BC reduz depósito compulsório e bancos poderão ofertar R$6,5 bi a mais em crédito
Em meio a uma retomada gradual da atividade econômica e queda no volume de empréstimos por empresas, o Banco Central modificou a quantidade de dinheiro que os bancos devem manter na instituição numa tentativa de tornar o crédito mais barato e reduzir custos de instituições financeiras.
Os bancos poderão reduzir em R$ 6,5 bilhões os depósitos compulsórios a partir de 26 de dezembro, produzindo pleno efeito na economia do país a partir de 2 de janeiro, segundo o BC. A autoridade monetária informou que a decisão “segue as políticas de simplificação do recolhimento compulsório e de redução gradual da complexidade operacional existente.”
A alíquota de recolhimento de depósitos compulsórios sobre recursos à vista caiu para 40%, ante 45%, enquanto a alíquota sobre recursos a prazo foi reduzida a 34%, ante 36%.
Trata-se da primeira mudança de compulsório adotada pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, com efeito no mercado de crédito. Ontem, 19, ele afirmou que trabalhará os depósitos compulsórios, mas não como instrumento de política monetária.
Os depósitos compulsórios representam uma das ferramentas à disposição do BC para regular o funcionamento e saúde dos bancos, além de influenciar na quantidade de dinheiro em circulação e ritmo do crédito a famílias e empresas.
Depois de ultrapassar dois anos em recessão, a economia brasileira deve registrar um crescimento de 0,96% neste ano, segundo economistas consultados pelo BC semanalmente na pesquisa Focus.
O mercado, porém, passou a desconfiar da capacidade de o Brasil manter o crescimento econômico depois que o governo perdeu a batalha pela aprovação da reforma da Previdência ainda neste ano. A mudança é vital para que as contas públicas fechem em 2019, mas sua votação foi adiada para fevereiro do ano que vem, meses antes do início da campanha eleitoral em que deputados e senadores se empenharão na busca de votos.
Amanhã, 21, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tentará convencer agências de classificação de risco de que fariam bem em aguardar a votação da reforma antes de rebaixarem a nota de crédito do país.
No início do ano, o Banco Central anunciou que faria deduções de compulsórios no valor de R$ 28 bilhões. O calendário previa que em dezembro deste ano, essas deduções seriam reduzidas à metade, ou seja em R$ 14 bilhões.
Com as mudanças de alíquotas de depósito anunciadas ontem, o volume liberado na economia compensou as reduções previstas e liberou mais R$ 6,5 bilhões na economia.
O calendário que envolve as deduções de compulsórios continua valendo e prevê que em dezembro de 2019 essas deduções seriam zeradas.
Mudanças no copom
O BC também publicou um novo regulamento nesta terça-feira, definindo que o Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pela definição da taxa básica de juros, não adotará mais viés em suas decisões, eliminando a possibilidade de alterações na Selic entre uma reunião e outra do colegiado.
O instrumento caiu em desuso com a consolidação do sistema de metas de inflação nos últimos anos. A última vez que o Copom adotou viés em sua decisão foi em março de 2003, mas não chegou a modificar a taxa entre uma reunião e outra. O registro mais recente de alteração da Selic por viés ocorreu em julho de 2000.
O regulamento também elimina a obrigatoriedade de as reuniões do Copom ocorrerem às terças e quartas-feiras, como de costume, e retoma a nomenclatura de “Ata do Copom”, para o documento elaborado durante a reunião do comitê.
A modificação visa a tornar o calendário mais flexível, em casos de conflitos de viagens e outros compromissos internacionais dos diretores e mudanças no calendário poderão ser solicitadas até o último dia útil do ano anterior, informou a assessoria do BC.
As reuniões tendem a continuar ocorrendo num intervalo em torno de 45 dias, com um mínimo de oito encontros por ano, de acordo com o texto do regulamento do Copom publicado ontem.