumenta que a valorização do câmbio deu início a uma sucessão de erros na política econômica do país: com o real valorizado prejudicando a indústria nacional (seja porque aumenta o custo dos insumos ou porque prejudica as exportações), o governo concede uma série de desonerações tributárias, “para permitir um mínimo de competitividade”. Mas, assinala, isso fragiliza o sistema fiscal.
– E aí quebra-se o outro pé da política econômica, que é o superávit fiscal – pontua.
Com a fragilização da situação fiscal, prossegue o economista, a política monetária passa a ser “sobreutilizada”: quando as pressões inflacionárias ameçam a economia, o Banco Central aumenta a taxa básica de juros, que aumenta o custo da dívida pública. No entanto, lembra ele, o superávit fiscal tinha justamente a função de diminuir ou evitar o aumento da dívida pública.
– Esses são os efeitos de uma sucessão de equívocos da política econômica, que deixaram a descoberto o setor industrial – lamentou.
Agência Senado